Morre o professor Fábio Martins, referência do rádio mineiro
Docente do Departamento de Comunicação Social da Fafich foi o primeiro profissional de comunicação a noticiar o golpe de 1964
Morreu nesta terça-feira, dia 15, aos 87 anos, o professor Fábio Martins, do Departamento de Comunicação Social da UFMG, uma das principais referências do rádio mineiro. Martins estava internado, desde o dia 5 de agosto, com quadro de trombose no Hospital Madre Tereza, em Belo Horizonte. Seu corpo será velado nesta quarta-feira, dia 16, no Cemitério do Bonfim, a partir das 8h. O sepultamento será às 10h.
Nascido em Morro do Pilar, a 150 quilômetros de Belo Horizonte, Fábio Martins era bacharel e especialista em Comunicação Integrada pela PUC Minas e atuou durante décadas como professor do Departamento de Comunicação Social da Fafich, lecionando disciplinas de rádio. No âmbito do Departamento, idealizou o projeto de extensão Rádio educativo, que se valia do rádio como ferramenta de ensino e inclusão social em escolas da periferia da Região Metropolitana de Belo Horizonte, e foi editor da revista Rádio em Revista, publicada pela Fafich. Ele também escreveu o livro Senhores ouvintes – no ar, a cidade e o rádio, no qual resgatou a história do veículo em Belo Horizonte e sua importância para a cidade.
Fábio Martins ajudou a formar várias gerações de profissionais do rádio mineiro, como o radialista Elias Santos, um dos fundadores da Rádio UFMG Educativa e atualmente doutorando do Programa de Pós-graduação em Comunicação. Em novembro de 1993, como trabalho de conclusão de curso, Santos concebeu o programa Elias Sunshine show, uma homenagem aos programas de auditório da era de ouro do rádio brasileiro (anos 1940 e 1950), que foi apresentado ao vivo no Auditório Sônia Viegas.
“Fábio apoiou muito o projeto, que surgiu nessa disciplina [Rádio 2], que ele ministrou”, diz Elias, que mais tarde voltaria a contar com o apoio do mestre na produção de um documentário sobre a passagem de Noel Rosa por Belo Horizonte, em 1935. “O filme acabou exibido no Cine Belas Artes, e um dos seus frutos foi uma exposição de fotografias com registros da produção que o professor Fábio organizou”, recorda-se Elias. “Era uma ótima pessoa, uma referência como locutor e sempre tratou os estudantes com muito carinho”, complementa.
Professora aposentada do Departamento de Comunicação, a jornalista Mirian Chrystus conviveu com Fábio Martins durante quase 30 anos. “Quando pensamos nele, o que vem logo em primeiro lugar é a pessoa, o ser humano: extremamente educado, mas uma educação feita de gentileza, de consideração com o outro, seja um aluno, um colega, um técnico, um desconhecido. E tinha também uma ironia muito fina”, afirma ela.
Mirian também foi testemunha da paixão que Martins nutria pelo rádio como ouvinte e como jornalista. “E ele mostrou esse amor na edição da Rádio em Revista. Ficará também na memória a sua bela voz, grave”, diz a professora.
'Furo de reportagem'
Fábio Martins tinha larga experiência em emissoras de Belo Horizonte, entre as quais as rádios Inconfidência e Itatiaia. Como profissional da última, fez uma entrevista com o general Carlos Luís Guedes, na noite de 30 de março de 1964, na qual antecipou o golpe militar. “Tomei o maior susto quando ele [o general Guedes] disse que iria depor o presidente João Goulart”, relatou o professor em entrevista ao jornal O Tempo, em 2007, rememorando uma história que contou para várias de suas turmas com sua voz solene.
Na mesma entrevista, Martins refletiu sobre aquele momento crítico da política nacional, que chamou de “grande túnel escuro”. “De lá custamos a sair. E felizmente saímos. Olha: democracia é muito importante. Que bom que hoje eu posso falar isso que estou falando, e você pode escrever o que quiser. Porque quando não pode... você só é capaz de medir isso no momento em que constata que não pode.”
Fábio Martins era companheiro da socióloga e professora da PUC Minas Yonne Grossi, falecida no dia 4 de agosto, aos 91 anos.