Saúde

Ensaio clínico conclui que vacina experimental contra o HIV é segura, porém ineficaz

Projeto internacional com participação da Faculdade de Medicina será encerrado nas próximas semanas; estudo contribuirá para compreensão dos mecanismos de atuação do vírus

Prédio da Faculdade de Medicina UFMG, sede do Gurpo Cuidar HTLV
Prédio da Faculdade de Medicina da UFMG, onde o estudo foi realizadoFoto: Lucas Braga | UFMG

O estudo internacional Mosaico, que testava uma vacina experimental inédita contra a infecção pelo vírus HIV, será encerrado nas próximas semanas. Os resultados do ensaio, que foi desenvolvido pela Unidade de Pesquisa Clínica em Vacinas (UPqVac) da Faculdade de Medicina da UFMG, demonstraram que, apesar de seguro, o produto testado é ineficaz. 

Segundo os pesquisadores, o produto avaliado não elevou os níveis de proteção de forma satisfatória, na comparação com o grupo que recebeu placebo. Os 117 voluntários que participaram dos testes em Belo Horizonte já foram informados pela equipe da UPqVac sobre o fim do ensaio clínico.

Durante as visitas de acompanhamento, os participantes foram orientados e estimulados a utilizar métodos de prevenção ao vírus já validados, na chamada prevenção combinada. Haverá um último encontro presencial para finalização dos protocolos de pesquisa e reforço das orientações quanto à prevenção da infecção.

Além do Brasil, outros oito países participaram da iniciativa Mosaico. O estudo, que estava na fase de ensaio clínico três, reuniu 3,9 mil participantes ao redor do mundo. A pesquisa foi desenvolvida no âmbito da Rede HVTN e financiada em colaboração com a Johnson & Johnson. Como o objetivo era gerar proteção para vários subtipos de HIV, foi utilizada a tecnologia de vetor viral (o adenovírus 26) e a proteína gp140. O produto testado continha cópias sintéticas (fabricadas em laboratório) de pedaços de HIV e, portanto, não causava infecção.

Ciência avança
Segundo o professor da Faculdade de Medicina Jorge Andrade Pinto, os resultados negativos também fazem a ciência avançar. “A vacina contra o HIV continua sendo um grande desafio, mesmo depois de mais de três décadas de estudos. O Mosaico adotou os mais altos padrões científicos e tecnológicos e, certamente, contribuirá para entendermos os mecanismos que o vírus utiliza para burlar a vigilância imunológica dos seres humanos”, afirma.

Ele reforça que, mesmo sem uma vacina, seguem valendo as iniciativas de prevenção combinada ao HIV, com medidas biomédicas, comportamentais e estruturais. Entre as ações estão a profilaxia pré-exposição (PrEP), a profilaxia pós-exposição (PEP), a redução de danos, os métodos de barreira (como os preservativos) e políticas públicas.

Centro de Comunicação da Faculdade de Medicina da UFMG