Em livro, professor da Faculdade de Direito traça 'uma genealogia do autor'
Obra da Editora UFMG mostra como a noção de autoria ganha contornos diferentes ao longo da história
A relação que o autor mantém com sua obra tal qual a conhecemos hoje é um fenômeno relativamente recente, sustenta o professor da Faculdade de Direito da UFMG Marco Antônio Sousa Alves, autor do livro Uma genealogia do autor: a emergência e o funcionamento da autoria moderna, publicado pela Editora UFMG. A obra será lançada neste sábado, 28, a partir das 11h, na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi).
O livro é resultado de pesquisa motivada pelo desejo de Marco Antônio, que leciona Teoria e Filosofia do Direito e do Estado, de problematizar a naturalidade com que o senso comum trata o direito do autor. Sua tese de doutorado, defendida em 2015 no Programa de Pós-graduação em Filosofia da Fafich, recebeu o Prêmio UFMG de Teses e menção honrosa no Prêmio Capes de Tese na área de Filosofia/Teologia.
Dono de sua obra
Considerando-se não um leitor, mas um utilizador do filósofo Michel Foucault, que qualifica como "guia, não guru", Alves propõe, no livro, desenvolver uma análise do autor na modernidade e estabelecer uma pequena genealogia.
O livro, estruturado em duas grandes partes, explora, na seção inicial, questões de natureza conceitual e metodológica. Aqui, Alves faz uma análise da função-autor e das relações estabelecidas entre autor, discurso, sujeito e poder.
Na segunda parte, o professor avança na análise genealógica propriamente dita da figura do autor. Ele mostra como essa complexa e multifacetada função passou a operar na modernidade, como o autor ganhou autoridade e assumiu a responsabilidade para, enfim, tornar-se dono de sua obra.
O trabalho histórico-filosófico de Alves "assume uma postura propriamente crítica, como um exercício de transformação, de mudança de nosso modo de ser, que nos permite pensar e agir diferentemente", registra o texto de apresentação do livro.
O autor na história
Entrevistado pela reportagem do Boletim UFMG em 2015, Marco Antônio Alves faz uma retrospectiva das mudanças por que passou a definição de autor ao longo da história.
No fim da Idade Média, o autor ainda não era levado em conta na produção, que normalmente aparecia em coletâneas e miscelâneas. É a partir dos séculos 14 e 15 que a noção de autoridade sobre a obra passa a ser considerada.
Com o advento da imprensa na Europa no século 15, emerge o "autor transgressor", por meio de sua apropriação jurídico-penal. Naquele momento, seu nome é importante para os propósitos da censura.
No século 18, com a revolução industrial, a perseguição cessa, e o autor passa a se apropriar economicamente de sua obra. Nasce o autor proprietário, cuja produção gera riquezas para uma indústria organizada, e seu trabalho se materializa, por exemplo, nas coleções de clássicos e enciclopédias franceses.
Livro: Uma genealogia do autor: a emergência e o funcionamento da autoria moderna
Autor: Marco Antônio Sousa Alves
Editora UFMG
R$ 87 / 478 páginas
Lançamento: 28 de maio, às 11h, na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi)