Institucional

'Aquilombamento' atravessou épocas como instrumento de resistência e de pertencimento

Mesa de abertura da programação institucional do Novembro Negro discutiu ancestralidade e saúde mental

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Suellen Fraga: cosmologiaFoto: Foca Lisboa

Na tarde desta segunda-feira, 20 (Dia da Consciência Negra), o auditório da Reitoria sediou a mesa Ancestralidade, memória e saúde mental da população negra, que reuniu a presidente do Conselho Regional de Psicologia, Suellen Fraga, e o professor Abrahão de Oliveira Santos, da Universidade Federal Fluminense, com mediação da diretora de Políticas e Ações Afirmativas da UFMG, Paula Gonzaga. A atividade integra a programação do Novembro Negro UFMG.

Em seu pronunciamento, Suellen Fraga sublinhou a centralidade da noção de pertencimento, especialmente, para a comunidade negra. “Na contramão de um projeto de sociedade que visa a individualizar e, por consequência, minar nossas forças, a gente vai entendendo que, à medida que nos aproximamos dos nossos ancestrais, percebemos o quanto somos um grupo muito maior, fazemos parte de uma cosmologia. Isso diz respeito ao nosso futuro e também às nossas vivências no presente”, refletiu.

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Abraão Santos: sistema para silenciar negros e indígenas é refinadoFoto: Foca Lisboa | UFMG

O professor Abraão Santos discorreu sobre o que chamou de “projeção do universo psicossocial dos brancos”, materizalizada em “barreiras impostas contra a voz dos negros e indígenas nas univesidades” e outros modos de defender privilégios.

“É refinado o sistema que serve para silenciar negros e indígenas. Mesmo depois da difícil conquista das cotas raciais, o silenciamento continua. Agora somos tachados de ‘identitários’, que é o termo recentemente criado para invalidar as discussões do movimento negro e continuar a afirmação de uma universidade branca. É um novo 'cala boca', mais sofisticado, mais elaborado, representativo do racismo institucional”, denunciou.

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Paula Gonzaga: espaço emancipadorFoto: Foca Lisboa | UFMG

Ensinar e aprender
A diretora de Ações Afirmartivas Paula Gonzaga, da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis, destacou que o Novembro Negro na UFMG cumpre o movimento duplo de “ensinar e aprender”. Para ela, “a educação deve ser o espaço emancipador e criar uma cultura antirracista”.

“Neste ano, reverenciamos nossa ancestralidade, que nos fortalece para permanecermos nos aquilombando, como fizeram nossos ancestrais, que resistiram a um projeto genocida e etnocida. Sobrevivemos porque nos aquilombamos em todos os espaços que ocupamos. Hoje é a abertura simbólica de um mês que não deve acabar nunca”, disse.

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida, que abriu as atividades da programação institucional do Novembro Negro na UFMG, enfatizou a importância do evento como oportunidade para “pensar onde estamos e para onde vamos”. “Avançamos muito nos últimos anos, e este é um momento fundamental de reflexão. Não adianta apenas libertar a sociedade, é preciso libertar as mentes”, disse ela, citando a filósofa Angela Davis.

Trajetórias
Suellen Fraga é graduada em Psicologia pela PUC-Minas e pós-graduanda em Psicologia Social na Universidade Santo Amaro (Unisa). Como conselheira vice-presidente no Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais, contribui ativamente para a promoção de práticas éticas e inclusivas na profissão. Foi diretora do sindicato das psicólogas e psicólogos de Minas Gerais de 2017 a 2019.

Abrahão Santos é graduado em Psicologia pela UFPB e doutor em Psicologia Clínica-Subjetividade pela PUC-SP. Concluiu seu pós-doutorado em 2016, abordando as correlações entre subjetividade, religiões de matriz africana e questão negra. Coordena o Kitembo – Laboratório de Estudos da Subjetividade Cultura Afro-Indígena-Brasileira, que reúne esforços na pesquisa aterrada, contracolonial, afroindígena e antirracista.

Matheus Espíndola