Boletim
Tijolo por tijolo
Seguir sempre e mudar quando necessário
O professor Edison Corrêa, que aos 79 anos segue fazendo extensão, baseou sua trajetória na busca por impactos nas comunidades
Ainda no início da carreira, o professor aposentado Edison Corrêa, da Faculdade de Medicina, foi convidado para implantar um projeto de atendimento a crianças e adolescentes em Engenheiro Dolabela, distrito de Bocaiúva, Norte de Minas. Ele nunca ouvira falar do povoado, mas, em dado momento, descobriu que estava a cinco minutos de carro do local onde ficava a comunidade de Granjas Reunidas do Norte de Minas, o arraial onde nasceu em 1942, pelas mãos de sua avó parteira, e de onde saiu ainda muito criança. Visitou o lugar, e a emoção provocada pela coincidência aumentou seu desejo de enveredar de vez pela extensão universitária.
O acaso ajudou, mas nem precisava. “O professor Edison é um apaixonado pela extensão e, por isso, sempre foi capaz de motivar e agregar as pessoas em torno dos projetos. Exerce uma liderança democrática, e sua ação transcende o mero assistencialismo”, afirma a professora Mara Vasconcelos, da Faculdade de Odontologia, que esteve com ele em muitas empreitadas, desde a década de 1980, em um projeto em Sabará. Ela também compôs a equipe da Pró-reitoria de Extensão no segundo mandato de Edison Corrêa à frente da Proex. Ele ocupou o cargo de 1998 a 2006.
Uma das primeiras e mais marcantes experiências do docente extensionista foi no Centro de Saúde Santa Maria, na capital. Ali, ele atuou por 13 anos, com consultas e apoio à creche comunitária e à associação de moradores. “Foi onde aprendi a linguagem do trabalho com a comunidade e comecei a escutar as pessoas sobre suas necessidades e a discutir com elas as soluções”, conta Edison Corrêa.
Fazer extensão, para Edison, é lidar com os problemas da sociedade e trazê-los para dentro da universidade. “Foi-se o tempo dos muros que separam as instituições de ensino do mundo lá fora”, ele sentencia. Uma palavra-chave no manual do professor é “impacto”. “Nosso trabalho precisa contribuir para transformar a vida das comunidades e também a própria universidade”, afirma Edison Corrêa, ressaltando também o valor da interdisciplinaridade e da simbiose da extensão com o ensino e a pesquisa.
Senso de justiça
Edison chegou a Belo Horizonte aos sete anos, depois de passar por diversas cidades mineiras com a família. Com os oito irmãos, frequentou escolas públicas e foi o primeiro a completar um curso superior – formou-se médico na UFMG. Tornou-se professor e, mais tarde, chefiou o Departamento de Pediatria, coordenou instâncias colegiadas e foi diretor da Faculdade. Ao mesmo tempo, manteve clínica própria. Aposentou-se em 2006, e até hoje trabalha no Núcleo de Educação em Saúde Coletiva, o Nescon, onde já ajudou a formar milhares de profissionais de saúde especialistas, aptos a atuar em postos do interior e das periferias.
Casado pela segunda vez, com a psicóloga Patrícia Sousa Lima, Edison tem cinco filhos e cinco netos. Lê – seus prediletos são os clássicos e obras sobre cinema – e assiste a filmes nas pouquíssimas horas vagas. “Gosto muito do trabalho”, ele justifica. “Por isso, sinto tanta falta do convívio pré-pandemia.” O filho Luiz Claudio Corrêa, também médico, confirma: “Ele sempre foi muito dedicado e ficava muito tempo fora de casa. Não à toa, uma das maiores alegrias dos filhos era ir buscá-lo na Faculdade ou no consultório e levá-lo para casa. Outra era assistir a jogos do Atlético no estádio”, recorda. Luiz exalta a capacidade didática do pai – que ele desfrutou em conversas sobre medicina e outros assuntos – e seu senso de justiça.
Edison Corrêa se orgulha de sua temporada como pró-reitor: entre outras iniciativas, apoiou a instituição de centros de extensão e memória, o Internato Rural, a alfabetização de jovens e adultos, e criou a rede dos museus e espaços de ciência da UFMG.
Ele é reconhecido também como um dos organizadores da rede nacional de extensão universitária. “Produzimos documentos de base para consolidar a política de extensão para todo o Brasil”, conta. Mas não se dá por satisfeito: autorizado pela bagagem de quem está no ramo há pelo menos 50 anos, quando se comoveu com uma feliz coincidência no Norte de Minas, ele recomenda que os documentos sejam constantemente atualizados. “É preciso rever e difundir as diretrizes. A memória deve ser lançada para o futuro. Recordar, afinal, serve para isto: seguir sempre e mudar quando necessário".