Com a marca dos 90

Dada a largada

UFMG abre as comemorações de seus 90 anos com o desafio de respeitar a sua memória e garantir a continuidade de um projeto de qualidade e inclusã

Jaime Ramirez: respeito ao passado
Jaime Ramirez: respeito ao passado Foca Lisboa/UFMG

Ao abrir as comemorações dos 90 anos da UFMG, que classificou como um “momento ritualístico”, o reitor Jaime Ramírez afirmou que a atual geração que integra a UFMG tem enorme desafio pela frente. “Precisamos respeitar a nossa memória e o nosso passado, ter a consciência dos desafios do presente, sobretudo em tempos nebulosos, e anunciar o futuro de nossa instituição – que se depender de nossa geração será de qualidade, de referência, com inserção social e, sobretudo pública e gratuita, para concretizar o sonho daqueles que ainda não conhecemos”.

A cerimônia, realizada no dia 8 de -setembro, na Sala de Sessões do prédio da Reitoria, também contou com lançamentos de hotsite sobre os 90 anos, de vídeo com ‘pílulas’ sobre fatos marcantes da história da instituição e de selo que vai ilustrar produtos informativos e de comunicação alusivos à programação nos próximos 12 meses [leia mais na página ao lado]. Também participaram da solenidade a vice-reitora Sandra Goulart Almeida, pró-reitores e dirigentes da UFMG e reitores das últimas três gestões: Ana Lúcia Gazzola (período 2002-2006), Ronaldo Tadêu Pena (2006-2010) e Clélio Campolina Diniz (2010-2014).  

Jaime Ramírez agradeceu aos diretores, pela parceria cotidiana, e aos reitores que o antecederam no comando da UFMG. “Cada um a seu jeito e no seu tempo preparou as gerações seguintes para dar continuidade a essa obra”, disse o reitor, que fez um pronunciamento emocionado.

Homenagem

Sandra Almeida homenageou o professor José Carlos Meihy: histórias de desafogo
Sandra Almeida homenageou o professor José Carlos Meihy: histórias de desafogo Foca Lisboa/UFMG

Um dos pontos altos da cerimônia foi a entrega de uma placa ao professor e historiador José Carlos Sebe Bom Meihy, que doou para a UFMG os cadernos microfilmados da escritora Carolina Maria de Jesus, 21 gravuras de Candido Portinari sobre a obra-prima de Miguel de Cervantes, Dom Quixote de la Mancha, e o exemplar raro da publicação D. Quixote: Cervantes, Portinari, Drummond, que inspirou a exposição D. Quixote – Portinari e Drummond: releituras de Cervantes, aberta ao público no saguão da Reitoria. A mostra foi organizada pela Diretoria de Ação Cultural (DAC), com curadoria do professor Fabrício Fernandino.

“Esses acervos representam dádivas de grande valor”, disse a vice-reitora Sandra Almeida. A ideia de presente, aliás, é um dos principais motes das comemorações. “Nós damos presentes maravilhosos e também recebemos. Os presentes doados pelo professor José Carlos Meihy são exemplos disso”, afirmou a vice-reitora.

Surpreso com a homenagem, Meihy, que é vinculado à USP, disse que os acervos foram “doados de coração”. “Eles têm uma história de desafogo. Um grande momento na vida de uma pessoa é quando ela completa 60 anos, pois passa a pensar como vai viver o resto de seus dias e o que fazer em vida com as coisas que acumulou.”

 “Portinari, Pampulha, Drummond, Carolina [Maria de Jesus], que é mineira, tudo conduzia para Minas"

Sobre os escritos de Carolina Maria de Jesus, à disposição para consulta no Acervo de Escritores Mineiros, José Carlos Meihy lembrou que a UFMG é uma das três únicas instituições do mundo a contar com essa coleção – as outras são as bibliotecas Nacional, no Rio de Janeiro, e a do Congresso dos Estados Unidos.

