'Desinformação precisa ser combatida com escolhas responsáveis’, afirma Geane Alzamora
Palestra da professora da Comunicação para alunos dos cursos noturnos integrou programação de recepção aos calouros
Em pleno século 21, 7% da população brasileira, cerca de 11 milhões de pessoas, ainda acreditam que a Terra é plana. Essa constatação surpreende porque mais de 80% da população teve acesso à internet em 2022, e mais da metade dessas pessoas acessa a rede mundial de computadores por meio da televisão. O contraste entre esses dados se explica pela configuração da chamada sociedade da desinformação, de acordo com a professora Geane Carvalho Alzamora, do Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich).
Durante a aula magna de recepção aos calouros do turno da noite, realizada ontem, no Centro de Atividades Didáticas (CAD 1), campus Pampulha, a professora convidou os novos integrantes da comunidade universitária a refletir sobre “o fenômeno da desinformação, que, embora seja um grande problema, não deve ser considerado apenas como uma exceção, mas como o que caracteriza a sociedade contemporânea e precisa ser enfrentado com responsabilidade social”.
Segundo Geane Alzamora, que também integra o Programa de Formação Cidadã em Defesa da Democracia — parceria da UFMG com o Programa de Combate à Desinformação do Supremo Tribunal Federal (STF) —, a desinformação não é simplesmente sinônimo de mentira – tem a ver com a propagação de informações em larga escala, não somente por causa dos algoritmos dos meios digitais em que circulam, mas, principalmente, devido às crenças e escolhas de quem as compartilha.
Tenacidade ou evidências científicas
A professora recorreu ao filósofo Charles Sander Peirce (1839-1014) para explicar que a fixação de crenças ocorre pela tenacidade, autoridade, a priori ou por evidências científicas. “Mas é pela tenacidade que a desinformação baseada em crenças tem maior alcance, o que expande o ecossistema de desinformação e gera desconfiança generalizada”, afirmou.
Exemplos da desinformação que circulou durante o pico da pandemia da covid-19 e também durante a última eleição presidencial no Brasil foram usados por Geane para ilustrar a fixação de crenças por tenacidade, que torna o diálogo e a argumentação impossíveis. Ela ainda citou dados que revelam a falta de acesso dos brasileiros a bancos de dados, o que dificulta ainda mais a checagem da informação, em contraponto ao acesso ilimitado a redes de compartilhamentos como o aplicativo de mensagens WhatsApp.
“Na contemporaneidade, estamos nos distanciando cada vez mais da possibilidade de consenso, embora a origem etimológica da palavra comunicação seja "colocar em comum". Mas cabe a cada um de nós ter mais responsabilidade social ao fazer nossas escolhas na hora de compartilhar informações", provocou.
Para Geane Alzamora, “a verdade é um ideal normativo que conduz as nossas ações cotidianas, e a desinformação torna a sociedade democrática insustentável, tanto do ponto de vista material quanto imaterial”. A professora afirmou ainda que a desinformação tornou-se capital político e, "como cidadãos e sujeitos políticos, especialmente numa instituição como a UFMG, onde tudo é permeado pelo conhecimento científico, a responsabilidade de construção coletiva da cidadania e de uma sociedade democrática é ainda mais pujante”.
'Viver a UFMG'
A reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida, após apresentar grande parte da equipe à frente das pró-reitorias e diretorias que atendem diretamente os estudantes –quando destacou o grande número de mulheres em sua equipe de gestão –, convidou os estudantes a “viver a UFMG, em tudo o que ela oferece”.
“Uma vida nova se inicia para vocês e para nós, em mais um semestre letivo. Aqui vocês construirão uma travessia por quatro a cinco anos. Então, aproveitem tudo que a UFMG oferece, que inclui ensino, pesquisa e extensão de excelência e vasta produção cultural. Esse é o lugar da união da diversidade, do respeito à multiplicidade de saberes, um espaço para compartilhar a pluralidade e a liberdade de expressão”, afirmou.
O Diretório Acadêmico (DCE) também se apresentou aos calouros, com um convite para que lutem pela igualdade de direitos para as pessoas trans e não binárias, por meio de mudanças em locais de convivência como as moradias e o Centro Esportivo Universitário (CEU).
A noite de recepção foi encerrada com a apresentação de alunos do Grupo de Percussão da Escola de Música.
Programação de boas-vindas
As atividades de recepção aos calouros continuam até o dia 30 de março, em Belo Horizonte, e ocorrerão de 27 de março a 5 de abril, em Montes Claros. Para saber mais sobre a programação, visite o site Viver UFMG, onde também estão disponíveis as informações sobre a vida acadêmica, como os programas de assistência estudantil, acessibilidade e inclusão, saúde mental, intercâmbio, cultura, esporte e lazer, entre outros.
Hoje, às 14h, haverá um passeio à Estação Ecológica, partindo da Tenda Viver UFMG, instalada da Praça de Serviços do campus Pampulha. Na Tenda também serão realizadas rodas de conversa sobre temas variados. Ainda hoje, às 18h, o tema é Políticas das juventudes em Belo Horizonte.