Institucional

Morre Adival Coelho, um dos fundadores do curso de Comunicação Social da UFMG

Jornalista se notabilizou como formador de profissionais da área; velório será neste sábado, 29, no cemitério Bosque da Esperança

Adival Coelho de Araújo em 2009
Adival Coelho de Araújo, em 2009 Foto: Mariana Garcia | Acervo DCS/UFMG

Morreu, na madrugada desta sexta-feira, 28, aos 95 anos, o advogado, jornalista e professor Adival Coelho de Araújo, um dos pioneiros na formação de jornalistas em Minas Gerais. Seu corpo será velado neste sábado, 29, das 8h às 14h, no velório 3 do Bosque da Esperança, em Belo Horizonte. O cemitério fica na Rua Aldemiro Fernandes Tôrres, 1.500, bairro Jaqueline.

Adival nasceu em Belo Horizonte em 17 de setembro de 1927 e cursou Direito na UFMG. Ao lado dos professores José Mendonça e Anis José Leão (morto em março de 2022), foi um dos fundadores do curso de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), no início da década de 1960.

Naquela época, à frente da redação do jornal O Diário, de Belo Horizonte, Adival, José Mendonça e Anis Leão enfrentavam dificuldades para encontrar mão de obra especializada para trabalhar na publicação. Surgiu então a ideia de montar um curso rápido, de apenas três meses, para ensinar aos iniciantes os conceitos básicos da profissão. A formação foi ministrada em salas cedidas pela então Faculdade de Filosofia da UFMG.

O minicurso foi o embrião do curso de Comunicação Social da UFMG, o primeiro da capital mineira, fundado em 1961, por comissão composta por professores da Universidade e pelos três profissionais. A partir dessa parceria, Adival colaborou com a elaboração do primeiro currículo do curso de Jornalismo da UFMG, quando ainda não havia um modelo de ensino estabelecido pelas instâncias superiores de educação do país.

Na essência, professor
O jornalista Manoel Guimarães, fundador do Boletim UFMG, recupera com admiração a memória do colega de profissão, com quem teve convivência “muito longa e fraterna” no decorrer de suas trajetórias profissionais. “Eu trabalhei durante 25 anos na UFMG, tínhamos uma convivência muito grande. Eu tinha um respeito muito grande por ele”, afirma Guimarães. “A trajetória do Adival é muito ligada à Universidade.”

“Ele foi muito importante não apenas na criação do curso de jornalismo da UFMG, mas também na preparação de profissionais, quando atuava na chefia de redação do jornal O Diário. Muitas gerações de jornalistas foram formadas por ele”, conta. Segundo Manoel, mesmo em seu trabalho na prática do jornalismo, Adival foi “um professor na essência”, dada a sua postura “de ter muito cuidado, de ensinar com muita paciência, de passar informações e experiências para as turmas mais novas”.

Fundador de jornais
Na Fafich, Adival foi chefe do Departamento de Jornalismo, membro do Conselho Departamental, secretário da Congregação e secretário do Conselho Administrativo, entre as várias funções que ocupou. Mais tarde, transferiu-se para a Faculdade de Direito, onde criou e editou por muitos anos o jornal O Sino do Samuel. “Adival tinha muito orgulho desse jornal. Era uma publicação de circulação interna, mas, arriscaria a dizer, que foi até pioneiro na Universidade”, destaca Manoel Guimarães.

O Sino de Samuel não foi o primeiro jornal lançado por Adival. A rigor, sua biografia o credencia como um fundador de jornais, vocação que remonta aos seus primeiros anos escolares. Quando ainda cursava o ensino médio no Colégio Municipal Marconi, em Belo Horizonte, Coelho teria fundado O Marconiano, jornal pioneiro na instituição. Mais tarde, junto com o jornalista Manoel Hygino dos Santos, fundaria O Jequitaí, no Norte de Minas.

No decorrer da vida, Adival lecionou disciplinas práticas de redação e reportagem na UFMG, na antiga Faculdade de Filosofia de Belo Horizonte (Fafi-BH) e no Centro Universitário Newton Paiva. Ele também foi diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais e da Associação Mineira de Imprensa.

Adival Coelho, José Mendonça e Anis Leão, fundadores do curso de Comunicação, em 2017
Adival Coelho, em 2017, com os colegas José Mendonça, que completava 100 anos, e Anis Leão, fundadores do curso de Comunicação da UFMGFoto: Acervo de Manoel Guimarães

Comunicação engajada
Ainda sobre o trabalho de Adival à frente do jornal O Diário, a historiadora e professora Maria Therezinha Nunes registrou que ele não apenas escrevia matérias e editava o jornal, mas também se posicionava nas páginas do periódico, “manifestando sua opinião e até mesmo incentivando claramente movimentos sociais, como o das professoras, pela melhoria de salários, ou denunciando questões sociais de saúde pública dos escolares”.

No livro Pensamento comunicacional de Minas Gerais, organizado pelas professoras Nair Prata e Juçara Brittes, a colaboradora Letícia Bessa, que o entrevistou em maio de 2014, anota que ainda àquela época Adival seguia “atuando ativamente em prol do fortalecimento sindical”.

Nesse perfil, a biógrafa registra: “Sem títulos de mestre ou doutor, o professor Adival de Araújo marcou sua contribuição para a Comunicação em Minas Gerais no que diz respeito à valorização profissional dos jornalistas por meio da formação regulamentada”.

O último parágrafo resume a trajetória do jornalista. “Aposentado, viúvo, pai de dois filhos e com três netos, Adival Coelho de Araújo leva uma vida tranquila, mas ativa, em uma casa antiga do bairro Serra, região Centro-sul da capital mineira. Sem pretensões, o jornalista, professor e advogado sintetiza seu legado: ‘Fui funcionário municipal, professor federal e jornalista’.” 

O corpo de Adival Coelho de Araújo será sepultado neste sábado, às 14h, no Bosque da Esperança (Alameda Flamboyant).

Adival Coelho de Araújo em 2011, na Fafich, por ocasião das comemorações dos 50 anos da Comunicação Social da UFMG
Adival Coelho de Araújo em palestra na Fafich, em 2011Foto: Thaiz Maciel | Acervo DCS/UFMG

Ewerton Martins Ribeiro