Mauro Condé, da História, lança 'manual da historiografia das ciências'
Organizado em parceria com Marlon Salomon, professor da federal de Goiás, livro reúne reflexões de mais de 30 pensadores oriundos das Américas, da Ásia e da Europa
Em razão não apenas de sua qualidade, mas também de sua especificidade e natureza, alguns livros já nascem com vocação para se tornar referência nos campos de que tratam. É o caso de Handbook for the historiography of science, lançado há algumas semanas pelo professor Mauro Lúcio Condé, do Departamento de História da UFMG. Organizada com Marlon Salomon, professor de história moderna da Universidade Federal de Goiás (UFG), a obra de fato se apresenta como um “manual da historiografia das ciências”, tal como informa o seu título – uma porta de entrada para a transdisciplinaridade que é própria da área de história e filosofia da ciência.
“Em vez de simplesmente fornecer um relato das diversas possibilidades de abordagens historiográficas da ciência, os capítulos do nosso livro avaliam as bases, as possibilidades e o alcance das diferentes concepções historiográficas, assim como dos autores e das tradições que estabeleceram a escrita da história da ciência. O volume procura compreender até que ponto algumas das abordagens historiográficas mais influentes, seguidas por centenas de historiadores da ciência, geraram novos insights interpretativos sobre a tarefa de pensar histórica e filosoficamente sobre a atividade científica”, anotam os editores no prefácio do volume.
No livro, são apresentados os principais autores, conceitos, estilos, ideias, concepções, tradições e escolas do campo. “É um livro que se destina tanto aos profissionais da área quanto a outros interessados em entrar neste universo – isto é, profissionais de outras áreas e também alunos de formação universitária em diferentes áreas”, diz Condé.
Publicado pela Springer, uma das mais prestigiadas editoras de livros científicos do mundo, o livro reúne reflexões de mais de 30 pensadores da historiografia da ciência de diferentes países das Américas, da Ásia e da Europa, que se alternam na assinatura dos capítulos.
‘Avaliação crítica’
Na obra, os autores fazem uma avaliação crítica da historiografia da ciência produzida desde o final do século 19 até o início do século 21 – particularmente, eles analisam as circunstâncias históricas e filosóficas do surgimento da disciplina e as relações da historiografia da ciência com suas áreas afins.
Os capítulos estão organizados em quatro partes. Na primeira, são perfilados 12 “autores-chave” para a historiografia da ciência – Alexandre Koyré, Gaston Bachelard, Georges Canguilhem, Ian Hacking, John Desmond Bernal, Joseph Agassi, Lorraine Daston, Ludwik Fleck, Pierre Bourdieu, Pierre Duhem, Steven Shapin e Thomas Kuhn. Na segunda, são apresentados os conceitos e as concepções mais centrais para a historiografia da ciência.
Na terceira parte do livro, é discutida a historiografia da ciência no seu trânsito do tempo do advento da ciência moderna até o mundo científico contemporâneo; por fim, na quarta, é debatida a relação do campo da historiografia da ciência com suas áreas afins, ocasião em que são evocadas chaves como religião, decolonialidade e pós-colonialidade.
Epistemologia crítica
“Ao longo do século 20, filósofos, historiadores, sociólogos, antropólogos e os próprios cientistas produziram histórias da ciência com variadas formas de análise. Assim, a historiografia das ciências é um campo essencialmente transdisciplinar. É um pouco como um delta no qual as águas da ciência, da história, da sociologia e da filosofia fluem juntas. Assim, uma reconstrução da história da historiografia da ciência implica, desde logo, reconhecer a pluralidade e a diversidade dos seus percursos críticos”, ponderam os organizadores no prefácio do volume.
Nessa perspectiva, os organizadores lembram que “a ciência é um produto social feito por mulheres e homens em contextos bem definidos”. De fato, não cabe mais uma visão positivista dessa historicidade, sob a perspectiva de uma sucessão meramente cronológica e objetiva dos fatos históricos da ciência. É dessa outra epistemologia – uma epistemologia em que a historiografia da ciência é pensada à luz de suas inscrições sociais, em seus múltiplos atravessamentos sociais, políticos, econômicos, históricos – que trata o livro ora lançado. Ele pode ser comprado no site da editora.
Livro: Handbook for the historiography of science
Organizadores: Mauro Lúcio Condé e Marlon Salomon
Editora: Springer
US$ 299,99 / 633 páginas