Institucional

Mônica Cerqueira e Ernane Nascimento, da Veterinária, são os novos eméritos da UFMG

Cerimônia de outorga do título também abriu as comemorações dos 90 anos da Escola

Diretora da Escola de Veterinária se lembrou daqueles que estiveram presentes nos 90 anos de história da Escola
Zélia Lobato, diretora, lembrou aqueles que fizeram a história de 90 anos da Escola de VeterináriaFoca Lisboa | UFMG

"Celebrar os 90 anos da Escola de Veterinária é honrar todos que idealizaram, implementaram, construíram e fizeram crescer essa instituição de renome. É falar de batalhas, mas sobretudo de vitórias sobre as adversidades que nos foram e nos são impostas, mas conquistadas graças à dedicação daqueles que nos antecederam e daqueles que carregam, hoje, a enorme responsabilidade de zelar pelo nome dessa instituição." Foi com a abertura das comemorações dos 90 anos da Escola de Veterinária da UFMG que a diretora, Zélia Inês Portela Lobato, iniciou seu discurso na cerimônia de outorga de título de professor emérito a Mônica Maria Oliveira Pinho Cerqueira e Ernane Fagundes do Nascimento.

Na cerimônia realizada na noite desta sexta-feira, 29, no auditório da unidade, Zélia Lobato destacou a importância da preservação da memória na formação da identidade individual e coletiva da Escola, mencionando que, em sua existência de nove décadas, ela já formou cerca de 6.500 profissionais capazes de difundir conhecimentos técnicos e científicos que transformam a sociedade. 

"A contribuição desta casa para o avanço da agropecuária e da medicina veterinária brasileira é inestimável, traduzida principalmente pela formação de recursos humanos altamente qualificados, o que é nossa especialidade e primeira missão. Igualmente importante é o conhecimento produzido por nossos competentes pesquisadores nas mais diversas áreas da ciência animal e da zootecnia e nas atividades de extensão que levam, para além dos nossos muros, para os produtores rurais e a iniciativa privada, o saber aqui gerado", disse. 

Ao exaltar os 90 anos de história da Veterinária, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida lembrou a participação da Escola no enfrentamento de grandes tragédias humanas, como  a pandemia da covid-19. Ela comemorou o fato de que a cerimônia de hoje foi o primeiro evento presencial de celebração de aniversário de uma unidade acadêmica da UFMG nos últimos dois anos. 

"Não apenas na pandemia, mas também nos desastres da Samarco, em Mariana, e da Vale, em Brumadinho, a Escola de Veterinária mostrou, por meio da sua atuação, o quanto somos necessários. Todas as conquistas da Escola são marcas históricas que revelam a preocupação em formar profissionais, professores e pesquisadores dedicados ao desenvolvimento do nosso país", afirmou a reitora.

Reitora lembrou a atuação da Escola em momentos importantes
Reitora lembrou a atuação da Escola em momentos importantes
Foca Lisboa | UFMG

Ao explorar o significado da palavra "emérito", Sandra afirmou que o acréscimo do adjetivo louva as condições honrosas das atuações dos dois professores homenageados. "Nossos eméritos são duas personalidades marcantes e que tiveram papel inestimável na construção da Escola de Veterinária e da UFMG como hoje as conhecemos. Eles contribuíram de forma significativa para que chegássemos aonde hoje estamos, uma universidade de qualidade e de relevância para nossa cidade, nosso estado, nosso país e nossa sociedade. Receber o título de emérito é um sinal de prestígio, mas também um gesto de gratidão da Universidade em reconhecimento ao trabalho prestado. A Escola é fruto de mentes idealistas e personalidades incansáveis, como as da professora Mônica Cerqueira e do professor Ernane Nascimento", disse.

