Em noite de memórias e contação de casos, Gérson Pianetti recebe o título de emérito da UFMG
Docente, que dirigiu a Faculdade de Farmácia, ajudou a consolidar a profissão de farmacêutico no Brasil
"Se eu fosse um memorialista, escreveria um livro contando sobre todas as 'pérolas' que coletei durante quase 50 anos de profissão. Aprendi coisas nos rincões mais distantes da vida.” Com esse preâmbulo, o professor Gérson Pianetti, da Faculdade de Farmácia, inaugurou o pronunciamento que arrancaria repetidas gargalhadas do público durante a solenidade em que foi agraciado com o título de professor emérito da UFMG, ocorrida na noite desta quinta-feira, dia 24.
Deixando de lado a formalidade e o protocolo, o homenageado tomou como fio condutor de seu discurso uma lista bem-humorada de lições assimiladas em contextos diversos e improváveis. “Mesmo quem ainda não me conhece vai se sentir dentro da minha história”, anunciou.
O primeiro relato foi de uma ocasião em que, durante missão do Projeto Rondon no interior do Rio Grande do Norte, ele e seu grupo de pesquisadores, com o carro enguiçado num local inóspito e após longa caminhada sob o sol escaldante, precisaram pedir água a uma moradora. “Ela nos ofereceu água num pote, mas, sobre o líquido, havia uma nata que parecia ferrugem. Perguntei-lhe o que era aquilo, e ela respondeu: ‘não sei, mas embaixo é água’. Então aprendi que ‘água é água’. Provavelmente, aquele precário — mas valioso — pote de água fora trazido de uma longa distância até aquela localidade”, contou o professor.
Outro caso mencionado pelo homenageado deu-se durante a ditadura militar, quando oficiais cercaram o campus Pampulha. “O reitor [ele não citou o nome] foi até a portaria e perguntou ao general: ‘o que o senhor deseja?’. O militar respondeu: ‘entrar na universidade’. E a tréplica: ‘então faça o vestibular!’.”
Entre narrativas variadas sobre sua família e sua profissão, Pianetti reverenciou antigos professores, os quais, segundo ele, “sabiam botar a mão na massa”, e prestigiou seus alunos que vieram a ser, posteriormente, colegas de Departamento.
“Agradeço a Deus e a todas as pessoas que passaram por essa escola. Devo à UFMG tudo o que sou hoje. Aqui a gente aprende a falar e a escutar, a respeitar e a assumir aquilo que não se quer”, disse.
Imprescindível e decisivo
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida destacou que a UFMG, ao conferir o título de professor emérito a Gérson Pianetti, transmite a mensagem de reconhecimento por toda a carreira vivida na instituição. “No seu caso, não é pouco, são quase 50 anos! Sua dedicação à Faculdade de Farmácia tem sido incondicional. Sua presença é constante, tanto em atividades de ensino, pesquisa e extensão quanto em representações nacionais e internacionais”, afirmou.
Identificar pessoas cuja contribuição foi imprescindível e decisiva para a instituição é, como reforçou a reitora, fundamental “na esteira do esforço de coletividade”. “Você nos afetou com seus sentimentos, ações e movimentos e afetará sempre a escrita da história desta casa”, declarou a dirigente.
Nas palavras da diretora da Faculdade de Farmácia, Leiliane Coelho, o professor Pianetti, “além de ser a memória viva, tem uma história ímpar na Faculdade de Farmácia”. Em sua avaliação, o emérito enalteceu a unidade acadêmica “dentro e fora dos muros da UFMG”, e sua atuação foi fundamental para a valorização do ensino e da profissão de farmacêutico.
“Para mim, é muito gratificante e honroso falar de uma pessoa por quem tenho enorme admiração, respeito, apreço e amizade. Ele tem a característica de colocar a sua marca própria em tudo em que atua, por isso, faz a diferença", concluiu a diretora.