Mesa de abertura do Festival de Inverno celebra ‘retomada da democracia e da civilidade’
Ator e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, falecido no dia 6 de julho, foi homenageado
Na noite desta quarta-feira, dia 19, foi inaugurada a 55ª edição do Festival de Inverno da UFMG. Os participantes da mesa de abertura repercutiram o tema Emergências e insurgências: estética, políticas e culturas. O público do Conservatório UFMG assistiu, também, a uma homenagem ao dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, falecido no dia 6, e a um show do pianista pernambucano Amaro Freitas.
O pró-reitor de Cultura, Fernando Mencarelli, salientou que o campo cultural deve ser apropriado como "espaço-tempo para que o Brasil seja pensado em sua enorme complexidade, paradoxos, limites, contradições e potencialidades”. Ainda segundo Mencarelli, o Festival é “espaço de partilha”, na medida em que "reúne corpos diversos, que instalam processos poéticos de reflexão sobre saberes plurais e coexistência".
“O evento compartilha imagens e ecoa vozes resistentes, que se somam à emergência vigorosa dos movimentos de decolonização, afirmação do bem comum, pluralidade epistêmica e defesa da democracia”, disse.
O campo artístico-cultural precisa ser reconhecido, em seu entendimento, como fator elementar para o planejamento estratégico e a construção do conhecimento. Deve-se garantir a todos o direito à cultura, segundo o pró-reitor, mediante a reafirmação da universidade como instituição cultural. “A universidade cumpre papel essencial nesse sentido, pois mobiliza toda sua comunidade a pensar e a agir na busca de respostas, visando à revitalização da democracia e da justiça social”.
Novo tempo
Nas palavras da reitora Sandra Goulart Almeida, o ano de 2023 é emblemático na história do Brasil, que vivencia a “possibilidade de retomada da democracia e da civilidade, após um período de barbárie, autoritarismo e obscurantismo, dimensões contra as quais lutam a Universidade e o Festival”.
Nesse contexto, as universidades, segundo ela, “devem ser protagonistas nas narrativas da passagem de um tempo turbulento e injusto para um tempo em que o Brasil possa enfrentar as questões que nos assolam e deixar para trás o seu legado colonial”.
Para a reitora, a universidade pública, no Brasil, é o centro de confluência da democracia e das liberdades, e o Festival de Inverno, "de um modo que somente a cultura é capaz de mediar, encerra os sentidos de emergência, insurgência, resistência, rebelião e insurreição”.
“Quero crer que estamos em um caminho civilizatório, para uma sociedade que cultua a democracia, a liberdade, a paz e o bem comum; que respeita a diversidade, a diferença e a pluralidade dos saberes e dos povos. É isso que faz este Festival revigorantemente rebelde”, declarou.
No encerramento da mesa de abertura, o ator e diretor Adyr Assumpção discursou em homenagem ao dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, que morreu no dia 6 de julho, vítima de um incêndio ocorrido em seu apartamento, em São Paulo.
“Sempre foi uma fênix, ressurgindo das cinzas, trazendo novidades. Partiu e, agora, renasce para os artistas — tanto os que encontrou em vida como também os das novas gerações. A celebração que fazemos é essa. Zé Celso passou, ‘pegou fogo’, para que a gente se multiplicasse e retomasse a força que o teatro sempre teve, a fim de construir uma sociedade melhor”, disse.