Horizontes menos planos

Esforço coordenado

UFMG se mobiliza em múltiplas frentes para apoiar população e territórios atingidos por rompimento da barragem em Brumadinho

Professores, estudantes e técnicos da UFMG, de áreas como direito, medicina, engenharia, psicologia, veterinária e educação, mobilizaram-se desde os primeiros momentos após o rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, para prestar assistência à comunidade e colaborar com o poder público. A barragem de rejeitos rompeu-se no último dia 25 e deverá provocar mais de 300 mortes, segundo estimativa da última semana, e grande devastação ambiental.

Dirigentes e pesquisadores têm-se reunido para organizar a atuação da Universidade, que prevê ações de curto, médio e longo prazos, em múltiplas frentes. Essa mobilização tira proveito da experiência do programa Participa UFMG Mariana-Rio Doce, que reuniu dezenas de pesquisadores para fazer frente ao impacto do desastre provocado pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, há pouco mais de três anos.

“Estamos à disposição da sociedade em mais este momento trágico. É nosso papel de instituição pública dotada de recursos técnicos e humanos de excelência”, afirmou a reitora Sandra Regina Goulart Almeida. A pró-reitora de Extensão, Claudia Mayorga, tem destacado a preocupação da Universidade em atuar alinhada com princípios éticos e de respeito aos direitos humanos. “Estamos unindo o que temos de melhor, articulando saberes. E somos cuidadosos na aproximação, atentos ao luto da comunidade”, disse.

Banco de informações
Logo após o rompimento da barragem, a UFMG ofereceu a estrutura dos hospitais das Clínicas e Risoleta Tolentino Neves. Em poucos dias, já organizava um banco de informações sobre profissionais e estudantes que poderiam ser acionados para necessidades diversas. A instituição também tem oferecido transporte para as equipes que têm atividades in loco. E estão sendo previstas ações mais duradouras de grupos temáticos. Pesquisadores da Escola de Engenharia, por exemplo, alimentam o debate sobre soluções para substituição de barragens de rejeitos ultrapassadas e de alto risco e as possibilidades de aproveitamento desses rejeitos em benefício da sociedade.

Um dos primeiros núcleos da UFMG a chegar a Brumadinho foi o Polos de Cidadania, vinculado à Faculdade de Direito. Cerca de 20 integrantes estão prestando, a famílias e entidades, apoio jurídico, social, psicológico, ambiental e na área da comunicação. 

A experiência com populações em situação de conflito socioambiental e atingidas por tragédias como a de Brumadinho ajuda a identificar rapidamente as violações de direitos. “Junto com o tsunami causado pelo rompimento da barragem em si, vem a falta de informação, cuidado e transparência”, relata o professor do Departamento de Psicologia André Freitas Dias, um dos coordenadores do programa de extensão. A equipe do Polos trabalha em parceria com a organização Abrace a Serra da Moeda, o núcleo de gestão social da PUC Minas e a OAB/MG, entre outros. De acordo com o coordenador, o apoio psicológico segue diretrizes estabelecidas pelas entidades de classe para situações de tragédia.

Animais

Ricardo Stuckert / Fotos Públicas / Creative Commons Atribuição Não Comercial 2.0 Genérica
O resgate de animais é uma das frentes de trabalho em Brumadinho
Ricardo Stuckert / Fotos Públicas / Creative Commons Atribuição não comercial 2.0 genérica

Professores e residentes da Escola de Veterinária estão envolvidos com o resgate e o tratamento de animais na área atingida. A unidade envia médicos veterinários, remédios e material e mantém seu hospital, localizado no campus Pampulha, pronto para receber animais feridos. O trabalho é realizado em parceria com a brigada do Conselho Regional de Medicina Veterinária, que conta com alunos da Escola.

Os profissionais da UFMG participam de todas as fases da ação, desde a avaliação da viabilidade do resgate até a decisão sobre a necessidade da eutanásia.“Há cuidados especiais em aspectos como a sedação e o içamento dos animais. Quando é preciso recorrer à eutanásia, o procedimento segue a legislação que garante o mínimo sofrimento”, explica a diretora da Escola de Veterinária, Zélia Lobato. A unidade enviou ao local um ônibus equipado para pequenos procedimentos, inclusive cirúrgicos.

A experiência pós-desastre de Mariana também inspira os planos do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação do Campo, da Faculdade de Educação. Em situações como essa, o grupo trabalha para atenuar problemas enfrentados por pessoas que perderam terras e acesso à água. 

“Apoiamos o processo de reconstrução dos modos de produção e reprodução da população do meio rural. Muitas vezes crianças e jovens atingidos por desastres perdem também as escolas, que têm papel crucial no campo, para garantir a permanência no território”, explica Izabel Antunes, coordenadora do Núcleo. Segundo ela, as pesquisas e a intervenção do grupo contribuem para preparar gestores e professores para receber os jovens deslocados de suas regiões, cujas famílias foram destituídas de suas atividades de subsistência.

Até 15 de fevereiro, a Pró-reitoria de Extensão cadastra representantes de instituições e movimentos sociais interessados em integrar o Programa Participa UFMG-Brumadinho. O objetivo é organizar a cooperação em benefício da população e do território atingidos pelo desastre. O cadastramento é feito por meio de formulário eletrônico. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail participaufmg@ufmg.br.

Itamar Rigueira Jr.