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Exposição na Enfermagem reúne obras para o desfile do Dia da Luta Antimanicomial

Iniciativa homenageia o artista Arthur Bispo do Rosário e integra a Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG

Mantos na Escola de Enfermagem:
Mantos na Escola de Enfermagem: luta antimanicomial é apoiada nas ideias de liberdade e inclusão social Foto: Rosânia Felipe | UFMG

A Escola de Enfermagem da UFMG abrigou hoje (terça, 16 de maio) a exposição Mantos do Arthur: arte, cultura e saúde mental, que integra a programação da 19ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG. O título da mostra faz referência a Arthur Bispo do Rosário, artista plástico que, por sofrer de esquizofrenia, residiu em diversas instituições psiquiátricas por quase 50 anos. O conjunto de sua obra agrega 802 peças produzidas com diferentes técnicas, com destaque para a costura e o bordado em tecido, em formas de fardões e estandartes.

A atividade, coordenada pela professora Amanda Márcia dos Santos Reinaldo, do Departamento de Enfermagem Aplicada, e pela gerente do Centro de Convivência Arthur Bispo do Rosário, Karen Zacché, teve participação dos alunos da disciplina Enfermagem psiquiátrica, da graduação em Enfermagem.

Amanda Reinaldo explicou que a exposição nasce da observação do movimento dos mantos que serão vestidos no desfile do Dia da Luta Antimanicomial, 18 de maio, “por corpos que têm o direito de existir em sua existência, independentemente de um diagnóstico ou um sintoma”. Os mantos expostos foram confeccionados por usuários e trabalhadores do Centro de Convivência Arthur Bispo do Rosário, dispositivo de arte e cultura da Rede de Atenção Psicossocial, localizado na Regional Leste de Belo Horizonte.

“A luta antimanicomial é apoiada na ideia de liberdade e sustentada por políticas públicas de inclusão social, que defendem o direito ao cuidado de qualidade no SUS, em liberdade, para as pessoas em sofrimento mental”, enfatizou a professora.

Colaboração afetiva
Amanda Reinaldo ressaltou, ainda, que a atividade é uma produção colaborativa afetiva, como devem ser a defesa da saúde mental e o cuidado em liberdade, com foco na inclusão social. “O sintoma se manifesta pelo que sente o visitante ao observar a produção do outro, que pode ser um aluno da graduação, um usuário da saúde mental, um trabalhador do serviço ou o professor da disciplina. Nesse momento, o visitante pode contribuir com a produção de um estandarte para o desfile”, disse Amanda.

A estudante Ana Luiza Oliveira, que participou da montagem da exposição, disse que “o movimento nos faz lembrar que, assim como qualquer cidadão, essas pessoas têm os direitos fundamentais de liberdade, de viver em sociedade e de receber cuidado e tratamento”.

Arthur Bispo do Rosário:
Arthur Bispo do Rosário: linhas azuis desfiadas dos uniformes dos internosFoto: Museu Bispo do Rosário

'Ressignificação do universo'
Arthur Bispo do Rosário nasceu em 1909,  em Japaratuba, Sergipe, e acreditava que uma missão era destinada a ele e seria revelada no dia do juízo final. Sua primeira exposição foi realizada em 1982, no Museu de Arte Moderna, no Rio, com a obra Margem da vida. Nome importante para a luta contra as internações em manicômios, Bispo do Rosário buscou subverter a lógica excludente da sociedade e propôs, com suas criações, a ressignificação do universo.

Arthur foi internado pela primeira vez na noite de 22 de dezembro de 1938, no hospício da Praia Vermelha, na zona sul carioca, de onde foi transferido para a Colônia Juliano Moreira. Passou longos anos em conflito com sua realidade, fugiu das internações, chegou a ser preso por três meses e, por conta própria, trancou-se em uma cela por sete anos, apenas com agulhas e linhas, para que pudesse bordar a escrita de seus estandartes e fragmentos de tecido. As linhas azuis desfiavam dos velhos uniformes dos internos, e ele usava objetos e materiais como canecas, pedaços de madeira, arame, vassoura, papelão, fios de varal e garrafas, coletados de refugos na Colônia.

Dezoito anos após iniciar sua produção, Bispo ganhou espaço na mídia, e sua obra artística tornou conhecida sua história. Sua figura, símbolo da luta antimanicomial, representa a relação entre arte, cultura e saúde mental. Arthur Bispo do Rosário morreu em 1989, na Colônia Juliano Moreira.

 

Assessoria de Comunicação da Escola de Enfermagem