A primeira turma ainda sequer foi selecionada e as inscrições para o primeiro processo seletivo podem ser feitas até o próximo dia 7 de junho. Mas o curso de letras-libras, o 91º curso de graduação da UFMG, já é um dos diferenciais da Universidade. A criação do curso, aprovada em novembro de 2018 pelo Conselho Universitário da UFMG, atende a uma minoria linguística que não tem o Português como primeira língua e é o desdobramento natural dos esforços da Universidade nessa área, ao longo dos últimos anos. Na primeira turma, que se inicia em agosto de 2019, pelo menos 25 alunos surdos e cinco ouvintes vão fazer história como a primeira comunidade falante de outra língua a se matricular em peso na UFMG.
A garantia da coexistência das duas línguas em uma prova de vestibular é uma das estratégias para assegurar acessibilidade e inclusão. A professora Giselli Mara da Silva, coordenadora do colegiado do novo curso, chama atenção para um dos aspectos que reforçam a exclusão da comunidade surda. “Existem mais de 200 comunidades linguísticas no Brasil, mas predomina entre nós o chamado ‘mito monolinguístico’, que é a ilusão de que todos falam português. Isso é um equívoco muito grande”.
O objetivo da licenciatura especial em letras-libras é formar professores surdos e ouvintes para o ensino básico, que irão lecionar para ambas as comunidades linguísticas, atuando tanto nas escolas especiais quanto nas escolas regulares, com inclusão de deficientes auditivos. Esses profissionais enxergarão, na comunidade surda, a heterogeneidade de “representações culturais e identitárias”, conforme consta no projeto pedagógico do curso. A longo prazo, a expectativa é que a área se profissionalize cada vez mais. “Esperamos que esses profissionais, à medida que se formem em letras-libras, conquistem espaços criados por concursos do Estado e da Prefeitura”, afirma Giselli.
No dia 24 de abril de 2002, a Lei nº 10.436 reconheceu a Libras como “meio legal de comunicação e expressão oficial da comunidade surda”, e dessa forma ela é caracterizada no projeto pedagógico. O Decreto 5.626, de 2005, regulamentou e oficializou o direito à educação das pessoas surdas. A legislação contém exigências como a inclusão da Libras nos currículos dos cursos de Licenciatura e de Fonoaudiologia, além da formação de docentes para o ensino da Língua de Sinais nas séries finais do ensino fundamental e nos ensinos médio e superior.
Giselli Mara destaca que a demanda gerada por esse decreto, que prevê a criação de cursos de Letras-Libras, e a alta concentração de surdos na Região Sudeste reforçam a necessidade de uma graduação separada para essa comunidade. Há pouco mais de 1 milhão de pessoas com deficiência auditiva em Minas Gerais, de acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010. Esse número é o equivalente a cerca de 5% da população, e 1,2% apresenta surdez grave ou severa.
Desde o Decreto 5.626/2005, que estabelece diferentes estratégias para assegurar o reconhecimento da libras como uma língua no Brasil, a demanda de professores para a área aumentou. Essa necessidade social é reiterada pelos dados que embasam o projeto pedagógico da licenciatura especial em letras-libras e que indicam o aumento do número de estudantes das disciplinas da área de libras desde 2010 – primeiro ano em que a Fale ofertou a disciplina fundamentos de libras on-line. Em 2015, a Faculdade recebeu mais de quatro mil pedidos para cursar essa disciplina e, no primeiro semestre do ano seguinte, 2.345 pessoas demonstraram o mesmo interesse.
Atualmente, 1.050 alunos, de todas as áreas do conhecimento na UFMG, participam das atividades on-line e, na modalidade presencial, o curso conta com 35 estudantes, em sua maioria da Fale.
Entre os professores do novo curso da Fale estão professores que se expressam em Libras, mas também por professores que não são fluentes na Língua de Sinais e que contarão, durante as aulas, com apoio de intérpretes do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão da UFMG (NAI).
PARA SABER MAIS
Estrutura curricular https://ufmg.br/cursos/graduac...