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Amor e democracia: Evandro Lemos e Lúcia Pimentel são os novos eméritos da UFMG

Distinção foi concedida aos dois docentes da EBA em cerimônia realizada na última sexta-feira

Lucia Gouvêa Pimentel e Evandro José Lemos da Cunha são os novos professores eméritos da UFMG
Lucia Gouvêa Pimentel e Evandro José Lemos da Cunha são os novos professores eméritos da UFMG Foto: Foca Lisboa | UFMG

As trajetórias de carreira ligadas à luta pela democracia e ao amor foram abordadas durante a cerimônia que concedeu o título de professor emérito a Evandro José Lemos da Cunha e Lucia Gouvêa Pimentel, da Escola de Belas Artes (EBA) da UFMG. A cerimônia que reuniu a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, professores, servidores e estudantes destacou a estreita relação entre a vida dos homenageados e a história da Escola.

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Froner: reconhecimento do trabalho de Evandro na gestãoFoto: Foca Lisboa | UFMG

O professor Evandro, que foi diretor da Escola de Belas Artes por três mandatos e pró-reitor de Extensão da UFMG, foi saudado pela professora Yacy Ara Froner, do Departamento de Artes Plásticas da EBA. Yacy lembrou que, além da sua atuação no ensino e na pesquisa, Lemos foi um grande gestor, que teve papel importante para a ampliação dos cursos ofertados na unidade. No campo educacional, ele foi um dos responsáveis pela criação do mestrado em Artes da Escola, em 1995, e do doutorado, em 2006. Evandro Lemos também implementou o curso de graduação em Cinema de Animação e Artes Digitais, em 2010.

“Não conheci, nos quadros da UFMG, ninguém tão gentil, cortês e respeitoso quanto o professor Evandro, principalmente servindo por tanto tempo em cargos administrativos, reconhecidamente um lugar complexo para todos que vivenciam essa posição. Somos uma comunidade de artistas, professores, pesquisadores e funcionários que cresceu exponencialmente após o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidade Federais (Reuni), graças ao seu empenho e à sua maestria”, disse Yacy-Ara.

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Patrícia de Paula: Lúcia pensou o currículo como rede de conexões
Foto: Foca Lisboa | UFMG

As contribuições que a professora Lucia Gouvêa Pimentel deu à UFMG também foram lembradas, em especial sua dedicação às pesquisas sobre a licenciatura de artes. “Lucia  foi pioneira na reflexão e na proposição curricular para os cursos de Licenciatura em Artes Visuais. Ela pensou o currículo não como grade, mas como rede de conexões que contemplava efetivamente o trânsito entre as áreas para a formação do professor-artista-pesquisador”, explicou a professora Patrícia de Paula Pereira, também do Departamento de Artes Plásticas da EBA e responsável pelo discurso de homenagem à professora Lucia Pimentel.

A reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida, agradeceu à contribuição dos dois professores para a Escola de Belas Artes e para a UFMG, destacando que ambos nunca serão esquecidos. "A trajetória de Evandro e Lucia nos faz reconhecer o legado de pessoas que contribuíram com a esperança de dias melhores. O título é outorgado pela UFMG, mas o legado dos dois transborda. A UFMG é o que é devido à contribuição de seus membros."

'Vida que foi e continua sendo vivida'
Patrícia contou que conhece Lucia há 23 anos. Foi aluna dela na graduação, na iniciação científica, no mestrado e em grupos de pesquisa, e ainda iniciou com Lúcia as atividades docentes na Licenciatura em Artes Visuais. Patrícia evocou a escritora e ativista Bell Hooks para relacionar a trajetória de Lucia ao "amor que é desvinculado das ilusões românticas e colocado como desafio e busca das práticas libertadoras da vida". Ela destacou que, nos diversos aspectos, a vida de Lucia sempre esteve permeada pelo amor, das relações familiares e de amizade ao exercício da profissão. 

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Lucia: dedicação às artesFoto: Foca Lisboa | UFMG

“Falar de Lucia é pensar na mulher-professora-artista-pesquisadora de personalidade forte e marcante, extremamente inteligente e dedicada, mas também na pessoa do carinho, do afeto, do acolhimento e, sem dúvida, do amor. A trajetória de Lucia faz reviver memórias, formando um movimento potencializador de ações humanamente artísticas e pedagógicas que confluem também para ações de posicionamentos políticos corajosos, desafiadores e contaminadores do amor”, disse Patrícia.

Muito emocionada, Lucia Gouvêa Pimentel enfatizou que dedicou 47 anos de sua vida à UFMG, com passagens pelo Centro Pedagógico (CP) e pelo Colégio Técnico (Coltec). Segundo ela, essas passagens a ensinaram a nunca perder a infância e a juventude. “A UFMG é, para mim, a vida que foi e continua sendo vivida, sempre em companhia de pessoas muito especiais. Sou muito grata por tudo que essa Universidade me proporcionou.” 

Passou um filme
Professor, cineasta e roteirista, Evandro José Lemos da Cunha usou os vetores democrático e cinematográfico como linhas condutoras do discurso que proferiu, contando sobre sua vida pessoal e profissional, dentro e fora da UFMG. Ele começou dizendo que o roteiro de um filme que abordasse a sua vida mostraria que a política e a luta democrática sempre estiveram relacionadas aos seus passos. 

Lemos contou que passou a infância em Patos de Minas, cidade que oferecia poucas oportunidades educacionais, e enfrentou obstáculos para ingressar na universidade. Com muita dificuldade, ele ingressou no curso de Comunicação Social da PUC Minas e teve a primeira experiência com o audiovisual no recém-criado estúdio de televisão da instituição. “Essa época também foi de início de envolvimento político e com o movimento estudantil. Fui vice-presidente do Diretório Acadêmico e membro da diretoria do Diretório Central dos Estudantes (DCE)”, rememorou.

Evandro: muito feliz
Evandro: grande apego à UFMGFoto: Foca Lisboa | UFMG

No início dos anos 1970, o professor passou a integrar um grupo de trabalho pioneiro no estado para a implementação do núcleo de produção para a futura TV Educativa de Minas Gerais, a TV Minas, e, mais uma vez, a política atravessou o seu caminho. “A programação foi considerada muito ‘à esquerda’ pelo Serviço Nacional de Informações (SNI) da época, e toda a equipe foi dispensada. Isso nos custou algumas portas quebradas na república onde eu morava por conta de uma truculenta batida dos agentes da Delegacia de Ordem Política e Social, o Dops”, revelou.

Evandro lemos contou que a UFMG mudou bastante a partir das décadas de 1980 e 1990, quando os debates políticos foram reavivados, e a Universidade se tornou mais participativa, viva, alegre e muito mais aberta e democrática em todas as suas áreas. “De lá pra cá, vivi muita coisa na UFMG. Não sei se o meu trabalho na Universidade justifica o merecimento dessa importante titulação, mas sei afirmar que é sincero meu apego por essa grande Instituição, que tanto me proporcionou prazerosas oportunidades intelectuais, profissionais e criativas, além de naturalmente pessoais e afetivas”, concluiu.

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Da esquerda para a direita, estiveram presentes na cerimônia: o vice-diretor da EBA, Adolfo Cifuentes, o vice-reitor da UFMG, Alessandro Moreira, o novo professor emérito, Evandro Lemos, a reitora Sandra Goulart Almeida, a nova emérita, Lucia Gouvêa Pimentel, o diretor da EBA, Cristiano Gurgel Bickel, e a reitora na gestão 2002-2006, Ana Lúcia GazzolaFoto: Foca Lisboa | UFMG

Luana Macieira