Arte e Cultura

Documentário mostra restauração de pinturas decorativas da Casa Padre Toledo, em Tiradentes

Ornamentos estavam escondidos sob 13 camadas de tinta nas paredes do torreão do prédio do século 18

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Pinturas decorativas estavam escondidas em uma das paredes do Museu Casa Padre ToledoFoto: Alberto Torres | campus Tiradentes

Visitantes do Museu Casa Padre Toledo, em Tiradentes (MG), já podem apreciar as pinturas decorativas que estavam escondidas nas paredes de uma das salas do museu e foram completamente restauradas. O trabalho teve início em janeiro do ano passado e foi finalizado em janeiro deste ano. Documentário produzido pela equipe do Campus Cultural UFMG em Tiradentes traz o registro desse processo e entrevistas que revelam mais detalhes sobre a restauração. 

O documentário Paredes do torreão foi lançado na última quinta-feira, 17 de agosto, Dia Nacional do Patrimônio Cultural. Participam da produção o coordenador técnico do trabalho de restauração, André Andrade, a coordenadora do projeto e presidente da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade (FRMFA), Verona Segantini, e o pró-reitor de Cultura da UFMG, Fernando Mencarelli. 

As pinturas foram redescobertas, provavelmente, na década de 1980. Entre 2010 e 2012, foram realizados diagnósticos e estudos mais aprofundados, mas apenas em 2022 foi possível iniciar os trabalhos de restauração, com aporte de recursos de emenda parlamentar. Uma equipe composta de 11 profissionais, entre restauradores, pesquisadores e técnicos, conduziu o delicado processo, que envolveu a remoção das camadas de repintura, nivelamento e preenchimento de lacunas, trincas e pontos com perda de reboco e, finalmente, a reintegração cromática e a apresentação estética das ornamentações. O processo foi acompanhado por comissão que contribuiu com orientações em relação às intervenções e também com as atividades de formação e divulgação que foram desenvolvidas. 

A pintura é uma rara referência de ornamentação em edificações civis do período colonial. A autoria das pinturas não está documentada, mas o restaurador André Andrade ressalta que são pinturas sofisticadas, e a restauração é uma oportunidade para que pesquisadores possam se aprofundar nos estudos sobre a autoria do trabalho. Andrade explica, no documentário, que as pinturas têm características de estilo bastante específicas. “A imitação de tecido é particularmente rara em edificações de uso residencial e, geralmente, é encontrada em igrejas", pontua.

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Restauradas, pinturas agora propiciarão ações de pesquisa, formação e comunicação museológicaFoto: Alberto Torres | campus Tiradentes

Restauração aberta
Na região do barrado, havia 13 camadas de tinta sobre a pintura decorativa, resultado das diversas intervenções e usos do casarão ao longo dos últimos dois séculos. As pinturas murais, agora totalmente restauradas, serão integradas à edificação e propiciarão ações de pesquisa, formação e comunicação museológica. 

De acordo com Fernando Mencarelli, trata-se, ao que tudo indica, do único exemplar de pinturas parietais que permaneceram no contexto dos bens tombados da cidade de Tiradentes. “Esse trabalho concilia a missão da Universidade de fazer pesquisa e formação por meio dos seus projetos de intervenção, no caso sob as especialidades da conservação, restauração e história da Arte", afirma o pró-reitor.

O processo de restauração pôde ser acompanhado pelos visitantes e, segundo a professora Verona Segantini, presidente da FRMFA, o Museu foi reaberto após o período de isolamento social, com horários de visitação ampliados, para que pudesse receber público espontâneo e grupos interessados em conhecer os processos de restauração então em curso. “Como projeto de extensão, e essa é a parte que considero mais rica e mais importante, nós tivemos uma participação ativa da comunidade ao longo desse processo que se iniciou com a nossa ida às casas dos moradores de Tiradentes, convidando a todos para que estivessem aqui presentes, acompanhando esse ateliê aberto de restauração, que durou quase um ano”, afirma.

Assista ao documentário:

Lançamento celebra Dia do Patrimônio Cultural
A data escolhida para o lançamento do documentário, 17 de agosto, alude ao Dia do Patrimônio Cultural no Brasil, uma homenagem a Rodrigo Mello Franco, que aniversaria nesse dia. Um dos principais agentes públicos do país no campo da cultura, ele acompanhou de perto, no início da década de 1940, a primeira restauração do casarão e reconhecia o valor histórico e artístico da edificação. 

“Sem dúvida, seu trabalho à frente da conformação das políticas de patrimônio no Brasil foi inspiração para a criação da FRMFA e para a musealização da Casa que foi residência do inconfidente Padre Toledo, um dos grandes nomes da Inconfidência Mineira”, afirma Verona Segantini.

O Museu
Em razão de sua representatividade arquitetônica, histórica e artística, o casarão foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1952. Dezenove anos depois, a Casa do Padre Toledo foi transformada em um museu vinculado à FRMFA. 

O imóvel guarda um rico conjunto de forros pintados. Sua principal missão é a preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural, referenciado em suas singularidades arquitetônicas, geradas por diferentes técnicas construtivas tradicionais, como pau-a-pique, adobe e moledo, e seus elementos artísticos integrados.

O museu recebe cerca de 30 mil visitantes por ano. O prédio fica na Rua Padre Toledo, 190, em Tiradentes. Mais informações sobre o museu e suas atividades podem ser obtidas pelo telefone (31) 98378 0157, pelo e-mail campustiradentes@procult.ufmg.br, no site do Campus Cultural e em sua página no Instagram.

Filipe Sartoreto | Procult