O fator infraestrutura
Pesquisa da UFMG encomendada pela Unesco identifica avanços nas condições de oferta educacional no Brasil, mas revela necessidade de melhorias nas pequenas escolas municipais
Infraestrutura escolar pode ser definida como a condição para oferta educacional, que passa pela estrutura física e pelos recursos e equipamentos que dão suporte ao funcionamento administrativo e ao trabalho pedagógico do professor em sala de aula e em todos os espaços da escola. Mas essa condição não é neutra e, para que seja mensurada, é preciso considerar o contexto cultural, social e econômico da escola e a própria diversidade de sua comunidade.
Com base nessa perspectiva multidimensional, pesquisa coordenada por equipe da UFMG, lançada pela representação brasileira da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), durante webinar (conferência on-line) realizada na última quarta-feira, 31, avalia a qualidade da infraestrutura das escolas públicas de ensino fundamental no país e revela melhora no índice geral, mas com médias ainda baixas nas pequenas escolas municipais.
As coordenadoras da pesquisa, professoras Maria Teresa Gonzaga Alves e Flávia Xavier, do Núcleo de Pesquisa em Desigualdades Educacionais (Nupede), vinculado ao Laboratório de Pesquisa em Avaliação, Análise de Políticas Públicas e Desigualdades Educacionais (LAAPDE), do qual faz parte também o Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais (Game) da Faculdade de Educação, explicam que, mais do que o número de carteiras ou de computadores presentes em cada escola, devem ser levadas em conta as necessidades específicas dos diversos sujeitos que convivem no espaço escolar e participam da construção do processo de ensino e aprendizagem. “Por isso, definir e mensurar infraestrutura escolar em países com tantas desigualdades, como o Brasil, é uma tarefa complexa. Então, propusemos indicadores que contemplassem cada aspecto do ambiente escolar e fossem capazes de captar as diferenças entre regiões, unidades da federação e considerar o território (urbano ou rural) em que a escola está inserida”, pontua Maria Teresa.
Mais do que o número de carteiras ou de computadores presentes em cada escola, devem ser levadas em conta as necessidades específicas dos diversos sujeitos que convivem no espaço escolar e participam da construção do processo de ensino e aprendizagem.
“O estudo prova que o desempenho da aprendizagem dos estudantes é maior quando as escolas são seguras, confortáveis, limpas, acessíveis, convidativas e estimulantes. Nesse sentido, a intenção da Unesco, quando encomendou a pesquisa, foi fornecer aos gestores um guia do que precisa ser melhorado e dos pontos que precisam de maior atenção”, explica a coordenadora de Educação da Unesco no Brasil, Rebeca Otero.
No Brasil, as escolas do 1º ao 9º ano do ensino fundamental da rede pública representam o maior número de estabelecimentos (71,5%) e o maior número de alunos (56,3%), de acordo com o Censo da Educação Básica de 2017. Essa representatividade, segundo a professora Flávia Xavier, justifica o foco do trabalho, que considerou as escolas de ensino fundamental das redes estadual e municipal, que, em muitos municípios, também ofertam ensino médio e educação infantil. As redes privada e federal não foram consideradas – esta última por contar com 47 escolas e representar apenas 0,1% das escolas de ensino fundamental brasileiras.
Múltiplas dimensões
Após ampla revisão da literatura internacional sobre o tema, o estudo apresenta um modelo analítico com cinco dimensões da infraestrutura: a dimensão área, que busca caracterizar onde a escola está localizada (zona urbana/rural, regiões do país); atendimento, que indica as diferentes etapas e modalidades de ensino; condições do estabelecimento de ensino, em que se avalia a qualidade da edificação e dos espaços onde a escola funciona, incluindo indicadores de acesso a serviços públicos, instalações, conservação e conforto do prédio; condições para o ensino e aprendizado, que contempla os espaços pedagógicos e equipamentos de apoio; condições para a equidade, que mensura a acessibilidade e o ambiente de aprendizado para pessoas com deficiência.
A elas estão associadas 23 variáveis discriminantes e 11 indicadores da infraestrutura escolar (acesso a serviço, instalação do prédio, prevenção de danos, conservação, conforto, ambiente prazeroso, espaços pedagógicos, equipamentos para apoio administrativo, equipamentos para apoio pedagógico, acessibilidade e ambiente para atendimento especializado). Além deles, um indicador geral sintetiza todos os indicadores múltiplos.
Na avaliação da professora Maria Teresa, definir um padrão para mensurar a qualidade da infraestrutura escolar do país foi o maior desafio do trabalho. Para facilitar a interpretação dos resultados, os indicadores foram hierarquizados em uma escala de zero a dez pontos. O zero equivale à pior situação em relação aos itens avaliados neste estudo, e o valor 10, à melhor situação. Essa escala foi classificada em sete níveis no indicador geral, mensurando, de forma crescente, desde a existência de água, luz, banheiro e cozinha dentro do prédio da escola até condições que favoreçam um ambiente prazeroso para o aprendizado, como silêncio e jardim, e recursos de acessibilidade. Foram utilizados dados do Censo da Educação Básica de 2013 (com 143.170 escolas), de 2015 (135.939 escolas) e de 2017 (131.604 escolas), e os questionários contextuais do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), referentes a 2013 e 2015, desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).