Reginaldo Ramos, de nome indígena Akanawan Baênã Hãhãhãe Txitxiáh, 44, é natural do sul da Bahia e cursa a Formação Intercultural para Educadores Indígenas desde 2015. “Antes de ir para Belo Horizonte eu imaginei que encontraria algo muito distante de minha cultura, mas quando cheguei à Faculdade de Educação, me surpreendi por encontrar uma grande aldeia com diversos povos, uma grande família”, relata.
Reginaldo já atuava na educação de seu povo, Pataxó Hãhãhãe, antes de entrar na universidade e explica a importância de uma graduação voltada para o ensino indígena. “Ter o ensino voltado para nossos costumes e nosso modo de vida mantém mais forte nossa identidade e com certeza muda o jeito de ensinar em nossas aldeias. Eu já atuo na sala de aula há 20 anos e desde 2015 tenho ganhado mais experiência e aprendido um novo jeito de ensinar”.
A Formação Intercultural para Educadores Indígenas (Fiei) é um curso regular da UFMG desde 2009, que visa formar educadores indígenas para atuarem em suas comunidades. Desde seu início, o curso foi construído em conjunto por acadêmicos da Universidade e lideranças indígenas, que estão presentes em todo o percurso de formação dos alunos.
O Conselho Consultivo Indígena, formado por lideranças de diversas etnias, debate questões relativas ao curso e traz demandas das comunidades. O conceito chave do Fiei é a interculturalidade: em um curso em que diferentes idiomas e culturas de diversos povos indígenas estão em constante diálogo, a troca de conhecimentos é fundamental. “Nós vamos para a universidade buscar um conhecimento científico e, dentro da aldeia, nós podemos juntá-lo com o conhecimento tradicional para passar para nossos alunos. É muito prazeroso ter essa troca de saberes, em que nós também somos pesquisadores e nossos anciãos são fonte de conhecimento”, afirma Reginaldo.
A forma de ingresso, ao contrário de outras graduações da UFMG, não é pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e sim pelo vestibular específico do curso. Também é necessário apresentar uma documentação que confirme a autodeclaração indígena.
São ofertadas quatro habilitações de licenciatura: ciências da vida e da natureza; ciências sociais e humanidades (que abrange sociologia, história e filosofia); línguas, artes e literatura; e matemática. A oferta das habilitações não é simultânea, ou seja, a cada ano é ofertada uma das quatro áreas. Importante ressaltar que, embora alguns alunos já atuem com educação antes de iniciar a faculdade, esse não é um pré-requisito.
Atualmente a Fiei atende 140 estudantes indígenas de cinco etnias diferentes: xacriabá, maxacali, guarani, pataxó e pataxó hãhãhãe. O curso é presencial e ocorre em regime de alternância: a cada semestre os alunos passam cinco semanas em Belo Horizonte, com aulas no campus Pampulha, e então retornam às aldeias para realizar atividades com a comunidade. Nesse tempo, a equipe de professores e bolsistas de pós-graduação da Fiei também vão a campo, realizando atividades juntamente com os estudantes.
A colação de grau dos estudantes indígenas é feita, como as demais, na Reitoria da UFMG, mas transforma-se em uma grande celebração de compartilhamento e dádiva, registrada em vídeo pela TV UFMG.
Para auxílio durante o tempo em Belo Horizonte, os estudantes podem solicitar a Bolsa Permanência do Ministério da Educação.
PARA SABER MAIS
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Avaliação no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade): curso ainda não foi avaliado