Espírito crítico e transformador
Muito emocionada, a emérita Mônica Cerqueira iniciou o seu discurso relembrando seu primeiro dia como professora assistente da Escola de Veterinária, em 1989. Ela contou que o modo como foi acolhida pela equipe da Escola foi muito marcante. Naquele primeiro dia, Mônica recebeu do então chefe do Departamento de Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal (DTIPOA), professor Edson Clemente dos Santos, uma cópia do Diário Oficial da União com a sua nomeação e uma carta de boas-vindas. Ela relatou que aquela recepção calorosa foi importante para que ela iniciasse as suas atividades como a primeira mulher daquele departamento, encarando o desafio de ensinar aos jovens estudantes que ingressavam na graduação.

"Pensei muito, naquela primeira semana, sobre que tipo de docente eu gostaria de ser. Não tinha dúvidas de que era movida pela possibilidade de lidar com a formação de jovens, propiciando o desenvolvimento do espírito crítico e transformador da sociedade brasileira. Jovens que poderiam, com o conhecimento adquirido em uma universidade pública, transformar a vida de pessoas, especialmente daquelas que nunca tiveram a oportunidade de cursar uma universidade", desabafou. 

A professora emérita Mônica destacou a relação entre docente e aluno
Mônica Cerqueira destacou a relação entre docente e aluno Foca Lisboa | UFMG

Mônica destacou a importância da criação de vínculos com seus alunos, algo que ela disse ter valorizado ao longo de toda a carreira. Segundo a professora emérita, o docente deve entender os alunos como indivíduos, motivando-os a acreditar que tudo é possível e que "todos podem alcançar seus objetivos e sonhar. Sempre procurei ouvir muito os meus estudantes e muitas vezes me surpreendia com situações que não percebíamos em sala de aula. Aprendi muito a ter empatia e a me colocar no lugar do outro. Procurei entender meus alunos como seres humanos distintos, com habilidades e necessidades diferentes, e, a partir disso, trilhei o meu caminho. Aprendi que o nosso maior desafio era entender e motivar os que estavam com dificuldades."

A professora também ressaltou que sua trajetória foi marcada pela junção de ensino, pesquisa e extensão. Para Mônica Cerqueira, a UFMG foi essencial para que ela conseguisse atuar nas três esferas da educação. "Penso que não há como dissociar o professor do pesquisador e do extensionista. Entendo que de nada adianta produzirmos conhecimento se ele não puder beneficiar a sociedade e o setor produtivo, promovendo transformações. Por isso, sempre procurei estar atenta à cadeia produtiva de leite, minha área de atuação, disseminando o conhecimento gerado para produtores e técnicos ligados à atividade leiteira." 

O professor da Escola de Veterinária Marcelo Resende de Souza parabenizou Mônica Cerqueira por sua atuação, lembrando que ela ajudou a formar mais de 3 mil estudantes de graduação, orientou inúmeras dissertações e teses e ministrou diversas palestras, treinamentos e cursos, "contribuindo de forma significativa para a formação e ampliação do conhecimento de profissionais da área de tecnologia e inspeção de leite e produtos derivados". Souza disse ainda que, "educando pelo exemplo em sua vida particular e profissional, a professora Mônica cumpriu uma relevante trajetória acadêmica e científica, incluindo seu envolvimento com atividades de ensino, pesquisa, extensão e administrativas".

Ernani Nascimento: participação no pioneirismo da Escola de Veterinária
Ernane Nascimento enfatizou o pioneirismo da Escola de Veterinária Foca Lisboa | UFMG

Momentos que marcaram
O emérito Ernane Nascimento se emocionou ao falar de momentos importantes que passou na Escola de Veterinária, onde ingressou em 1966. "Hoje, meus pensamentos remetem a minha memória afetiva àqueles docentes visionários, pertencentes à minha geração parental, que conceberam e consolidaram esta Escola como modelo para o trinômio ensino, pesquisa e extensão. A opção foi o modelo adotado em universidades americanas, de onde foram trazidas ideias de construção de novos laboratórios adequadamente equipados para aulas teóricas e práticas, indispensáveis para a ministração do ensino de qualidade e a formação de profissionais demandados pelo nosso país", relembrou o professor, que integrou o Departamento de Clínica e Cirurgia.

