Em painel, professores da UFMG alertam sobre os cortes que ameaçam projetos de impacto social
Atividade virtual realizada nesta terça marcou mobilização na campanha nacional promovida pela Iniciativa para Ciência e Tecnologia no Parlamento
Um panorama sobre projetos de grande impacto social desenvolvidos pela UFMG em diferentes áreas. Assim foi o painel on-line Sem presente, sem futuro: educação e ciência em risco, promovido pela Universidade no âmbito da campanha nacional Não aos cortes em educação e ciência, realizada nesta terça, 21.
Na mensagem de abertura, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida avaliou que os impactos dos recentes cortes nas áreas de educação, ciência e tecnologia serão sentidos não apenas nas atividades das universidades públicas, mas, principalmente, nas ações dessas instituições “em prol da sociedade e das demandas do povo brasileiro”.
Uma das iniciativas destacadas no painel pela professora Natacha Rena, da Escola de Arquitetura, foi a plataforma do Projeto Brumadinho UFMG. Desenvolvido por demanda do Poder Judiciário, o portal reúne informações técnicas produzidas com o objetivo de orientar decisões judiciais relacionadas ao desastre provocado pelo rompimento da barragem da mineradora Vale, em 2019. Além disso, possibilita o acesso das pessoas atingidas a documentos relacionados aos processos e ajuda a orientar políticas públicas direcionadas à recuperação dos territórios afetados.
“A universidade não só atende a demandas específicas da sociedade, do mercado, do Estado, com políticas públicas, programas e projetos de extensão, como também no campo da pesquisa científica, muitas vezes mais abstratas. A universidade no Brasil tem centenas, milhares de projetos como esses”, destacou Rena.
Teto de gastos
Representante da área da saúde no painel, a professora da Escola de Enfermagem Lívia Pancrácio de Errico lembrou que os cortes de recursos que atingem as universidades e projetos desenvolvidos pelas instituições na área da atenção primária não são um movimento recente: foram iniciados em 2016, com a aprovação da Emenda Constitucional 95, que instituiu um teto para os gastos públicos por 20 anos.
“A austeridade orçamentária implica redução da capacidade de atenção à saúde para a população”, enfatizou, ao falar de uma contradição: isso ocorre justamente quando a demanda pelos serviços aumenta, como consequência da situação inflacionária e da redução da oferta de emprego no país, com a piora das condições de vida. Errico também registrou que, apesar do subfinanciamento, as redes e estruturas organizadas do Sistema Único de Saúde (SUS), que contam com a participação das universidades, foram fundamentais no combate à pandemia de covid-19.
O professor da Escola de Engenharia Francisco de Paula Lima apresentou ações desenvolvidas em resposta aos efeitos da pandemia pelo Núcleo Alternativas de Produção, que há mais de 20 anos trabalha em prol dos catadores de papel, um contingente hoje de quase um milhão de pessoas no Brasil, como ele ressaltou.
Após a suspensão da coleta seletiva, em decorrência das medidas de distanciamento social, o projeto ajudou a desenvolver protocolos seguros de trabalho, como o uso de máscaras pelos catadores e a higienização dos materiais, que possibilitaram a retomada das atividades pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) de Belo Horizonte. “Neste momento de cortes, projetos de longa duração, necessários para produzir resultados mais adequados a determinados grupos sociais vulneráveis, podem ser inviabilizados”, alertou Lima.
Ciência para todos
Coordenadora do Curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas, a professora da Faculdade de Educação Marina Tavares chamou a atenção para o impacto da limitação de recursos sobre ações que garantem a permanência de lideranças dessas populações na Universidade e seu intercâmbio com as comunidades. “A continuidade da presença de estudantes e professores de pós-graduação da UFMG nos territórios é muito importante, principalmente nesse momento de ataque aos povos indígenas”, ressaltou.
À frente do programa Polos de Cidadania, desenvolvido pela Faculdade de Direito da UFMG, a professora Maria Fernanda Salcedo Repolês defendeu a existência da universidade pública, que não comercializa seu principal produto, o conhecimento. “A universidade pública se propõe a fazer a ciência para todos e, nesse sentido, tem que ser vista como um patrimônio”, declarou. Para ela, as instituições e sistemas de justiça dependem da produção do conhecimento, fundamental para a manutenção de ambientes democráticos. “Uma universidade pública propicia um sistema de produção do conhecimento que possibilita que as instituições funcionem democraticamente”, enfatizou.
O painel teve mediação do pró-reitor de Pesquisa da UFMG, Fernando Reis. A gravação está disponível no canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) no YouTube. Na sequência, foi realizado o painel Educação e ciência em risco: essencialidade da ciência para a educação básica, que pode ser assistido no canal da Pró-reitoria de Extensão (Proex).
Assista também aos vídeos da série Ciência em risco, no canal da UFMG.