Centro Cultural recebe exposição de Jorge dos Anjos com 'curadoria quilombista'
Sob a perspectiva quilombista, o Centro Cultural UFMG abriga, até 24 de setembro de 2023, a exposição Visagens, do artista Jorge dos Anjos. Seus trabalhos expressam e elaboram sintomas da ferida colonial e do racismo estrutural que marcam as relações na sociedade brasileira. A entrada é gratuita e a classificação etária, livre.
A exposição é resultado do trabalho de pesquisa realizado entre 2020 e 2022 para elaboração do memorial de Jorge dos Anjos, quando foram feitas visitas ao ateliê do artista, entrevistas, salvaguarda e digitalização do arquivo de documentos pessoais que retratam a sua trajetória. Foram produzidos, com o artista, um dossiê e o Memorial, apresentado ao Programa de Pós-graduação em Artes da UFMG e para a Comissão Especial de Notório Saber dos Mestres da Cultura.
"A série Visagens é uma obra-prima, pois dela nascem todas as outras, apresentando traços da sua biografia, trajetória, do chão por onde Jorge dos Anjos percorre e inventa seus jeitos de caminhar e contar suas histórias, a partir de uma perspectiva afro-brasileira, as suas próprias visagens", informa o texto de divulgação.
Curadoria colaborativa
Na disciplina Museus de artista, ateliês de artista, ministrada pela professora da Escola de Belas Artes da UFMG Carolina Ruoso, estudantes de Museologia, Artes Visuais e Conservação-Restauração participaram do processo de leitura do memorial de Jorge dos Santos, visitaram seu ateliê e trabalharam na elaboração da curadoria da exposição, que seguiu a perspectiva quilombista.
Com raízes conceituais pautadas no enfrentamento e superação do racismo no campo dos museus e das artes, a curadoria quilombista promove práticas colaborativas capazes de criar produtos expográficos que reconheçam e potencializem o patrimônio cultural afro-brasileiro e que deem suporte para o surgimento de performances museológicas contracoloniais e antirracistas. Ligado a esse método está a pretagogia, referencial teórico-metodológico desenvolvido pela professora e pesquisadora Sandra Haydée Petit que propõe vivências e modos de aprender fundamentados nos valores da ancestralidade, da tradição oral e do corpo como fonte de saberes afro-brasileiros.
Trajetória
Jorge Luiz dos Anjos é um pintor, escultor e desenhista nascido em 1957, em Ouro Preto (MG). De 1970 a 1976, estudou com Nello Nuno, Ana Amélia e Amílcar de Castro na Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop), onde veio a se tornar professor anos mais tarde. Sua obra é o encontro de uma formação técnica baseada no construtivismo e a busca pela elaboração de uma poética afrorreferenciada. Desde 1978, ele organiza exposições individuais e, desde a década de 1980, participa de salões nacionais e internacionais. Sua produção figura entre as mais significativas no cenário contemporâneo da arte brasileira.