Campanha do ICB alerta para os riscos de se alimentar animais silvestres
Eles são vistos com frequência nos corredores e até em laboratórios da unidade
Alimentar animais silvestres pode parecer um gesto generoso, mas, do ponto de vista sanitário, é extremamente danoso aos bichinhos e ao próprio homem. Essa é a mensagem central da campanha lançada pela direção do ICB, que pretende ampliar o controle sobre a presença de animais – como micos – que são vistos com frequência nos corredores e até em laboratórios da unidade. A iniciativa parte do princípio de que a vida silvestre não depende da associação com o humano para prosperar.
“É preciso promover a educação ambiental desfazendo a ideia de que os animais são os vilões da história”, defende a bióloga e assistente de laboratório Thaís Maia, afirmando que o que precisa mudar são os hábitos humanos. Thaís conta que, no ICB, já houve situações em que foram servidos até biscoitos recheados a micos. “Se isso faz mal para gente, imagina para eles”, comenta.
A também bióloga Daniela Reis, que participou da concepção da campanha, alerta que mesmo alimentos considerados saudáveis podem ser nocivos aos animais. Isso porque podem conter conservantes ou ter passado por condições desconhecidas de armazenamento ou transporte. Ela lembra que esses animais aceitam os alimentos oferecidos pelas pessoas “não por falta de comida, mas pela disponibilidade” e que essa facilidade aumenta os riscos de uma reprodução descontrolada. “Se dispõem de comida e abrigo fácil, eles vão se reproduzir em uma frequência muito maior, porque não serão predados por outros animais aqui no ICB”, afirma.
No caso de um centro de ensino e pesquisas como o ICB, os perigos se agravam, já que esses bichos podem entrar em laboratórios que lidam com agentes infecciosos e lixeiras com restos de alimentos e acabar se contaminando ou intoxicando. Há, ainda, riscos de invasão em áreas restritas, como biotérios, e a preocupação com o fato de que esses animais podem ser portadores de zoonoses, doenças transmissíveis para o ser humano.
A campanha do ICB reforça que a proximidade entre humanos e animais silvestres também traz riscos aos animais. A professora Giliane Trindade, do Departamento de Microbiologia, observa que, quando se fala de zoonoses, é preciso pensar em uma “via de mão dupla da transmissão”, pois existem patógenos próprios do homem que também infectam os animais. “O herpes, vírus de humanos, pode ser fatal em primatas”, adverte a professora, esclarecendo que a transmissão de vírus para primatas pode ocorrer devido à proximidade genética com o ser humano.
Zoonoses virais
Febre amarela, leishmaniose e dengue são exemplos de doenças emergentes que desafiam a saúde pública. Giliane Trindade lembra que cerca de 70% das doenças emergentes em humanos são zoonoses de origem silvestre. Ela chama a atenção para o fato de que o problema não está apenas no contato direto com os animais, mas também nos riscos advindos da proximidade espacial com eles. No caso de zoonoses virais como a febre amarela, não há transmissão direta do vírus para o homem pelos micos, mas pelo mosquito vetor. “E aí mosquitos e macacos que circulam em áreas do campus podem estar vindo infectados de ambientes silvestres”, afirma Giliane Trindade.
Micos também podem ser transmissores diretos de agentes patogênicos como o herpesvírus e o vírus da raiva, que são contraídos pela pele ou pela saliva. “Raiva é um vírus disseminado entre mamíferos silvestres e domésticos, tanto que cães e gatos são vacinados contra a raiva, justamente porque são afetados”, afirma a professora Giliane Trindade, lembrando que a vida silvestre não é protegida contra a raiva, por isso, não é possível saber se um animal está raivoso ou não. “Quando filhotes, os micos são dóceis, mas agressivos na fase adulta”, alerta a bióloga Daniela Reis. Caso esteja infectado, o mico não precisa chegar a morder para transmitir raiva. Um simples arranhão é suficiente.
Pombos e gambás
A campanha do ICB também atinge pombos e gambás, que, assim como os micos, são vistos nas dependências da unidade e trazem riscos. Segundo Giliane Trindade, os gambás podem transmitir o vírus da raiva e poxvírus, que causam lesões na pele. Os pombos, por sua vez, são a principal fonte de transmissão da criptococose, doença que provoca meningite causada por fungo encontrado em suas fezes. “O ser humano e outros animais podem respirar esse fungo (Cryptococcus neoformans) que se instala nos pulmões, cai na corrente sanguínea e chega ao sistema nervoso central, causando um tipo de meningite”, detalha o professor Daniel de Assis, do Departamento de Microbiologia.
Em entrevista à TV UFMG, a bióloga Fernanda Louro, do Departamento de Gestão Ambiental (DGA), dá dicas de como lidar com animais silvestres que vivem nas áreas verdes do campus Pampulha: