Professores do ICB refutam reflorestamento maciço como saída para mitigar mudanças climáticas
Fernando Silveira e Geraldo Fernandes estão entre os 46 cientistas que assinam comentário técnico sobre artigo publicado na Science que defende a medida
Em julho, um grupo de cientistas internacionais publicou, na revista Science, estudo em que defende o florestamento e reflorestamento de 900 milhões de hectares, sob o argumento de que essa medida seria capaz de promover o sequestro de 205 gigatoneladas de carbono (GtC) e mitigar o processo de mudança climática que atinge o planeta. Imediatamente, o estudo repercutiu em vários jornais ao redor do mundo. Afinal, se correta a tese, isso significaria que o simples plantio maciço e indiscriminado de árvores compensaria cerca de um terço de todo o carbono já emitido pelo homem ao longo de sua história (660 GtC), notadamente a partir do século 18, com a Revolução Industrial.
A euforia, no entanto, durou pouco: no mês passado, um grupo transnacional de 46 cientistas – entre os quais, Fernando Augusto de Oliveira e Silveira e Geraldo Wilson Fernandes, professores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, além de outros seis pesquisadores que atuam em outras instituições do Brasil – publicou, na mesma revista, um duro comentário técnico sobre o artigo original, no qual defende que a estimativa de sequestro de carbono apresentada pela pesquisa estava fortemente superestimada. Mais do que isso, os comentaristas demonstraram que, se o plantio de árvores fosse realizado na perspectiva indistinta proposta pelo artigo original, ele poderia, em certos casos, colaborar não para reduzir o aquecimento global, mas para acelerá-lo, além de comprometer biomas.
Em matéria publicada na edição 2.079 do Boletim UFMG, os professores Fernando Silveira e Geraldo Fernandes refutam a tese do reflorestamento maciço e afirmam que a contenção do processo de mudança climática depende da redução das emissões de carbono.