Em relação às 21 gravuras de Portinari, Meihy contou que elas foram um presente de casamento de sua esposa. Durante muitos anos ficaram guardadas em um armário em casa. Sua decisão de doar o material para a UFMG foi influenciada por uma relação sentimental que mantém com Minas Gerais e os mineiros. Ele contou que a primeira viagem marcante de sua vida teve Belo Horizonte como destino. Aqui, ele se encantou pelos painéis de Portinari que adornam a parte externa da Igrejinha da Pampulha, projetada por Oscar Niemeyer. “Portinari, Pampulha, Drummond, Carolina [Maria de Jesus], que é mineira, tudo conduzia para Minas. Por isso, decidi que esses acervos tinham que ficar aqui”, disse o professor, que é amigo dos professores Constância Lima Duarte e Eduardo de Assis Duarte, da Faculdade de Letras, que intermediaram as doações.

Cara da UFMG

Ana Lúcia, Ronaldo Pena, Clélio Campolina
Ana Lúcia, Ronaldo Pena, Clélio Campolina Foca Lisboa

Os professores Ana Lúcia Gazzola, Ronaldo Tadêu Pena e Clélio Campolina Diniz, que antecederam o reitor Jaime Ramírez no comando da UFMG, também prestigiaram a cerimônia. Ana Lúcia, que ingressou, ainda na adolescência, no antigo Colégio Universitário, se diz profundamente identificada com a Universidade. “Já me disseram que eu tenho a cara da UFMG”, relatou, acrescentando que aqui recebeu ótimos presentes e “passou os melhores tempos de sua vida”.

Seu sucessor na Reitoria, Ronaldo Pena, outro que entrou na UFMG por meio do antigo Colégio Universitário, também manifestou seu orgulho de um dia ter dirigido a Instituição. “Quando me pediam para fazer um resumo do meu currículo, eu dizia apenas o seguinte: reitor da UFMG. Não há título acadêmico maior do que este.”

O professor Clélio Campolina Diniz, cujo vínculo com a UFMG já dura quatro décadas, aposentou-se recentemente em razão do limite de idade, mas ainda continua exercendo atividades de pesquisa na Face. “Eu vim de outra instituição e entrei aqui porque queria construir uma carreira de professor universitário”, revelou. Para ele, a “UFMG é um patrimônio de Minas” e parte importante de um sistema de ciência, tecnologia e inovação, que é fundamental para a construção de um “país mais justo, solidário e menos desigual”.

Representação da dádiva

Selo de comemoração 90 anos UFMG
Selo de comemoração 90 anos UFMG Cedecom UFMG

Durante a abertura das comemorações dos 90 anos da UFMG, foi lançado o selo que estará presente, ao longo dos próximos 12 meses, em peças gráficas, vídeos, apresentações digitais, websites e outros produtos relativos às festividades no âmbito da Universidade.

O selo explora as formas circulares dos algarismos que formam o número 90 para transmitir o conceito de dádiva e retribuição que marca as relações no universo acadêmico. O desenho faz referência também, segundo o designer Marcelo Lustosa, coordenador de criação do Centro de Comunicação da UFMG (Cedecom), ao movimento Art Déco, das artes e da arquitetura, presente em Belo Horizonte à época em que se reuniram escolas e faculdades para a criação da Universidade de Minas Gerais (UMG), em 1927.

Essa referência aparece em traços que sugerem a organicidade geométrica do Art Déco. Por fim, o selo dos 90 anos também lembra um relógio, que remete à ideia de tempo. O selo foi criado por Felipe Parreira e Marcelo Lustosa.

Na programação da TV UFMG e em outros ambientes compatíveis com o recurso, o selo será mostrado em animação de 10 segundos, produzida por Ian Lara, em que movimentos repetidos constroem o desenho. A marca em movimento reforça a ideia de circularidade como característica da construção de conhecimento na universidade.

A animação tem trilha sonora do professor Fernando Rocha, da Escola de Música. Ele gravou sons como o de sino, da Kalimba (instrumento de percussão africano) da água e manipulou no computador. “A primeira parte da animação, que forma o número 90, ganhou melodia mais marcante e sincronizada com os movimentos. O trecho em que aparece o nome UFMG tem base do som da água, que associo à vida e ao futuro” explica Fernando Rocha.

As instruções para uso do selo que ilustrará todas as peças institucionais no próximo ano estão divulgadas no hotsite dos 90 anos, que também entrou no ar na semana passada. A página será alimentada com informações sobre a programação, reportagens e histórias – depoimentos e documentários.

Da redação