Ernane afirmou que não poderia discursar sem reafirmar a qualidade da Escola de Veterinária, que sempre foi "reconhecida como instituição modelo para outras que aqui se inspiraram para suas criações. É provável que, no nonagésimo aniversário de sua fundação, muitos ainda desconheçam as decisões tomadas no passado que fizeram da nossa Escola uma instituição pioneira no ensino de qualidade e na criação futura e também pioneira de cursos de pós-graduação, formando docentes e pesquisadores amplamente disseminados no Brasil e em vários países latino-americanos."

Renato de Lima Santos, também professor da Escola de Veterinária, destacou a generosidade de Ernane Nascimento e sua relação com os colegas professores. Santos contou como foi acolhido quando entrou para o quadro da unidade. "Quando passei a fazer parte do corpo docente da Veterinária, não havia salas disponíveis para docentes recém-contratados. Imediatamente após o meu ingresso, o professor Ernane acolheu o então jovem professor sem teto em sua sala, compartilhando o espaço, seus livros, seu microscópio e me proporcionando uma convivência extremamente agradável", lembrou, emocionado.

Santos também falou da origem da palavra "emérito", destacando por que o professor Ernani é merecedor da homenagem. "Emérito é uma palavra que tem origem no latim: 'ex' indica algo fora ou que vai além, enquanto 'meritus' vem de 'merere' ou merecimento, fazer por merecer. Assim, professor emérito é o que ultrapassa todas as expectativas que a escola tem sobre a sua contribuição acadêmica. Além disso, e aí não há dicionário que possa nos ajudar na definição, o professor emérito desenvolve sua exuberante trajetória acadêmica com decoro, empatia e lisura no trato com as pessoas", disse.

Desafios no ensino e na pesquisa
Os dois novos professores eméritos da UFMG destacaram os desafios da carreira docente universitária. Mônica Cerqueira afirmou ser difícil refletir sobre o que é esperado dos docentes e da infraestrutura oferecida pela universidade. Segundo ela, a reflexão sobre a docência parte do entendimento de que a educação, a pesquisa científica e tecnológica e as políticas públicas de saúde e segurança precisam ser valorizadas.

"O momento é preocupante, mas temos jovens para formar e princípios a seguir. É preciso estimular políticas públicas em prol da educação com qualidade para que possamos viver em um país cujos valores se pautem na ética, na inclusão social, na igualdade, no respeito e no desenvolvimento das pessoas. Temos um grande desafio pela frente e não podemos desanimar", disse.

Ernane Nascimento corroborou as ideias de Mônica e acrescentou que o dinamismo imposto pela ciência traz desafios para a criação de novas tecnologias capazes de gerar desenvolvimento. Ele justificou seu pensamento citando o desenvolvimento das vacinas durante a pandemia da covid-19. "Impactados pela desastrosa pandemia, a ciência respondeu com agilidade até então não vista, com a produção de vacinas com eficácia e efetividade capazes de amenizar o quadro dramático de mortalidade imposto pela doença. Foi uma conquista revolucionária pela rapidez do seu desenvolvimento e pela eficácia constatada", exemplificou. 

O professor acrescentou que a produção de ciência precisa ser lembrada como atividade importante exercida pelos docentes, uma vez que "sem ciência não há desenvolvimento, a despeito da existência de bolsões de negacionistas ainda existentes em nosso meio". Daí, segundo ele, "a importância de que nossa Escola tenha, em seus quadros, jovens pesquisadores qualificados para inovar cientificamente e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil". 

O professor emérito Ernani Nascimento, a diretora da Escola de Veterinária, Zélia Lobato, a reitora Sandra Regina Goulart de Almeida, o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, a professora emérita Mônica Cerqueira e o vice-diretor da Escola de Veterinária, Roberto Maurício Guedes
A partir da esquerda, o professor emérito Ernani Nascimento, a diretora da Escola de Veterinária, Zélia Lobato, a reitora Sandra Goulart Almeida, o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, a professora emérita Mônica Cerqueira e o vice-diretor da Escola, Roberto Maurício Guedes Foca Lisboa | UFMG

Luana Macieira