Longo caminho a percorrer
Inclusão exige ações centradas na permanência
Subcoordenadora do Programa de Pós-graduação em Antropologia, a professora Andréa Zhouri afirma que a adoção de editais suplementares com vagas para os indígenas é extremamente positiva, mas ainda há muito a ser conquistado. “Estamos no processo, já conseguimos uma política de inserção, o que é um grande avanço. Contudo, ainda precisamos viabilizar a inclusão de fato, o que exige ações centradas na permanência. A bolsa, direcionada prioritariamente para esses alunos por programas como o nosso, é importante, mas insuficiente”, analisa.
Em sua opinião, falta uma política de acolhimento, que transcenda a questão logística, e que deve ser construída em diálogo com os estudantes indígenas. “Há uma imensa diversidade cultural que traz muitas contribuições para a Universidade. Mas o ambiente urbano é completamente estranho à cultura deles, e não somente porque falam outras línguas. A inserção deles é muito difícil nesse mundo novo. A moradia é um exemplo: em um apartamento eles se sentem confinados”, diz a professora.
Além de pensar como a Universidade pode construir um espaço adequado às necessidades desse grupo étnico, é necessário adotar formas de acolhimento também no aspecto epistêmico e pedagógico, afirma Andréa Zhouri. “Esses estudantes têm forte compromisso com seus povos, prezam muito a oportunidade de estar aqui na UFMG e desejam aproveitar ao máximo as possibilidades que o nosso programa tem a oferecer. Mas temos que avançar, para propiciar a eles uma permanência de qualidade”, enfatiza.
“Aqui tem muita coisa diferente, como a alimentação e os costumes, mas vim para tão longe de casa, contra a vontade dos meus pais, porque quero ajudar meu povo”, conta Roque Yaxikma Wai Wai, que elogia a iniciativa da UFMG de aderir ao programa de adoção de cotas para indígenas e quilombolas. “Com isso, estou aqui, e tenho muita coisa para compartilhar”, acrescenta o estudante, que tem como tema de pesquisa Uma etnografia: instrumentos Wai Wai.
Célia Xakriabá afirma que é preciso repensar as formas de apoiar esse corpo indígena que chega às universidades: “Há pessoas que falam que é privilégio entrar por cota indígena, mas temos dito que o processo de colonização não foi privilégio”. As comunidades e lideranças indígenas têm reivindicado, por exemplo, moradia estudantil exclusiva.
Assistência
Mesmo sem considerar o contingenciamento de recursos e o corte de bolsas que ameaçam os estudantes atuais e futuros, os estudantes de pós-graduação já não são contemplados por vários programas de assistência da UFMG. Por isso, os indígenas que entram por meio de editais suplementares não têm acesso a moradia estudantil e a preços subsidiados nos restaurantes universitários.
A pró-reitora adjunta de Pós-graduação, Sílvia Alencar, relata que está em curso uma discussão com a Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), para definição de critérios específicos de análise socioeconômica desse público. “Os critérios atualmente usados, que orientam parâmetros para concessão de diferentes níveis de assistência, foram criados para alunos de graduação.”
Segundo ela, a classificação é usada, por exemplo, por programas de pós-graduação na pontuação para distribuição de bolsas. “O ideal seria que todos os que estão na pós-graduação tivessem bolsa para se dedicarem integralmente aos estudos. Além disso, é preciso encontrar meios para que esses alunos tenham refeições subsidiadas e vagas na moradia. Mas tudo depende de recursos, o que é mais grave nesse momento de cortes”, pondera. Para ela, a diversidade de culturas e saberes na pós-graduação é essencial para o ambiente universitário, e a UFMG incentiva o acesso a populações diversas. “O grande desafio está na manutenção desse público na instituição”, conclui a pró-reitora.