Evento sobre internacionalização indica forte retomada dos programas de mobilidade
Empolgados, estudantes buscaram informações em plantão montado pela DRI nesta quinta, na Praça de Serviços; estrangeiros relataram suas experiências no Brasil e exaltaram trocas culturais
Luciane Novaes Moreira suspira aliviada, olha para a intensa movimentação ao seu redor e resume: "A gente está de volta". Luciane é secretária executiva da Diretoria de Relações Internacionais (DRI), que organizou a primeira Mostra de Internacionalização da UFMG, realizada nesta semana, e que culminou com a Exposição de internacionalização, ocorrida na última quinta-feira, dia 18.
A exposição reuniu alunos intercambistas e em mobilidade, mulheres imigrantes do coletivo Cio da Terra, representantes do Instituto Confúcio, gestores de todos os setores da DRI, do Centro de Relações Internacionais da Faculdade de Medicina (Crinter), do Núcleo de Apoio às Relações Internacionais (Nari), do ICB, e da Pró-reitoria de Pesquisa (PRPq). "É um momento de muita interação e uma atividade muito gratificante. Isso nos aproxima das comunidades acadêmica e externa", avaliou Luciane.
Impacto
A área de relações internacionais da Universidade foi uma das mais afetadas pela pandemia de covid-19, cujo período mais crítico foi de 2020 a 2022. "A gente vivenciou a pandemia de uma forma muito impactante. Suspendemos as mobilidades em março de 2020, com 42 alunos que viajaram em janeiro", informou Luciane. A retomada ocorreu apenas em setembro de 2021, e o edital unificado recebeu 1.032 inscrições, aumento de 141% em relação ao edital de 2019, o último antes da pandemia.
Um levantamento feito pelo setor de Mobilidade da DRI de 2019 a 2022 foi apresentado na última conferência da Associação Brasileira de Educação Internacional (Faubai), realizada em abril. "Nesse encontro, a gente percebeu que a UFMG está muito à frente das outras universidades e que somos um referencial nessa área. Muitas pessoas nos perguntaram sobre nosso trabalho. Isso nos alegra muito, porque percebemos que estamos no caminho certo", contou Luciane.
Nesta semana, a DRI lançou o edital unificado para mobilidade em 2024. As inscrições serão abertas na segunda, 22, e seguem até 19 de junho. "Temos um edital mais simples e enxuto, que proporcionará uma dinâmica diferente e mais democrática para nossos alunos”, comentou Luciane. Ela também disse que, em breve, a DRI terá programas que incluirão outros grupos da UFMG. “Estamos planejando muitas novidades", adiantou.
O diretor de Relações Internacionais, Aziz Saliba, destacou o grande interesse despertado pela Mostra, que registrou 713 inscritos, número que, em sua avaliação, indica que o volume de candidaturas para mobilidade em 2024 poderá superar o de anos anteriores.
Era para ser apenas um luau
O que inicialmente seria um luau virou um evento de quatro dias com workshops, feiras, concurso de culinária e show de talentos. A Mostra de Internacionalização foi organizada pelo Setor de Acolhimento da DRI, formado pela coordenadora Elaine Parreiras, pelas bolsistas Júlia Cerqueira e Luísa Perini, com apoio de Luciana Fiuza, do Setor de Gestão Operacional e Informação, e de Ricardo Bruno, que atua na área de suporte de Tecnologia da Informação da própria Diretoria. Todo o projeto foi orientado pela diretora adjunta de Relações Internacionais, Bárbara Malveira Orfanò, professora da Faculdade de Letras (Fale). "A gente começou a organizar esse evento no começo do ano, quando estávamos planejando a nossa agenda. Queríamos divulgar os trabalhos da DRI de uma forma diferente", explicou Júlia Cerqueira.
"O intuito do evento é fortalecer a internacionalização, aproximando os estrangeiros da comunidade acadêmica e dando a quem não pode ir para fora essa experiência internacional aqui dentro", explicou Luísa. As bolsistas informaram também que a DRI planeja estabelecer para a Mostra periodicidade anual, de modo a ampliar o diálogo da Diretoria com a comunidade.
A Faculdade de Medicina também estava presente no evento. "Temos um edital específico para os alunos do último ano do curso. Assim, eles podem fazer residência em hospitais-escola fora do país", explicou Marcela Dantas, secretária do Centro de Relações Internacionais da Unidade. Segundo Marcela, mais de 10% das turmas costumam fazer mobilidade internacional. "Temos alunos em Portugal, Itália, França e até no Paquistão. Também vamos enviar alunos para os Estados Unidos e para Dubai", informou.
"Os editais da Medicina são específicos para o fim do curso, quando o estudante terá cumprido, além dos ciclos básicos, muitos estágios clínicos. Então, ele já 'botou a mão na massa'. Quando vai para o exterior, esse é o último estágio antes de se formar. É o momento em que acumulou experiência para fazer um atendimento internacional", explicou Marcela.
Da cidade mais antiga à cidade das luzes
No Brasil há três meses, Omar Al Sayed, estudante internacional do curso preparatório para o exame do Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa (Celp-Bras), conta que vem da cidade mais antiga do mundo. De Damasco, na Síria, ele trouxe receitas que apresentou no concurso de culinária da Mostra. Seus pratos renderam-lhe o primeiro lugar. "Eu adorei essa experiência. Aprendi com a cultura dos outros e também pude mostrar a minha", comentou o estudante, que deverá cursar Odontologia caso seja aprovado no exame de proficiência.
