Pesquisa e Inovação

ICB abrigará centro de produção de vetores virais inédito no Brasil

Unidade vai gerar, para todo o país, vírus modificados para tecnologia de edição de genomas capaz de contribuir com pesquisas de novos tratamentos para doenças neurológicas

A tecnologia de CRISPR-Cas9 permite aos cientistas cortar e inserir pequenos pedaços de DNA em áreas precisas da faixa de DNA, o que possibilita um estudo específico e direcionado de nossos genes
A tecnologia de CRISPR-Cas9 possibilita aos cientistas cortar e inserir pequenos pedaços de DNA em áreas precisas da faixa de DNA, o que viabiliza estudo específico e direcionado dos genes Imagem: Ernesto Del Aguila III | National Human Genome Research Institute (NIH)

O Instituto de Ciências Biológicas (ICB) vai sediar o primeiro centro de produção de vetores virais para tecnologia de CRISPR-Cas9 do Brasil. Ainda pouco desenvolvido no país, o sistema CRISPR-Cas9 é uma ferramenta de edição de genomas mais rápida e fácil de ser utilizada do que técnicas convencionais.

Esse sistema constitui abordagem promissora para o desenvolvimento da terapia genética tanto em animais como em células humanas, com potencial de contribuir para o avanço do conhecimento na área de neurociências e o desenvolvimento de novos tratamentos para doenças neurológicas.

A proposta de criação do Centro, elaborada por professores do ICB, da Faculdade de Medicina e de outras três universidades mineiras (Ufop, UFJF e Unifal), foi aprovada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e vai receber financiamento de R$ 1.998.942,00. O projeto terá início assim que os recursos forem liberados.

Estima-se que, após 18 meses de iniciado o projeto, o centro já esteja funcionando. A duração prevista para o projeto é de três anos. Além das universidades mineiras, o projeto inclui duas instituições colaboradoras: a UFRJ e a Universidade de Göttingen, Alemanha.

Infraestrutura
O biomédico Vinicius de Toledo Ribas, professor do Departamento de Morfologia do ICB, e o médico Paulo Caramelli, docente do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, são responsáveis pela proposta no âmbito da UFMG. Segundo Ribas, o objetivo é “criar uma infraestrutura para a produção de vetores de vírus adenoassociados para uso da tecnologia de CRISPR-Cas9 em terapia gênica em modelos animais de doenças neurológicas e explorar potenciais aplicações clínicas em pacientes”.

A meta é produzir e purificar vetores de vírus adenoassociado (AAV) para a comunidade científica de todo o país. “Não existe, no Brasil, um centro que produza esses vetores em alta qualidade. Quem precisa deles tem que importá-los. Conseguir produzi-los aqui vai facilitar o trabalho de pesquisadores brasileiros e favorecer o uso de técnicas de manipulação genética, podendo gerar novos conhecimentos e tratamentos”, afirma Vinicius Ribas.

O biomédico conta que, inicialmente, serão desenvolvidos cinco projetos com o uso de vetores virais e da tecnologia de CRISPR-Cas9, em modelos de doenças neurológicas e neuropsiquiátricas, alzheimer, epilepsia, glaucoma e hanseníase. Mais de 30 cientistas estarão envolvidos nas atividades, entre estudantes de iniciação científica, mestrado, doutorado, residentes de pós-doutorado e professores.

“Estabelecer a pedra fundamental na implementação desta tecnologia [no Brasil] colocará o estado de Minas Gerais na vanguarda e abrirá novas perspectivas para tratamentos de diversas doenças neurodegenerativas”, diz Vinícius Ribas. Segundo ele, a maior parte do valor disponibilizado pela Fapemig será investida na compra de equipamentos, material de consumo e pagamento de bolsas de estudo.

O que são vetores virais?
Vírus modificados que não causam doenças, os vetores virais são usados para transferir material genético (DNA) para células. A tecnologia de CRISPR-Cas9 pode ser entendida como uma ferramenta para "cortar e editar”, de forma simples e precisa, partes específicas do genoma.

“Nesse caso, os vetores virais serão utilizados para fazer funcionar a técnica de modificação do material genético da célula. Com a combinação de ambos, será possível alterar o sistema nervoso na tentativa de curar ou tratar doenças neurológicas”, explica Vinicius.

Dayse Lacerda | ICB