Dirigentes defendem cooperação como norte para as universidades da América Latina
Seminário da AUGM foi aberto neste domingo no Conservatório UFMG
A educação superior como direito humano e dever do Estado, o papel das universidades na integração da América Latina e a busca de soluções comuns para problemas comuns representam ideias-chave que estabelecem um grande consenso entre os reitores e dirigentes da área de educação que participaram, na noite deste domingo, dia 4, da abertura do seminário Universidade – sociedade – Estado: Rumo à CRES+5: Desenvolvimento social, integração regional e o papel das universidades, promovido pela Associação das Universidades do Grupo Montevidéu (AUGM).
Tradicional evento realizado no âmbito da entidade, o seminário, cuja atividade inaugural foi realizada no Conservatório UFMG, promoverá ao longo desta segunda-feira, dia 5, um amplo debate sobre o papel das universidades latino-americanas com vistas à Conferência Regional de Educação Superior (CRES+5), que será realizada em março de 2024, em Brasília.
Anfitriã do seminário, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, presidente da AUGM, destacou o fato de o evento reunir, pela primeira vez, três dirigentes dos ministérios da Educação da Argentina, do Brasil e Chile: Oscar Alpa, secretário de Políticas Universitárias da Argentina, Rui Oppermann, diretor de Relações Internacionais da Capes, órgão vinculado ao Ministério da Educação brasileiro, e Victor Orellana, subsecretário de Educação Superior do Chile.
Além dessa presença institucional, a atual edição do seminário da AUGM ganhou relevância especial por ser a primeira de uma série de eventos preparatórios para a CRES+5. “Historicamente, as conferências na América Latina e no Caribe têm sido importantes fóruns de defesa da educação superior na região”, afirmou a reitora Sandra Goulart, mencionando os encontros anteriores, realizados em Havana, Cuba, em 1996, em Cartagena, Colômbia, em 2008, e em Córdoba, Argentina, em 2018. Sobre o último, Sandra lembrou que ele marcou a celebração dos 100 anos da Reforma Universitária de Córdoba, inaugurando o debate sobre temas que “ainda hoje fazem parte de nossas pautas, entre eles, a autonomia universitária, a educação inclusiva e a liberdade de cátedra e de expressão”.
“Foi nessa conferência que reforçamos a crença inabalável no papel da educação como instrumento para combater as desigualdades, a injustiça social e a violência física e simbólica, tão marcantes em nosso continente”, destacou a reitora e presidente da AUGM, antes de citar os princípios que “reforçam o espírito da Reforma de 2018”: a educação superior como bem público e social, a luta contra a mercantilização do ensino superior e o seu caráter público.
Outro aspecto abordado no discurso de Sandra Goulart foi a necessidade de uma integração regional alinhada com os valores cultivados pela AUGM, rede formada por 41 universidades de seis países. “Devemos perseguir uma cooperação internacional em bases comuns e de caráter horizontalizado, ou seja, uma cooperação solidária. Creio que temos avançado nesse sentido”, avaliou.
Voz autorizada
A fala da reitora foi corroborada pelos dirigentes que participaram da mesa de abertura do seminário. Ao destacar o “brilho e a liderança” da UFMG, o diretor de Relações Internacionais da Capes, Rui Oppermann, deixou uma mensagem de esperança em seu pronunciamento. “Estamos saindo de uma crise pandêmica, e ventos democráticos reforçam a perspectiva da educação pública como direito da sociedade e dever do Estado. Nossa reunião tem muito a contribuir com esse cenário”, avaliou o diretor, que ressaltou uma particularidade da educação superior da América Latina. "Diferentemente do que ocorre em outros lugares, ela sempre esteve enraizada e se relacionou fortemente com a sociedade", disse Oppemann, que é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Francesc Pedró, diretor do Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior na América Latina e Caribe (Iesalc), elogiou a atuação da AUGM, a qual considera “uma voz autorizada e uma grande interlocutora da Unesco”.
Victor Orellana, subsecretário de Educação Superior do Chile, afirmou que a região vive um momento histórico e precisa “encontrar caminhos de confluência para enfrentar problemas comuns”. E advertiu: “Não há receita a copiar”.
Oscar Alpa, secretário de Políticas universitárias da Argentina, defendeu a necessidade de fortalecer a educação superior como um direito humano. “Encontros como esse, a exemplo das conferências de Córdoba e de Barcelona [sede da terceira edição da conferência mundial da Unesco, realizada em 2022] reforçam esse direito”, afirmou.
O evento deste domingo marcou ainda o início das atividades do SciBioSus, congresso internacional que reúne pesquisadores, estudantes e o público em geral para ouvir experiências, propostas e reflexões sobre a relação entre a ciência e as mudanças climáticas, e o efeito delas na vida dos povos indígenas e das comunidades tradicionais. A organizadora do SciBioSus, professora Jacqueline Takahashi, pró-reitora adjunta de Pesquisa da UFMG, informou que o congresso é produto de várias discussões sobre sustentabilidade realizadas no âmbito da AUGM – uma vez que ele foi proposto pelo Núcleo Disciplinário de Produtos Naturais Bioativos da entidade – e é um dos eventos que celebram o Ano Internacional das Ciências Básicas para o Desenvolvimento Sustentável da ONU.
O seminário Universidade – sociedade – Estado prossegue nesta segunda-feira, dia 5, com quatro mesas-redondas no auditório da Reitoria. O SciBioSus, por sua vez, vai até quarta-feira, dia 7, com atividades no CAD3.