Omar explicou que o motivo de ter escolhido o Brasil foram os brasileiros. "Vocês são pessoas muito sociais e fazem um churrasco maravilhoso", elogiou. Ele até fez o próprio churrasco com um grupo de amigos que fez aqui. Antes de vir para a UFMG, Omar passou um mês viajando por outras cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.
A francesa Jéssica Ngasia Munsi, que está no último período de Direito, também participou da competição culinária com o crêpe Suzette, sobremesa tradicional da culinária de seu país. "Estou aqui há três meses. O Brasil sempre foi meu sonho", revelou. Jessica disse que começou a admirar o país após ter assistido à telenovela Da cor do pecado (2004), da TV Globo. "Eu pensava que o Brasil era o Rio [de Janeiro], com palmeiras e praias para todo lado", comentou, rindo do fato de ter se fixado em um estado sem mar. "Mas eu escolhi a UFMG porque uma amiga estudou aqui e disse que era muito legal", relatou a estudante.
Redes de apoio
As feiras de agricultura familiar e das mulheres imigrantes do coletivo Cio da Terra preencheram todo o entorno da Praça de Serviços com os mais variados produtos. Maria Estrela, de Cabo Verde, era uma das vendedoras do Cio da Terra. "Muitas aqui são artesãs. A gente se apoia na geração de renda e também temos aulas de português", informou.
Maria Estrela chegou há 13 anos ao Brasil para fazer Artes Visuais na UFMG, mas não concluiu a graduação. Hoje, é casada e tem três filhos. Ela começou a fazer bonecas de pano quando teve a primeira filha. "Resgatei a memória da minha avó, que me ensinou a fazer essas bonequinhas quando eu era pequena. As pessoas gostaram e, hoje, isso gera minha renda", contou. Sobre voltar ao seu país, ela disse: "Às vezes, bate a saudade. Cabo Verde é ilha, então eu via o mar todo dia. Mas é difícil voltar, principalmente com toda a família."
A vendedora Solange Rodrigues da Silva, a Sol, estava com o carrinho repleto de pessoas curiosas sobre os produtos veganos do coletivo Roots Ativa. Entre eles, uma granola artesanal e um bombom cuja receita foi inspirada nos sabores africanos. "Em alguns países da África, as crianças comem uma farofa com grãos bem nutritivos. Nós pegamos essa ideia e adaptamos ao formato do bombom, adicionando o doce da cana de açúcar", contou Sol.
Formado em 2009, no Aglomerado da Serra, o Roots Ativa também trabalha com compostagem e promove oficinas nas quais ensina as receitas. Quinzenalmente, o carrinho de Sol volta à Praça de Serviços para a Feira Agroecológica da UFMG.
Os hambúrgueres da Veggie Roots também fazem parte da feira quinzenal. Rodrigo Oliveira, fundador da marca, explicou que trabalha com sete sabores de hambúrguer, três de pão de queijo e falafel. Todos os produtos são veganos. "Sou vegano há cinco anos e gostava bastante de hambúrguer. Isso, junto com a vontade de encontrar satisfação pessoal, me fez fundar a Veggie Roots", contou.
O empresário, que sempre gostou de fazer trilhas, buscava um jeito prático de se alimentar nas aventuras. "Costumo ficar três dias acampado. Às vezes, levo o lanche pronto, ou então carrego uma grelha e faço na hora", disse. Cada sabor de hambúrguer foi inspirado e uma culinária diferente, como a indiana, a tailandesa, a árabe e a mexicana.
Instituto Confúcio
Instalado há quase dez anos na UFMG, o Instituto Confúcio esteve presente durante todo o evento. No show de talentos, a professora Chen Ding tocou o guzheng, instrumento musical chinês que lembra uma cítara com 21 cordas esticadas em uma estrutura de madeira. "Já faz quase um ano que estou aqui, ensinando mandarim e alguns instrumentos chineses", explicou. Chen é oriunda da Huazhong University of Science and Technology (Hust), em Wuhan, e faz parte de um grupo de quatro professores provenientes da China que ensinam a língua e a cultura do país no Instituto.
Erika Sena, estudante do sétimo período de Ciências Sociais, contou que está aprendendo chinês para aproveitar melhor a mobilidade que fará no próximo semestre. Ela está indo para Shenzhen, cidade que faz fronteira com Hong Kong. "Primeiro, eu tinha interesse na Coreia do Sul, nas séries de lá, e depois eu conheci o Confúcio, aí me apaixonei pela China assim que comecei a estudar o idioma", comentou Erika.
Na UFMG, o Instituto Confúcio, que tem sede na Faculdade de Letras, promove aulas de mandarim, do nível básico ao avançado, e atividades culturais, como pintura chinesa, caligrafia, pingue-pongue e o jogo de tabuleiro Mahjong. "O Instituto não integra os alunos só à língua, mas à cultura também", ponderou Erika.
Antes da pandemia, o Instituto Confúcio enviava os alunos da UFMG para a China por meio de edital próprio. Atualmente, a chamada é aberta pelo governo chinês, e o intercâmbio é viabilizado pela prova HSK, aplicada no Instituto. Esse teste possibilita a inscrição no edital unificado da UFMG, caminho que Erika está traçando neste ano. "Vou tentar fazer a extensão do intercâmbio quando estiver lá. Espero que a Universidade que me receber goste de mim e me deixe ficar mais tempo", concluiu Érika, esperançosa.