Arte sonora é tema de exposição no Centro Cultural
Um panorama da presença poética do som como fenômeno e matéria nas práticas artísticas, em seus aspectos visuais e táteis, é traçado pela exposição Arte sonora, dos artistas Amir Brito Cadôr e Ulisses Carvalho, que ocupa a Grande Galeria do Centro Cultural UFMG.
Aberta à visitação até 25 de setembro, a exposição é composta de duas mostras simultâneas, uma coletiva e uma individual, que apresentam diferentes tipos de arte sonora. A coletiva reúne publicações da coleção Livro de artista da UFMG, complementada com o acervo da editora 55SP e coleções particulares. A outra mostra, Plástica sonora, exibe trabalhos de Ulisses Carvalho, resultado de sua pesquisa no Programa de Pós-graduação em Artes da Escola de Belas Artes da UFMG, sob a orientação de Amir Cadôr.
Com curadoria dos dois artistas, a mostra coletiva reúne obras que materializam o som. Encontradas em galerias de arte, livrarias e lojas de disco, elas são passíveis de edição. São revistas e livros com áudio, discos e capas de discos criadas por artistas, partituras gráficas e livros de artista que sugerem uma partitura por meio de colagens, onomatopeias ou escritas assêmicas.
O som nos livros aparece por meio da escrita. Em Raquel Stolf, surge nas suas tipologias sonoras; em Christian Marclay, nas colagens de histórias em quadrinhos que sugerem uma partitura em obra; em Montez Magno, emergem nos desenhos sobre partituras, sugerindo novas sonoridades; em Yuri Bruscky, especialmente no livro Tartamudo, que acompanha seu disco, o som está nas traduções gráficas da composição sonora.
Nos discos de artista, o público poderá conhecer os trabalhos de Antonio Dias, Brígida Baltar, Cildo Meireles, Dieter Roth, Eduardo Kac, Milan Knížák e Vivian Caccuri, além de obras de poesia sonora de Alex Hamburger e do artista mexicano Ulises Carrión.
Outro destaque da mostra são as obras criadas para a capa do disco, incluindo o famoso álbum da banda The Velvet Underground, com capa assinada por Andy Warhol e Talking Heads em edição especial criada por Robert Rauschenberg.
Estarão expostas, também, partituras de Dick Higgins, Neo Muyanga, Jorge Macchi e Mungo Thomson ao lado da partitura da peça para piano 4’33”, de John Cage, compositor e professor norte-americano que teve grande influência nos anos 1960.
Impressões acústicas
Em outra sala da galeria, Ulisses Carvalho apresenta duas séries de trabalhos bidimensionais, desenhos e serigrafias, que buscam traduzir o som em grafismo. Na série Impressões acústicas, imagens de instrumentos e objetos sonoros fragmentados são sobrepostas inúmeras vezes, embaralhando a visualidade. Em Sobrepunho, objetos musicais são contornados com caneta, e os desenhos, sobrepostos.
Improvisação
Completando o conjunto, há uma peça sonora de Carvalho dividida em três momentos sequenciais. Em Abertura (2022), a partitura é escrita ao vivo, adicionando notas sobre a pauta musical por meio da ação de uma furadeira em uma pilha de partituras em branco, explorando o som desse processo.
Logo depois, em Que balbúrdia é essa? (2022), o artista improvisa uma composição musical apoiada na bateria de Pedro Fontenelle e guitarra, que servirão de pano de fundo musical para a construção de Parasita, escultura sonora produzida pelo ato de furar o instrumento e serrar a caixa de som.
A vibração sonora causada pela ação dos furos e cortes dos materiais tenta jogar com a estrutura rítmica do fundo musical improvisado. O resultado sonoro será reunido, posteriormente, em um disco de vinil.
Trajetórias
Amir Brito Cadôr é artista e professor de Artes Gráficas na Escola de Belas Artes da UFMG. Fez a curadoria de exposições sobre livros de artista no Centro Cultural São Paulo (SP), Centro Cultural UFMG, Sesc Pompeia (SP), Museu de Arte da Pampulha (MG) e Cabinet du Livre d’Artiste, em Rennes, França. É curador da coleção Livro de artista da UFMG. Atualmente, trabalha em um livro sobre as publicações de artista no Brasil.
Ulisses Carvalho trabalha em Belo Horizonte com artes visuais, integrando mídias diversas como design gráfico/web, som e fotografia. Ele é bacharel em Gravura e Fotografia pela Escola Guignard, da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Em 2008, especializou-se em Artes Plásticas Contemporâneas na mesma instituições. Participou de exposições no Brasil e no exterior. Atualmente, é mestrando no Programa de Pós-graduação em Artes da UFMG. Sua dissertação trata da materialidade do som.