Institucional

Burocracia dificulta avanço da integração universidade-empresa, alerta reitora da UFMG

Sandra Goulart Almeida participou de fórum da CNI, que reuniu representantes dos meios empresarial e acadêmico

Sandra Goulart em mesa com representantes da indústria:
Sandra Goulart em mesa com representantes dos segmentos acadêmico e empresarial: 'com a faca e o queijo na mão'Foto: Iano Andrade | CNI

As empresas querem trabalhar, as universidades desejam cooperar, e o atual governo está disposto a fomentar essa interação. No entanto, há nós que precisam ser desatados no âmbito da burocracia pública, como nas procuradorias jurídicas e nos órgãos públicos de controle, para que a integração universidade-empresa possa deslanchar efetivamente. O alerta foi feito pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida durante sua participação no 3º Fórum de Articulação ICT-Empresa, realizado na última sexta-feira, 29 de setembro, no escritório da Confederação Nacional de Indústria (CNI), em São Paulo. O evento reuniu cerca de 30 representantes dos meios acadêmico e empresarial.

“Essa conexão é importantíssima, a universidade tem grande predisposição em cooperar, e o governo tem feito o seu trabalho. Estamos com a faca e o queijo na mão”, sentenciou a reitora. Ela avaliou, porém, que há obstáculos que precisam ser transpostos, principalmente no campo da burocracia. Como exemplo, Sandra Goulart citou o marco legal da inovação, aprovado em 2016. “É uma lei avançada para o Brasil, mas extremamente burocrática. As universidades e as empresas não a conhecem, e a CGU e o TCU, que são órgãos de controle, não entendem como funciona e como se implementa”, disse a reitora, que destacou a experiência da própria UFMG com o marco legal. “Aprovamos recentemente [em 2022] a nossa política de inovação. E começamos a descobrir o que pode ser feito no âmbito do marco legal: “E a palavra é esta: ‘descobrir’”, sublinhou. “Há coisas que não sabemos como usar. Começamos a perceber que há várias possibilidades de parcerias com as empresas que, muitas vezes, desconhecemos."

Esse processo de descoberta, segundo a reitora da UFMG, abrange instrumentos como vitrines tecnológicas, acordos de pesquisa e desenvolvimento e alianças estratégias – como a cooperação firmada neste ano com a farmacêutica Merck – e as chamadas encomendas tecnológicas, centradas no atendimento de demandas específicas do setor empresarial. “Tudo isso existe como possibilidade, mas precisa ser desburocratizado”, insistiu a dirigente.

Tríplice aliança
Anfitriã do encontro, a diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio, asseverou que não há possibilidade de o país avançar nas áreas da ciência, tecnologia e inovação (CT&I) se não por meio da chamada tríplice-aliança, caracterizada pela união entre o poder público, o setor privado e a academia. “Para além do seu papel essencial como espaços de debate, formação e de pesquisa de qualidade, as universidades podem atuar, e muitas atuam, como catalisadoras de inovação e de desenvolvimento”, destacou Sagazio. “Defendemos um papel estratégico para as parcerias e colaborações que as universidades e os centros de pesquisa realizam com empresas e que geram impactos significativos para a sociedade e a economia”, acrescentou.

Ex-ministro da Educação e atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro endossou o panorama apresentado pela reitora Sandra Goulart. De acordo com ele, a academia está cada vez mais envolvida em projetos em parceria com a iniciativa privada, caminho natural para fazer a pesquisa avançar no Brasil. "Universidades não têm receio de trabalhar com empresas", concluiu.

A reunião, transmitida pelo canal da CNI no YouTube, continua disponível na plataforma.

Com informações do Portal CNI