Arte e Cultura

Espaço do Conhecimento expõe trabalhos de pesquisadoras e artistas indígenas

Japira Pataxó e Glicéria Tupinambá exibem obras que materializam saberes ancestrais

dagva
Manto tupinambá confeccionado coletivamente é uma das peças expostas 
Foto: Augustin

Com obras das artistas indígenas Japira Pataxó e Glicéria Tupinambá, o Espaço do Conhecimento UFMG abre nesta quarta-feira, 19 de outubro, às 19h, a exposição Feito de folhas e penas: Saberes dos matos Pataxó & Assojaba Tupinambá.

No eixo da exposição denominado Saberes dos matos Pataxó, a mestra Japira Pataxó registra os conhecimentos curativos, ecológicos, poéticos e históricos da etnia. “O conhecimento das plantas, saber o modo de colher as folhas e seus usos, como fazer os preparos e como usá-los, conhecer dos banhos, saber as ervas boas e as venenosas: tudo isso passou pelas gerações Pataxó. Os mais velhos passam isso para os mais novos, nem sempre explicando. É vivendo perto deles que esse conhecimento vai passando”, conta Japira, sobre os objetos da exposição. 

Desde a infância, Japira, que reside na Aldeia Pataxó Novos Guerreiros, na Bahia, é guardiã de saberes, educadora, formadora e líder política, além de xamã, curadora, condutora de cantos e danças e contadora de histórias de seu povo. 

Mestra da oralidade, Japira Pataxó, que não faz uso da escrita alfabética, está entre as agraciadas com o Notório Saber concedido pela UFMG, equivalente ao título acadêmico de doutor. “Para mim, as plantas são como um ímã, elas mostram seus saberes e força. O que eu aprendi sobre elas veio dos espíritos dos antepassados e das conversas com os mais velhos”, explica a mestra.

Memórias evocadas
Outro eixo da mostra é o Assojaba Tupinambá, que exibirá um manto produzido em 2020, cópia de manto tupinambá do século 16 que está guardado no Museu do Quai Branly, em Paris. 

Como explica a artista Glicéria Tupinambá, da aldeia Serra do Padeiro, localizada em Olivença, no sul da Bahia, "o Assojaba representa, para os tupinambás, a revitalização da sua cultura, sua língua, seus fazeres e técnicas".

A confecção do manto partiu de uma base de cordão de algodão cru encerado com cera de abelha tiúba da aldeia, sobre a qual foram colocadas penas. "Embora o manto tenha sido feito por mim, a produção envolveu todas as pessoas da comunidade, das crianças aos anciões: na busca das penas, na coleta da cera de abelha tiúba e no ensino das técnicas de tecelagem por anciões da comunidade”, diz Glicéria.

Segundo a artista, o processo evoca muitas memórias. “O manto tem uma linguagem própria, uma personalidade própria. Ele nos revela uma maneira de se camuflar, de se esconder, de conseguir passar despercebido por dentro da mata. É um símbolo muito forte.” 

A exposição permanecerá no quinto andar do Espaço do Conhecimento até 4 de dezembro, de terça a domingo, das 10h às 17h, e aos sábados, das 10h às 21h.