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Multifuncionais, dinâmicos e equilibrados emocionalmente
Mercado de trabalho busca profissional capaz de fundir competências técnicas e emocionais, aponta relatório do Banco Mundial
O mercado de trabalho brasileiro passa por acelerado processo de mudanças, motivadas, dentre outros fatores, pela expansão do uso das tecnologias. Por outro lado, também não podemos desconsiderar os efeitos da crise econômica sobre a geração de empregos. Hoje, no Brasil, existem, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 13 milhões de pessoas desempregadas.
A oferta de oportunidades de trabalho e mesmo empregos está associada diretamente a habilidades mais elaboradas, tais como raciocínio matemático claro e capacidade de realizar atividades não rotineiras com eficácia, como interagir com computadores e outros dispositivos tecnológicos. Também estão em alta as chamadas competências socioemocionais, mais interativas, baseadas na comunicação: expressão oral e clareza ao falar, por exemplo, e capacidade de atuação em situações de pressão e crise.
O cenário é apresentado no relatório Competências e empregos – uma agenda para a juventude, divulgado pelo Banco Mundial no início de 2018, a partir da realidade brasileira. O documento destaca que muitos economistas têm considerado o capital humano como a nova riqueza das nações. Os especialistas consultados sugerem a necessidade de enfatizar a construção das competências socioemocionais – comportamentos, atitudes e valores que a pessoa pode expressar em qualquer momento e que determinam sua maneira de reagir a várias situações. Além das competências de conversação, incluem consciência de si e habilidades relacionais.
“Quando falamos da preparação para o mercado de trabalho, prevalece a imagem de trabalhar para operar máquinas ou ser máquina. Esta concepção perde de vista as relações sociais implicadas. Trabalho é intervir num mundo com pessoas”, analisa a professora de Medicina e pró-reitora de Graduação da UFMG, Benigna Maria de Oliveira.
Com o crescimento das startups, empresas de base tecnológica, e de novas dinâmicas de trabalho, tais como compartilhamento de espaços – a exemplo do chamado coworking – os tradicionais modelos hierárquicos, típicos das grandes empresas, também passam por reformulação.
“As pessoas têm que trabalhar em equipes. Antigamente, muitos profissionais trabalhavam em suas próprias salas, que foram substituídas pelas baias, nas grandes empresas. Ou seja, as pessoas têm que conviver o tempo inteiro umas com as outras. Quanto menor a competência emocional, menos atraente a pessoa é para o mercado de trabalho”, afirma Jorge Alexandre Barbosa, professor do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich).
Pesquisador do mercado, das relações de trabalho e dos recursos humanos, Jorge Barbosa aponta quatro áreas com tendência de crescimento nos próximos anos. “Uma abrange ciências da informação e de dados e informática, que inclui cursos da UFMG como Matemática Computacional, Estatística, Ciências Atuariais e até as Ciências Sociais, dependendo da área em que você está trabalhando.
A outra é a área de Finanças, de acordo com o especialista, que absorve cada vez mais pessoas. Para se ter uma ideia, na década de 1970, 5% do PIB americano correspondia ao setor financeiro; hoje são 20%. A terceira é a área de marketing: conseguir vender, criar estratégias de venda: aí também entra a questão da comunicação. E a última é pesquisa e desenvolvimento”, enumera.
Fora da caixa
De acordo com o relatório do Banco Mundial, outras competências em processo de valorização são a aprendizagem prática e o empreendedorismo – capacidade de idealizar, coordenar e realizar projetos, serviços e negócios, ou mesmo implementar mudanças em empreendimentos já existentes, por meio de ações inovadoras.
“Você não ensina inovação. Ela tem um viés criativo forte, de criação, mesmo. Uma das coisas que vai fomentar isso é o fato de alguém ser exposto a diversas vertentes”, afirma o pró-reitor de Pesquisa da UFMG, Mario Campos. “Não é preciso saber tudo, mas aprender a articular saberes. O conteúdo é importante, mas é muito mais importante coordenar os conhecimentos, ‘sair da caixa’ e ter uma postura ativa. O mercado sempre privilegiou isso”, sentencia.
O professor Jorge Barbosa tem opinião semelhante. “As pessoas precisam se preparar para pensar de forma autônoma e ter capacidade analítica, ou seja, analisar a realidade, tirar conclusões, fazer previsões, conseguir planejar, tomar decisões”, orienta. Embora preveja a expansão da área de pesquisa e desenvolvimento, em nível mundial, ele acredita que o cenário nacional deve ser de retração. “No curto prazo, pelo menos, teremos uma brain drain, uma migração de capital humano para fora do Brasil. Muita gente vai se qualificar para ir embora, infelizmente”, lamenta.
“É importante que, uma vez na universidade, quem ainda não tem formação em línguas, em inglês, busque se qualificar. Se puder fazer um intercâmbio, melhor ainda”, aconselha Jorge Barbosa. As habilidades relacionais ganharam dimensão global, na avaliação do Diretor de Relações Internacionais da UFMG, Aziz Saliba. “A sociedade está muito mais internacionalizada. A capacidade de dialogar com pessoas de outras regiões do mundo, com visões completamente distintas, será muito importante para os estudantes que se formarão nos próximos anos”, prevê.
A TV UFMG apresenta reportagem sobre o panorama atual da inovação nas empresas brasileiras. A produção faz parte de uma série, produzida em 2016 durante a realização do XVII Seminário de Economia Mineira. Organizado pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade (Cedeplar), o evento reuniu economistas de todo o País em Diamantina para a discussão de temas relacionados à economia, história, demografia e às políticas públicas de Minas e do Brasil.