Em busca de alternativas
Agenda do Seminário de Diamantina se concentra na crise da mineração; debates são pautados pela economia, demografia, história e relações econômicas internacionais
A exploração de minérios se confunde com a história de Minas Gerais. Gera riqueza e empregos, mas tem deixado sequelas. É necessário encontrar soluções não apenas para tornar a atividade menos predatória, mas também para reduzir a dependência de municípios e do próprio estado. O tema da mineração norteia parte significativa das discussões do Seminário de Diamantina, que terá sua 18ª edição na semana de 19 a 23 de agosto, na cidade histórica.
Promovido desde 1982 pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da UFMG, o evento se constitui de debates e apresentações sobre outras questões mineiras, brasileiras e globais, sempre sob a perspectiva de áreas de estudo como a economia, a demografia, a história, as políticas públicas e as relações econômicas internacionais.
É necessário encontrar soluções não apenas para tornar a atividade menos predatória, mas também para reduzir a dependência de municípios e do próprio estado.
“Vamos falar da crise da mineração, de como lidar com ela dos pontos de vista social, econômico, ambiental. Vamos abordar os impactos e as alternativas possíveis”, diz Frederico Gonzaga Jayme, professor da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) e diretor do Cedeplar. “É preciso redesenhar a indústria minerária com uma visão de desenvolvimento econômico sustentável.”
Neste ano, o evento é marcado pelos desastres de Brumadinho e Mariana. “Essas tragédias tornaram ainda mais urgente discutir alternativas tecnológicas. É preciso explorar o minério, mas têm faltado cuidados fundamentais e tecnologias mais seguras”, afirma o professor João Antonio de Paula, coordenador do Seminário.
Colapso iminente
As tragédias recentes serão abordadas pelo professor Bernardo Campolina Diniz, que vai apresentar trabalho realizado no Cedeplar de valoração das perdas da população de Mariana. Os dados já vêm sendo usados em negociações sobre compensações entre os atingidos e a mineradora Samarco. “As perdas econômicas, sociais e de saúde são muito expressivas para os deslocados, que perderam suas casas, fontes de renda e espaços de convivência”, afirma o professor.
Diniz chama a atenção também para o fato de que Minas Gerais não se preparou para o declínio da mineração, que deixará de ser o carro-chefe da economia. “É iminente o colapso econômico e social de alguns municípios, sem falar no passivo ambiental”, diz. Ele questiona também se as empresas estarão dispostas a enfrentar os altos investimentos em tecnologia para tornar a atividade mais sustentável, na medida em que o minério empobreceu em Minas, e a exploração no Pará é mais rentável.
O professor Ricardo Ruiz vai levar a Diamantina números que dão a dimensão do alto grau de dependência de dez regiões minerárias no estado. “Sem contar, por exemplo, com a sorte de Nova Lima, que encontrou um caminho ao atrair a expansão urbana de alta renda de Belo Horizonte, a maior parte dos municípios precisa se esforçar para encontrar alternativas em escala. Minas Gerais perdeu a capacidade de diversificar”, comenta Ruiz.
Saúde e economia popular
Os debates e apresentações do Seminário de Diamantina terão início no dia 21, com a presença da reitora Sandra Regina Goulart Almeida, que vai abordar em conferência o tema Os desafios da universidade em tempos regressivos. Os dois primeiros dias serão dedicados a minicursos, dois deles dirigidos particularmente à comunidade local: um sobre saúde (ministrado em parceria com a Organização Pan-americana de Saúde) e outro sobre economia popular e solidária.
O professor João Antonio de Paula destaca que o seminário se caracteriza, historicamente, por lançar um “olhar para frente”, mantendo diálogo aberto com as comunidades nacional e internacional, e “possibilita atualizar e aferir nossa produção teórica”. É também um espaço de formação de alunos. “Muitos pesquisadores e professores importantes passaram por Diamantina, onde se submeteram a críticas de pessoas experientes e consolidaram o sentido de pertencimento e compromisso com a universidade pública”, diz João Antonio.
O Seminário de Diamantina, tradicionalmente bianual, volta a ser realizado depois de três anos, uma vez que, em 2018, não foi possível reunir recursos suficientes. A saída foi reduzir custos, e o evento é financiado pelo Cedeplar, pelo BDMG, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), pelo Banco do Nordeste, pela Fapemig, pela Capes, pela Organização Pan-americana de Saúde (Opas) e pelo Institute for New Economic Thinking (Inet), do megainvestidor George Soros. “Realizar o seminário é um ato de resistência contra os cortes de verbas e a ofensiva lançada contra as universidades públicas”, afirma João Antonio de Paula.
População e ambiente
Diamantina também receberá, nesta semana, o 5º Seminário nacional população, espaço e ambiente, que vai focalizar os dilemas da sustentabilidade e do desenvolvimento. Vinculado à Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep), o encontro abordará, segundo os organizadores, as “transformações produtivas e na dinâmica urbana, cujos impactos no ambiente ainda não foram mensurados de forma concreta, assim como as mudanças geradas pelo acirramento dos efeitos das mudanças climáticas, pela utilização da terra de forma múltipla e pela ascensão de um discurso sobre sustentabilidade cujos sentidos ainda não foram equacionados pelo poder público nem pelo mercado”.
A programação do evento está disponível no site do 18º Seminário de Diamantina.