Voto para presidente dos EUA é marcado por sentimento negativo por ambos os candidatos, afirma pesquisador norte-americano
Cerca de metade dos eleitores norte-americanos que declaram intenção de voto para Hillary Clinton estará, na verdade, escolhendo não ter Donald Trump na Casa Branca. E isso também se aplica na situação inversa. “É um quadro estranho, em que ambos os candidatos não inspiram confiança e despertam sentimentos negativos mais fortes que os positivos”, afirmou o professor George Edwards III, da Texas A&M University, dos Estados Unidos, em conferência na tarde desta sexta, 23, no campus Pampulha. Talvez também por essa razão, segundo o pesquisador, tanto o candidato do Partido Republicano quanto a postulante do Partido Democrata têm focado seus discursos em reforçar que o oponente é “uma pessoa má”.
O bilionário Donald Trump, que apoia sua plataforma no tripé emprego-orgulho-grandeza, dirige suas palavras sobretudo à classe trabalhadora que acha que perdeu mais – ou ganhou menos – nos últimos anos. “Ele se assume como novidade na política americana para explorar a ideia de que o risco de se eleger um outsider vale a pena, já que as coisas não vão bem. Clinton, por sua vez, defende, ao contrário, que o país tem melhorado e que Trump representa o risco de se pôr tudo a perder”, comentou Edwards, que veio à UFMG a convite do Centro de Estudos Legislativos (CEL), vinculado ao Departamento de Ciência Política (DCP).
Como era de se esperar, o conferencista concentrou sua apresentação no “fenômeno Donald Trump”. Para George Edwards, o republicano explora e estimula, em parte significativa do eleitorado, o medo da imigração, do terrorismo, dos chineses que roubam empregos dos Estados Unidos. “Com sua linguagem vulgar e hiperbólica, ele oferece proteção contra tudo –mesmo que não haja motivos para temor – e não detalha planos nem políticas”, disse o pesquisador, para quem o grande ativo de Trump é a celebridade: o americano médio se sentiria lisonjeado de merecer sua atenção.
Ainda de acordo com Edwards, Trump se mostra brilhante ao tirar partido da mídia espontânea. “É muito interessante que um homem tão rico gaste tão pouco na campanha. Ele ganha espaço nobre com suas declarações e ao responder a críticas, e obteve mais tempo na TV fechada que todos os outros candidatos republicanos [na fase de escolha, pelo partido, do adversário de Hillary Clinton]. Ele é disponível, controverso e representa uma novidade. No mundo de Trump, não existe publicidade ruim”, comentou George Edwards III, lembrando também que Trump parece não se importar com o fato de nomes como George Bush e George W. Bush, pai e filho, ex-presidentes republicanos, não estarem do seu lado. O mesmo ocorre com deputados e senadores de seu partido e parte da mídia de direita, que têm declarado intenção de votar na candidata democrata.
Chamado à urna
Se conquistar apoio mais qualificado em seu próprio partido é um desafio maior para Trump que para Clinton, há outro dilema comum aos dois candidatos, segundo o pesquisador da universidade texana. Ambos se obrigam a reverter uma tendência histórica: jovens democratas e a classe trabalhadora são pouco assíduos nos locais de votação. Os dois partidos precisam convencer essas faixas do eleitorado a comparecer às urnas.
Ao especular sobre o futuro, George Edwards disse que nem Donald Trump, nem Hillary Clinton terão “mandato real”, que poderia se traduzir por legitimidade no Congresso e por parte da opinião pública. Primeiro, porque os votos terão sido em grande parte contra o oponente, e não propriamente a favor de um ou outro. “Também porque, no caso de Hillary, os republicanos nunca a apoiarão, porque a odeiam; no caso de Trump, porque, em razão de suas posições e de seu temperamento, tende a sofrer oposição radical. Serão tempos difíceis para ele ou para ela”, analisou o cientista político.