Programa Conexões aborda crescimento do movimento neonazista no Brasil
Levantamento mostra que existem pelo menos 530 grupos de teor nazista no país
O neonazismo é um movimento de resgate e retomada da ideologia nazista de Adolf Hitler, baseada na discriminação contra minorias e preceitos racialistas de superioridade branca. A produção, venda e veiculação de material contendo símbolos nazistas, assim como a disseminação de discursos que fazem apologia à ideologia, são crimes enquadrados na lei federal do antirracismo. Mas isso não tem impedido o crescimento do movimento neonazista no Brasil nos últimos anos. Segundo um levantamento produzido pela antropóloga Adriana Dias, que estuda o tema desde 2002, atualmente existem pelo menos 530 grupos de teor neonazista no Brasil.
Esse número teve um crescimento de mais de 270% entre janeiro de 2019 e maio de 2021, com maior concentração na região sul do país. Segundo outro levantamento divulgado pelo jornal O Globo, também houve uma explosão no número de denúncias de apologia ao nazismo apuradas pela Polícia Federal. Até poucos anos atrás, as denúncias não passavam de 20 ao ano. Em 2019, foram registradas 69 ocorrências e o quadro piorou em 2020, quando foram investigados 110 casos, pelo menos um a cada três dias.
Para discutir esses dados e saber mais sobre o movimento neonazista em atuação no Brasil, o programa Conexões desta quarta-feira, 2, convidou o professor Alexandre Almeida, que é pesquisador do Observatório da Extrema Direita, coordenador do grupo de trabalho História das Direitas São Paulo, ligado à Associação Nacional de História, e professor da especialização em Direitos Humanos da Universidade Federal do ABC. O pesquisador caracterizou as manifestações caracterizadas como neonazistas e explicou de que formas o movimento se manifesta no contexto brasileiro, sendo a mais popularmente conhecida os skinheads.
Esses grupos de jovens passaram a adotar uma estética neonazista e trabalhar a ideia de que seria possível fazer uma adaptação do que seria o movimento no Brasil, influenciados pela ideia do white power, baseada na supremacia branca, na criação de um espaço vital para a sobrevivência desse “povo” e na crença em uma conspiração judaica. Almeida também comentou sobre o perigo da ampla divulgação de material nazista, sem uma devida análise, na internet.
“Quando a gente proíbe e não trabalha essas fontes a gente permite uma livre interpretação desse material. Eu acho que proibir pode ser algo problemático, mas debater é muito importante. Esse material não começou a ser vinculado com as redes sociais, a internet potencializou isso e possibilitou o acesso imediato e gratuito. De certa forma, [com isso] a população aprendeu a perceber o que é um discurso ilegal e passou a denunciar”, completou o professor. Além disso, o entrevistado falou sobre aproximações de discursos e manifestações que aproximam o Governo brasileiro e seus apoiadores dos ideais nazistas e os argumentos utilizados para, ao mesmo tempo, se distanciar dessa ideia e associar o movimento à esquerda. “Há um desconhecimento muito grande. Isso reflete muito a nossa despolitização, os nossos partidos políticos que não têm programas, não têm uma linha doutrinária clara, e a revitalização do regime autoritário”, refletiu o docente.
Os produtos de apologia e referência skinhead e white power na música brasileira, como ferramenta de divulgação do neonazismo, também foram assunto da conversa.
Ouça a entrevista completa no Soundcloud.
Denúncias de casos de discriminação ou apologia e incitação a crimes contra a vida e ao neonazismo devem ser feitas através do Disque 100.
Aqui na UFMG, o Núcleo Brasileiro de Estudos de Nazismo e Holocausto (Nepat) reúne perfis e conteúdos sobre o tema, além do podcast 'Desnazificando'. Todo o conteúdo está disponível no site do Nepat.
Produção: Carlos Ortega, sob orientação de Luiza Glória
Publicação: Enaile Almeida, sob orientação de Luiza Glória