De volta para casa
Cães resgatados em Brumadinho recebem tratamento e passam por cirurgias no Hospital Veterinário
Sob a responsabilidade das professoras Suzane Beier, Christina Malm e Marcelo Pires Nogueira de Carvalho, a equipe da Escola de Veterinária que tem atuado em Brumadinho para tratar de animais de pequeno porte e silvestres realizou cerca de 150 resgates desde o rompimento da barragem de rejeitos da Vale, em 25 de janeiro.
Como procedimento padrão, as equipes fazem triagem no local e, quando necessário, encaminham os animais para tratamento no Hospital Veterinário da UFMG, em Belo Horizonte. “Para cada um, é preenchida ficha com os parâmetros vitais e exame clínico. Além disso, eles recebem medicação para endo e ectoparasitas e uma coleira repelente, para prevenir leishmaniose”, explica Raiane Araujo de Moura, residente do Hospital.
Raiane atendeu uma cadela identificada numericamente como 31, resgatada pela Brigada Animal e reencontrada pela família no dia 3 de fevereiro. “Ela foi recolhida nas proximidades de onde ficava o restaurante da Vale, a cerca de 500 metros de distância de sua casa. Como não apresentava alteração de parâmetro vital, não precisou de nenhum tratamento específico. Só recebeu banho e escovagem, porque estava muito suja e com nós no pelo”, relata.
Emoção
Sobre o reencontro com a família, a residente conta que a tutora descobriu que a cadela havia sido resgatada e foi até a base veterinária da Brigada Animal, à sua procura. “Quando ela descreveu o animal, abrimos o local, e a cadela já saiu correndo para pular em cima dela. Reconheceu a tutora na hora. Foi bem emocionante.
Os tutores da cadela relataram que o canil onde ela ficava foi soterrado pela lama, e o animal só sobreviveu porque estava solto no instante do rompimento da barragem. “Eles nos agradeceram bastante. Falaram que perderam familiares e amigos, e a única felicidade que tinham no momento era encontrá-la viva”, completa Raiane.
Entre os mais de 100 cães resgatados e atendidos pelas equipes da Escola de Veterinária, até o momento foram encaminhados para o Hospital Veterinário os animais Duke, Amarelo, Fumaça, Jack e outros sem reconhecimento de nome.
A cadela 06 foi resgatada com duas fraturas, na pelve e no fêmur, sendo a primeira uma lesão antiga, de acordo com a equipe que a examinou. O animal foi encontrado em um quintal com vários outros cães. Após passar pela triagem em Brumadinho, foi submetido a uma cirurgia ortopédica, no Hospital Veterinário, no dia 5 de fevereiro. Ainda sem família localizada, 06 está em estado pós-operatório no canil do Hospital.
Duke e Amarelo chegaram ao Hospital Veterinário diagnosticados com miíase, doença que se desenvolve em razão de ferimentos na pele, e receberam o tratamento sem necessidade de cirurgia. Por meio de exame de raio-X, foi descoberta no animal identificado como 09 uma fratura antiga, que já não causa dor, e, por isso, também não passou por cirurgia.
Magricela (ou 25), também diagnosticada com miíase, perdeu uma orelha devido à doença e, atualmente, está no Hospital Veterinário aguardando uma cirurgia de reconstrução do canal auditivo. Fumaça, que foi resgatada com infecção no útero, submeteu-se a uma cirurgia de piometra e atualmente está em período pós-operatório, no canil do Hospital. E Jack, encontrado com injúria renal aguda, recebeu transfusão de sangue e agora se encontra na UTI do Hospital.
A Escola de Veterinária está atuando em Brumadinho por meio da Brigada Animal desde o dia 28 de janeiro. As equipes de médicos veterinários, residentes e alunos de pós-graduação estão divididas em quatro frentes: grandes animais, animais de pequeno porte e animais silvestres, saúde pública e monitoramento dos animais terrestres e aquáticos ao longo do Rio Paraopeba e na Represa de Três Marias.