Arte e Cultura

Site da Filosofia da UFMG reúne memórias de oito décadas

Fatos históricos e lembranças afetivas de lugares e personagens estão organizados em seções específicas

Seminário Brasil 1964-1968, Fafich da rua Carangola, 1984. Da esquerda para a direita: de pé, Florestan Fernandes (USP); Evantina Vieira (História); José Henrique Santos (Filosofia); Margarida Vieira, a Guida (DCP); Otávio Dulci (Ciências Sociais)
Seminário 'Brasil 1964-1968', na Fafich da rua Carangola, em 1984. Da esquerda para a direita: Florestan Fernandes, da USP (de pé), Evantina Vieira (História), José Henrique Santos (Filosofia), Margarida Vieira, a Guida (DCP), e Otávio Dulci (Ciências Sociais) Foto: Acervo da Fafich/UFMG

As memórias afetivas e históricas dos 83 anos do Departamento de Filosofia ganharam uma página na internet e estão organizadas em seções de fotografias, entrevistas em vídeo e notas bibliográficas, constituindo-se em importante acervo para pesquisa sobre a história da Filosofia no país.

Para o coordenador da Comissão de Memória responsável pela nova estrutura, professor Ivan Domingues, o resgate dessa trajetória, desde seu início, na antiga Faculdade de Filosofia (Fafi), em 1939, passando pela sede da Fafich na rua Carangola até a transferência para o campus Pampulha, era uma necessidade urgente antes que se perdessem as memórias, devido a diversas razões, como aposentadorias e renovação do quadro de pessoal.

Domingues conta que o site do Departamento trazia informações importantes, mas muito enxutas e limitadas à própria história. Agora, a nova página está organizada em seis seções, com textos de linguagem clara e ágil, entremeados por fotos e imagens das personagens em diferentes épocas e situações, “para que o visitante tenha a impressão de uma página informativa e agradável, e que possa servir como fonte de pesquisa”.

A Comissão de Memória foi criada em 2017, por ocasião dos 25 anos do doutorado em Filosofia, e também é formada pelos professores Alice Serra, Telma de Souza Birchal, José Raimundo Maia Neto e Rodrigo Duarte, e pelos estudantes Samuel Maia e Bruna Ribeiro Martins.

Desde então, informações e fotografias vêm sendo rastreadas, num esforço conjunto, com a colaboração da comunidade da própria Fafich e também da comunidade externa à UFMG, para a identificação das pessoas que fizeram e ainda fazem a história da Filosofia na UFMG.

Primeiro Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da Faculdade de Filosofia de Minas Gerais (1939-1946). Da esquerda para a direita, temos: Arthur Versiani Vellôso (1906-1986, Filosofia), Braz Pellegrino (1896-1969, Letras), Lúcio José dos Santos (1875-1944, Ciências), Padre Clóvis de Souza e Silva (1908-?, Filosofia) e José Lourenço de Oliveira (1904-1984, Letras).
Primeiro Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da Faculdade de Filosofia de Minas Gerais (1939-1946); da esquerda para a direita: Arthur Versiani Vellôso (1906-1986, Filosofia), Braz Pellegrino (1896-1969, Letras), Lúcio José dos Santos (1875-1944, Ciências), Padre Clóvis de Souza e Silva (1908-?, Filosofia) e José Lourenço de Oliveira (1904-1984, Letras)
Foto: Acervo da Fafich/UFMG

“São memórias afetivas e pessoais, e também coletivas e institucionais, que trazem a lume lugares sagrados e mitológicos, como a antiga Fafich da rua Carangola, e pessoas, na maioria já aposentadas, que vivenciaram a época heroica da fundação da velha Fafi”, destaca Domingues.

Memórias históricas e afetivas
Na seção Fases e notas bibliográficas, o visitante vai conhecer os primórdios da fundação do Departamento (anos 1940-1950), quando o consulado italiano em Belo Horizonte, via Casa d’Itália, o Instituto de Educação e o Colégio Marconi tiveram papel fundamental. O professor Domingues lembra que, naquela época, a Itália era dominada pelo fascismo, e o mundo vivia o contexto da Segunda Guerra Mundial.

As fases seguintes também foram resgatadas, com relatos da expansão e consolidação do quadro docente (meados da década de 1950 até início da década de 1970), até os dias atuais, com a especialização e profissionalização do Departamento. Essa última fase foi marcada pela saída da rua Carangola,  em meados de 1970, e a instalação do Departamento no campus Pampulha, até a sede definitiva na nova Fafich, em 1992.

Segundo o professor, que foi o primeiro coordenador do doutorado em Filosofia da UFMG, nessa seção também podem ser encontradas peculiaridades sobre as personagens, narradas com a colaboração da comunidade externa à UFMG, como a do professor Sylvio Barata de Azevedo Vianna (1913-1998). "Era também um exímio pianista, e seu estilo preferido era o tango", ressalta Domingues. A professora da PUC-Minas Magda Guadalupe dos Santos, ex-aluna do professor Sylvio Vianna, colaborou com o levantamento de informações biográficas.

Videoentrevistas e curiosidades
Os 20 vídeos com depoimentos de professores da Filosofia, a maioria aposentados, são relatos da própria trajetória, permeados de lembranças e fatos históricos,  disponíveis no canal da Comissão de Memória no YouTube. Esses vídeos compõem o conteúdo do site, junto com a seção Memoriais, que está em fase de construção. A proposta é disponibilizar, também nesse espaço, o acervo dos memoriais acadêmicos, elaborados por ocasião de concursos para ingresso na categoria de professor titular. "São excelentes fontes de informação sobre os/as docentes, bem como sobre o contexto intelectual do Departamento e da própria filosofia brasileira", avalia o professor. 

Busto de Kant, encomendado pelo prof. Arthur Versiani Vellôso ao artista Frederico Bracher Junior (Fonte: pesquisa de Patrícia Kauark)
Busto de Kant, encomendado pelo professor Arthur Versiani Vellôso ao artista Frederico Bracher Junior (Fonte: pesquisa de Patrícia Kauark) Foto: Acervo Comissão da Memória| Fafich/UFMG

Algumas curiosidades também foram registradas pelo site, como a reconstituição da história do busto de Kant pela professora Patrícia Kauark. A obra do artista Frederico Bracher Junior foi  encomendada pelo professor Arthur Versiani Vellôso e está instalada no jardim que fica nas imediações da diretoria da Fafich. 

Por fim, há um “mistério a ser desvendado”, ressalta Ivan Domingues. Trata-se da escultura da coruja, feita em madeira, símbolo da Filosofia, que saiu da biblioteca da Fafich, passou uma temporada na sala da diretoria e, atualmente, encontra-se na secretaria do Departamento de Filosofia. “A obra faz parte da memória afetiva de todos, mas a Comissão ainda não conseguiu esclarecer nem quem a encomendou, nem o artista que a modelou e executou", afirma o coordenador da Comissão.

Gabinete da diretoria da Fafich, na rua Carangola, com a figura da coruja na parede ao fundo. Data desconhecida
Gabinete da diretoria da Fafich, na rua Carangola, com a figura da coruja na parede ao fundo (data desconhecida)Foto: Acervo Comissão da Memória|Fafich/UFMG

Para colaborar com a Comissão da Memória, com identificação de fotos, datas, indicações de inconsistências e de lacunas, basta encaminhar mensagem para o e-mail memoriafilufmg@gmail.com ou fil@fafich.ufmg.br. 

Teresa Sanches