UFMG e federais do Espírito Santo e de Ouro Preto criam observatório do desastre de Mariana
Documento que cria formalmente o Observatório Interinstitucional do Desastre Mariana-Rio Doce, com a participação de pesquisadores da UFMG e das universidades federais de Ouro Preto (Ufop) e do Espírito Santo (Ufes), foi assinado na manhã desta quarta-feira, 14, no campus Pampulha, pelos dirigentes das três instituições. A iniciativa tem o apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
“Mais do que a área atingida, o que nos une é o ideal”, destacou o reitor Jaime Ramírez, lembrando que esse instrumento é um passo inicial cujos desdobramentos terão o objetivo de apontar, em trabalho conjunto, possíveis soluções, no âmbito do que se espera de universidades públicas, para os danos causados pelo rompimento da barragem de minério na cidade de Mariana.
“O desastre tem proporções que vão consumir nosso talento e nossa capacidade de cooperação, junto às comunidades afetadas e a órgãos, organizações sociais, governamentais ou não, para superar todo esse dano, essa perda incalculável”, disse Jaime Ramírez.
O reitor da Ufop, Marcone Jamilson Freitas Souza, falou sobre as altas taxas de desemprego na região em decorrência do desastre e ressaltou o papel institucional das universidades públicas, ao apontar alternativas, também nessa área, para a população.
Reinaldo Centoducatte, reitor da Ufes, lembrou que cada universidade tem características próprias, o que enriquece a parceria. Segundo ele, a Ufes tem hoje 48 grupos de pesquisa envolvidos com o tema, em campos como ciências humanas, geografia, biologia e engenharia ambiental. Em sua opinião, as instituições têm “disposição e competência estabelecida para apontar soluções”.
A pró-reitora adjunta de Extensão da UFMG, Cláudia Mayorga, destacou a necessidade de articular distintos campos do saber e diferentes atores, além de preservar “o lugar de autonomia da universidade”.
Para Thiago Alves, da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (Mab) em Minas Gerais, a iniciativa de criação do Observatório é importante por colocar a universidade pública a serviço da sociedade. “Essa articulação, no contexto do rompimento que acarretou problemas em toda a Bacia do Rio Doce, pauta, nas universidades, a primazia do interesse público e não do interesse privado de grandes empresas. O Mab está animado com a possibilidade de construção de muitas parcerias em toda a Bacia”, enfatizou.
Também participaram da reunião a vice-reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, a pró-reitora de Extensão da UFMG, Benigna Maria de Oliveira, a pró-reitora de Extensão da Ufop, Ida Prado, as professoras da Ufop Margareth Diniz, diretora do Instituto de Ciências Humanas e Sociais, e Carolina Maranhão, coordenadora do núcleo da Cátedra Unesco Água, Mulheres e Desenvolvimento, e representantes do Ministério Público estadual, da prefeitura de Mariana e pesquisadores das três universidades.
Participa UFMG
A UFMG materializa sua participação no Observatório por meio Participa UFMG Mariana/Rio Doce – programa que apoia comunidades atingidas pelo rompimento da barragem e que reúne 53 grupos de extensão e pesquisa, de diversas áreas do conhecimento. Nove propostas elaboradas por esses grupos já recebem recursos de chamada da Fapemig destinada a tecnologias de recuperação da bacia do Rio Doce.
Uma série de ações têm sido organizadas nos últimos meses para solidificar a mobilização. Em junho, em parceria com o Participa UFMG, o Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) promoveu reuniões sobre a temática da mineração, com participação de representantes da Ufop e da Ufes, de áreas como saúde, engenharia, antropologia, psicologia, entre outras.
Também em junho, o campus Pampulha abrigou debate sobre o acordo assinado em março por União, estados de Minas Gerais e Espírito Santo e empresas envolvidas no rompimento da barragem do Fundão, em Mariana. O encontro teve participação do advogado geral de Minas Gerais, Onofre Alves Batista Jr., que é também professor da UFMG.
Encontros em Ouro Preto e em Belo Horizonte reuniram grupos de trabalho da UFMG e da Ufop e representantes das populações atingidas. “O objetivo foi delimitar fluxos de diálogo com essas populações, e o esforço foi bem-sucedido”, afirma Claudia Mayorga.
Na semana passada, a pró-reitora adjunta de Extensão coordenou mesa, durante o 7º Congresso Brasileiro de Extensão, também sediado na Ufop, sobre questões técnicas e políticas que permeiam o desastre de Mariana.
Dois projetos de grupos da UFMG relacionados ao tema já foram contemplados com bolsas para estudantes: Modelo de recuperação da paisagem da mata ciliar e de áreas urbanas sob impacto dos rejeitos da barragem, coordenado pela professora Maria Rita Scotti Muzzi, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), e Conservação e valores: uma declaração de significância para Bento Rodrigues, sob coordenação de Leonardo Barci Castriota, da Escola de Arquitetura.
Uma das próximas ações do Participa UFMG pretende visa ampliar a articulação dos estudantes interessados com os projetos que integram o esforço da Universidade para apoiar as populações atingidas e a recuperação de espaços urbanos e da bacia do Rio Doce.