Está em pré-venda o livro A an-arquia que vem – fragmentos de dicionário de política radical (sobinfluência Edições), do professor Andityas Soares de Moura Costa Matos, da Faculdade de Direito da UFMG. No texto de apresentação da obra, lança-se a hipótese de que a dicionarização da política – que indica a tentativa de definir o que é a política e quais são seus procedimentos (e tudo que fica de fora é visto como antipolítica ou irresponsável utopia – “é a causa da prolongada crise que atinge a política ocidental”.

“Os lexicógrafos da política são as instâncias que personalizam o poder, que não só o exercem, mas o impõem aos demais, determinando as escolhas que podemos fazer, todas elas fixadas e rotuladas no dicionário da institucionalidade”, diz o texto.

Essa crise da política sugere então que há algo fora do dicionário e que a língua da política não se deixa domesticar. “Muito antes de quaisquer modelos institucionais se impõe a evidência da infundamentabilidade de qualquer poder, o que chamamos aqui de an-arquia, ideia que se comunica mas não se confunde com os anarquismos históricos.”

Andityas defende “recusar o gesto grandiloquente do dicionário total, preparando no máximo alguns verbetes fragmentários – como morte, linguagem, comunidade, comando, anarquia, utopia, distopia, estado de exceção, desobediência civil – que remetem à radicalidade da própria política, à sua raiz an-árquica, tratada de forma genealógica e crítica”. Com prefácio do filósofo Roberto Esposito, o livro é uma tentativa de criticar o “léxico político empobrecido a que nos acostumaram”. A obra é encerrada com 18 teses ao estilo benjaminiano em que o autor evoca a figura do anarquista francês Ravachol para desinstituir as relações entre tempo, espetáculo e exceção.

Pensamento insubmisso
Parte da campanha de financiamento do livro de Andityas Matos, o curso An-arkhé: o pensamento insubmisso ontem e hoje terá encontros nos dias 25 de agosto, 1, 8, 15 e 22 de setembro, quintas-feiras, sempre às 19h, com transmissão via Google Meet e gravações disponibilizadas após as aulas. Além do livro físico, os alunos ganharão o e-book no início do curso, sem custo adicional.

A formação vai abordar os teóricos clássicos do anarquismo russo, anarquismo individualista e luta social na França, Itália e Espanha nos séculos 19 e 20, o conceito tempo-de-agora, o anarquismo metodológico (de Feyerabend a Agamben) e ontologia an-árquica: singularidade, indeterminação, potência.

Outras informações sobre a pré-venda do livro e sobre o curso estão no site da editora.

Andityas Matos é doutor em Direito e Justiça pela UFMG, com estágio pós-doutoral em Filosofia do Direito na Universitat de Barcelona (Espanha), e doutor em Filosofia pela Universidade de Coimbra. Professor de Filosofia do Direito e disciplinas afins na Faculdade de Direito da UFMG, é autor de Filosofia radical e utopias da inapropriabilidade: uma aposta an-árquica na multidão (Fino Traço, 2015) e coautor, com Francis García Collado, de O vírus como filosofia/A filosofia como vírus: reflexões de emergência sobre a covid-19 (GLAC, 2020), entre outros.