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Andréa Zhouri, da UFMG, assume presidência da Associação Brasileira de Antropologia

Os professores Rubens Alves da Silva e Nilma Lino Gomes, homenageada com a Medalha Roquete Pinto, passam a integrar os conselhos fiscal e científico da entidade

And´réa Zhouri, professora do Departamento de Sociologia e Antropologia é a primeira da UFMG a presidir a ABA
Andréa Zhouri: antropologia em defesa dos direitos, da pluralidade e da vidaFoto: Reprodução | ABA

A chapa Corpos, territórios e meio ambiente: a antropologia em defesa dos direitos, da pluralidade e da vida, encabeçada pela professora Andréa Zhouri, do Departamento de Antropologia e Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), venceu a eleição para a direção da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). O resultado foi anunciado no início deste mês, no final da Assembleia Geral Ordinária da 33ª Reunião da entidade

Pela primeira vez, em sete décadas, a UFMG ocupa a presidência da Associação. O professor Rubens Alves da Silva, da Escola de Ciência da Informação, foi eleito para o conselho fiscal (2023-2024), e a  professora emérita da Faculdade de Educação Nilma Lino Gomes, para o Conselho Científico (2023-2026). Na ocasião, ela também foi agraciada com a Medalha Roquete Pinto por sua contribuição à Antropologia.

“É uma enorme honra para todos nós ocuparmos esse espaço de gestão desta que é a mais antiga e uma das mais respeitadas associações cientificas do país. Pessoalmente, tenho uma gratidão profunda à ABA por sua contribuição para a minha formação como antropóloga, desde o curso de mestrado nos anos 1980, quando eu comecei a frequentar as reuniões e a aprender com os debates e conhecimentos compartilhados”, afirmou Andréa Zhouri em seu discurso, durante a Assembleia Geral Ordinária, que integrou a programação da reunião.  

A professora agradeceu às gestões anteriores e reafirmou seu compromisso com a responsabilidade que a missão enseja, “não apenas em razão da relevância de uma associação como a ABA e toda a tradição que ela carrega – resultado, aliás, dos esforços e das contribuições daqueles que nos precederam –, mas também frente aos desafios que seguramente teremos pela frente”.

“Nossa chapa foi montada com a preocupação de ser representativa e, de fato, plural. Temos diversidade regional bastante grande e pluralidade étnico-racial e de gênero. Há na diretoria mulheres de diferentes estados brasileiros, pessoas negras e indígenas. É a primeira vez que a ABA terá um diretor indígena, o professor Tonico Benites, do povo Guarani-Kaiowa", anunciou Andréa Zhouri. "É um reconhecimento não apenas da nossa trajetória de pesquisa acadêmica, mas da sua interface incontornável e de seu compromisso com a defesa da democracia, dos direitos das minorias étnicas e sociais, da equidade ambiental, enfim, um reflexo do árduo trabalho conduzido no âmbito do grupo de pesquisa em temáticas ambientais da UFMG, o Gesta-UFMG, que completa 21 anos de existência neste ano, com trabalhos consistentes e ininterruptos de extensão universitária”, acrescentou.

Medalha Roquete Pinto
A professora emérita da Faculdade de Educação Nilma Lino Gomes foi agraciada, durante a solenidade de abertura do evento, com a Medalha Roquette Pinto por sua contribuição à Antropologia. "Essa homenagem, que também já foi entregue ao meu amigo e orientador no doutorado, professor Kabengele Munangae, e a outros antropólogos e antropólogas de renome nacional e internacional, só aumenta meu sentimento de alegria e de responsabilidade”, afirmou.

A diretora da ABA Luciana de Oliveira Dias apresentou a professora Nilma e lembrou que a homenageada, mineira de Belo Horizonte, formou-se em Pedagogia na UFMG, "no mesmo ano da promulgação da Constituição de 1988, aquela que colocou a educação como dever do estado". Ela descreveu a trajetória de Nilma Lino Gomes como "um constante movimentar-se. Movimentação em defesa da educação, do combate ao racismo, ao preconceito e à discriminação racial".   

Em seu discurso, Nilma recordou seu primeiro contato com a ABA, nos anos 1990, em uma das reuniões anuais, em Salvador. "É uma instituição cada vez mais madura, plural e diversa, étnica e racialmente", afirmou a pedagoga e mestre em Educação pela UFMG, doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), com estudos de pós-doutorado em Sociologia pela Universidade de Coimbra (Portugal) e em Educação pela UFSCar. No último dia 5, Nilma recebeu a Medalha Reitor Mendes Pimentel por sua contribuição à UFMG.

"Ser agraciada com a Medalha Roquete Pinto, de contribuição à Antropologia brasileira, foi uma honra para mim. Eu a recebi não somente em meu nome, mas de todos, todas e todes que lutam pela liberdade democrática, pelo direito à cultura e por uma vida com direitos. Eu a recebi em meu nome e da minha ancestralidade negra, pois sei que não ando só. Junto comigo está uma história, caminham vidas negras que se dedicam a lutar pela liberdade, contra a escravidão, contra o racismo, pela democracia, pela verdadeira independência da nossa sociedade, que extrapola os 200 anos da Independência oficial, comemorada em 2022 de forma cristalizada por muitas instituições conservadoras. As lutas e as vidas negras ressignificam a própria ideia de independência. Trazem potentes indagações para a cultura e para o campo da Antropologia", completou.

Luciana Dias apresentou a homenageada Nilma Lino Gomes, em solenidade virtual
Luciana Dias (à esquerda) apresentou a homenageada Nilma Lino Gomes, em solenidade virtual Captura de tela

Teresa Sanches