‘Filmes de estrada’ latino-americanos são tema de lançamento da Editora UFMG
Doutora e mestre pela Escola de Belas Artes da UFMG,autora Mariana Mól Gonçalves analisa obras dos últimos 30 anos
Fernando Pessoa já disse que “as viagens são os viajantes”, isto é: “O que vemos não é o que vemos, senão o que somos”. Talvez por isso os road movies (filmes de estrada) latino-americanos tenham tantas especificidades, se comparados aos filmes que Hollywood produz nesse gênero. Por exemplo: se na América do Norte viaja-se quase sempre por autoestradas eficientes e dinâmicas, largas e de asfalto preciso, por aqui se viaja não raro por vias de terra e malcuidadas, cheias de meandros; ao mesmo tempo, enquanto eles transitam em grandes carros e motocicletas, nós viajamos de ônibus, em caminhões velhos ou mesmo em motor homes, de modo geral.
Essas singularidades das road trips latinas são o tema do livro Filmes, estrada e América Latina: caminhos de uma estética e narrativas próprias, que acaba de ser publicado pela Editora UFMG. Escrito pela produtora, professora e jornalista Mariana Mól Gonçalves, o livro será lançado – com sessão de autógrafos – nesta quinta-feira, 28 de abril, às 17h, na Livraria Quixote, que fica na Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi.
“Na América Latina, desde a década de 1990 até os anos 2010, diversos filmes (entre ficção e documentário) enfatizam a viagem e têm marcas como a errância, a passagem e o deslocamento em suas histórias”, explica Mariana, que é doutora e mestre em artes pela Escola de Belas Artes (EBA) da UFMG, com pesquisas relacionadas ao cinema latino-americano e ao cinema brasileiro.
Quilômetro a quilômetro
No primeiro capítulo do seu livro, Mariana apresenta um panorama básico da iconografia dos filmes de estrada, apresentando características e elementos que distinguem o road movie estadunidense. No segundo, perpassa as características contemporâneas do cinema latino-americano, reunindo os elementos que servirão de base para a análise de casos.
O terceiro, o quarto e o quinto capítulos são dedicados aos nove longas-metragens analisados no livro.
No capítulo três, denominado “Relato mínimo”, são analisados os filmes Viajo porque preciso, volto porque te amo (Brasil, 2005, Karim Aïnouz e Marcelo Gomes), Histórias mínimas (Argentina / Espanha, 2004, Carlos Sorín) e El viaje hacia el mar (Uruguai / Argentina, 2003).
Em seguida, no quarto capítulo, sob o mote “Viagem coletiva”, a autora analisa Família rodante (Argentina / Brasil / Espanha, 2004, Pablo Trapero), Guantanamera (Cuba/Espanha / Alemanha, 1995, Juan Carlos Tabío e Tomás Gutiérrez Alea) e E sua mãe também (México, 2001, Alfonso Cuarón).
No quinto capítulo, por fim, de título “Força do real”, Mariana se dedica aos filmes Qué tan lejos (Equador, 2006, Tania Hermida), Cinema, aspirinas e urubus (Brasil, 2005, Marcelo Gomes) e Diários de motocicleta (Alemanha / Argentina / Brasil / Chile / EUA / França / Inglaterra / México / Peru, 2004, Walter Salles).
“A escolha por estes nove longas-metragens se deveu ao fato de eu querer abarcar o maior número de produções de países latino-americanos diferentes (acrescentando exemplares de cinematografias menos conhecidas, como do Equador e do Uruguai), selecionando obras cujo acesso fosse possível para a aquisição da versão original em DVD, no sentido de construir um painel do filme de estrada na América Latina”, explica a autora na introdução do volume – que conta com prefácio de Ana Lúcia Menezes de Andrade, professora da Escola de Belas Artes da UFMG.
“[Estes] são filmes que revelam a riqueza da nossa cultura, do nosso povo, das nossas paisagens e que muitas vezes não estamos habituados a ver no cinema comercial pela problemática de encontrá-los disponíveis no mercado, que acaba não privilegiando filmes latino-americanos (por razões conhecidas e sempre discutidas)”, pondera Ana Lúcia, que caracteriza o trabalho de Mariana como um “estudo fascinante” sobre o tema. Nesse sentido, ela diz, sua expectativa é que o livro “lance uma luz crítica aos leitores e amantes da sétima arte sobre a importância de se refletir acerca de nosso cinema e do de nossos hermanos.”
Mas o que são os road movies?
Road movies são filmes em que a ação e os conflitos se desenvolvem durante uma viagem, uma jornada, na qual os personagens se transformam. Sua magia talvez esteja, assim, em propiciar que o seu espectador, mesmo permanecendo imóvel, “possa de algum modo vivenciar essa experiência da viagem ao desconhecido”, pontua Mariana.
Em seu livro, Mariana vai lembrar que filmes e automóveis são, na verdade, dois dos mais relevantes monumentos do paradigma moderno, e que, a partir do século 20, “movimento” e “velocidade” se tornam os dois adjetivos mais empregados para relacionar essas duas tecnologias.
“Talvez por isso, o aqui chamado ‘filme de estrada’ possa ser compreendido como um gênero recorrente – desde sua denominação como tal a partir do final dos anos de 1960 – e, ao mesmo tempo, fascinante para o espectador que, a cada nova obra, recebe um convite para desgravar novas paisagens, ‘vivenciar’ caminhos, encontrar-se com o outro e manter-se em movimento”, demarca.
Livro: Filmes de estrada e América Latina: caminhos de uma estética e narrativas próprias
Autora: Mariana Mól Gonçalves
Editora UFMG
R$ 59 / 221 páginas
Lançamento: quinta-feira, 28 de abril, às 17h, na Livraria Quixote, que fica na rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi