Morrem Fernando Pimentel, do ICB, e Luiz Alberto Gonçalves, da FaE
Gonçalves se aposentou no ano passado; Pimentel se desligou em 2003, mas seguiu como voluntário em laboratório
Morreram nos últimos dias os professores Luiz Alberto Oliveira Gonçalves, da Faculdade de Educação (FaE), aos 71 anos, e Fernando Pimentel de Souza, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), aos 85. O corpo de Luiz Alberto, que recentemente descobriu um câncer e estava sob cuidados paliativos, foi sepultado em Ribeirão Preto (SP), onde vivem seu irmão e outros familiares. Fernando Pimentel, que não resistiu a um problema cardíaco, teve seu corpo enterrado em Belo Horizonte, na última sexta, 19.
Luiz Alberto Gonçalves se aposentou em maio de 2022, depois de 35 anos de atividade docente na UFMG. Após atuar como professor substituto, ele ingressou como efetivo em 1997. Mestre em Educação pela UFMG e doutor em Sociologia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, na França, Luiz Alberto fez estudos de pós-doutorado na USP. Foi membro do Comitê Científico do Observatoire Européen de la Violence Scolaire e secretário executivo da Secretaria Especial da Igualdade Racial da Presidência da República (2003-2004) e assessor da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), entre outras funções.
Sua atuação teve ênfase em sociologia da educação, sobretudo nos temas educação e movimentos juvenis, políticas de ações afirmativas, diversidade, pesquisa qualitativa, cultura afro-brasileira e identidade racial, educação e políticas públicas. Coordenou o Programa Inter-institucional de Mestrado e Doutorado em Educação do convênio entre a UFMG e a Universidade Onze de Novembro, em Angola, presidiu o Comitê Científico do Centro de Estudos Africanos da UFMG e foi assessor do Programa de Ações Afirmativas na Pós-graduação, da Capes.
O professor Paulo Nogueira, da FaE, que foi orientado por Luiz Alberto Gonçalves na pós-graduação e colega na unidade, lembra que ele fez, para o mestrado, a primeira pesquisa de peso sobre relações étnico-raciais na escola básica. “Luiz foi um intelectual brilhante e professor exigente e cuidadoso, que dava aulas magistrais, epistemologicamente lapidadas”, diz Nogueira, acrescentando que o colega foi grande ativista no campo das relações étnico-raciais e das ações afirmativas. “Nos últimos tempos, ele estudou a escola como espaço de reprodução das desigualdades raciais”, informa o colega. Luiz Alberto Gonçalves não teve filhos.
Ele foi tema de episódio recente do programa Bibliografia viva. A Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (Anped) publicou nota em homenagem ao professor.
Fernando Pimentel
Fernando Pimentel de Souza iniciou carreira de docente na UFMG em 1972 e se aposentou em setembro de 2003. Vinculado ao Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB, foi professor titular de Neurofisiologia. Sua trajetória se confunde também com a do Laboratório de Psicofisiologia.
Nascido em Divinópolis (MG), ele se graduou em engenharia eletrônica no Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (IME), seguiu para a França, onde enveredou pela biologia, tornou-se doutor em Psicofarmacologia na Escola Paulista de Medicina e fez estudos de pós-doutorado na Scripps Institution of Oceanography, na Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA).
“A poluição sonora silenciosamente ataca o corpo”, dizia Fernando Pimentel. Esse foi um dos principais assuntos de suas pesquisas: ele descobriu relações do ruído e do silêncio com a qualidade do sono, os níveis de colesterol no sangue e a cicatrização de feridas. E produziu mapas da poluição sonora em Belo Horizonte.
Após a aposentadoria, Pimentel seguiu como professor voluntário, vinculado ao Laboratório de Sinalização de Cálcio do ICB, coordenado pela professora Fátima Leite. “Ele continuou escrevendo artigos, participava de nossas reuniões de pesquisa. Algumas de suas contribuições mais importantes foram com estatísticas e planejamento experimental”, conta a professora.
Segundo Fátima, Pimentel esteve presente no ICB até pouco antes da pandemia. Ela diz que chamava a sua atenção de forma especial o grande conhecimento que demonstrava sobre assuntos variados, da ciência às artes em geral: “Para qualquer dúvida, eu recorria a ele, que tinha respostas detalhadas". Fátima lembra também da preocupação de Pimentel em avisar de pequenos atrasos. “Ele fazia questão de ser sempre um exemplo de compromisso para os mais jovens”, completa Fátima Leite.
Duas das muitas distinções recebidas por Fernando Pimentel foram concedidas pela Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (1979) – que reconheceu a pesquisa O córtex somato-sensorial da cutia Dasyprocta aguti – e pela Associação Ibero-americana de Engenharia de Segurança do Trabalho (1992), pelo artigo A poluição sonora urbana no trabalho e na saúde.
Pimentel deixa a mulher, Nádia, e um casal de filhos.