'Observatórios são espaços de escuta e conhecimento', afirmam participantes de roda de conversa
Especialistas debateram importância dessas instâncias em diversos campos; conversa foi destaque da programação do Festival de Inverno nesta quinta
No quarto dia de programação do 54º Festival de Inverno da UFMG, o Conservatório UFMG sediou a roda de conversa Observatórios e cultura, que contou com a participação do pró-reitor de Assuntos Estudantis e membro do Observatório de Políticas Estudantis, Tarcísio Mauro Vago, da pedagoga e integrante do Observatório da Juventude, Symaira Nonato, e do professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e membro do Observatório da Diversidade Cultural, José Marcio Barros.
Os participantes apresentaram suas experiências com os observatórios dos quais fazem parte, de forma a contribuírem para a criação do Observatório de Cultura da UFMG, iniciativa da recém-instituída Pró-reitoria de Cultura (Procult). O professor José Márcio explicou o que são e como funcionam os observatórios, estruturas dinâmicas que articulam informação e formação por meio de pesquisas aplicadas e compromisso com a transparência e a democratização do conhecimento.
“Os observatórios produzem conhecimentos sobre determinadas realidades e em diversos campos, além de contribuírem para o empoderamento das pessoas para as quais são destinados. Tão importante quanto criar um observatório é enfrentar o desafio de combater a banalização e a espetacularização da informação no mundo contemporâneo, visto que hoje as pessoas têm acesso a muitas informações, porém não produzem conhecimento com base nelas”, criticou.
Barros também destacou a importância que os observatórios têm para o engajamento dos cidadãos. “Eles acompanham e monitoram as realidades que afetam o bem coletivo, desenvolvendo processos de engajamento e qualificação profissional. Os observatórios são ferramentas para a educação e a qualificação críticas. No caso específico da área cultural, eles podem ajudar no combate do mito da diversidade cultural brasileira. Somos diferentes, mas as nossas diferenças são acompanhadas de desigualdade, o que faz com que elas não gerem diversidade nem pluralidade”, desabafou.
Experiências bem-sucedidas
O pró-reitor de Assuntos Estudantis, Tarcísio Mauro Vago, e a pedagoga Symaira Nonato contaram as suas experiências à frente do Observatório de Políticas Estudantis e do Observatório da Juventude, respectivamente. Nonato contou a história do Observatório da Juventude, que surgiu no âmbito da UFMG em 2003 e hoje desenvolve ações coletivas e políticas públicas de promoção da garantia de direitos, além de formar educadores e profissionais para atuar com os jovens.
“Assim como as outras instâncias do gênero, o Observatório da Juventude não observa a realidade de forma passiva. Ele constrói ativamente o conhecimento com os jovens, visto que funciona como um espaço educativo, situando-se no contexto de políticas públicas e ações afirmativas”, explicou.
Segundo Tarcísio, o Observatório de Políticas Estudantis da UFMG foi criado durante a pandemia da covid-19. Para exemplificar o sucesso das ações da instância, mesmo com o pouco tempo de atuação, ele abordou a reconfiguração do corpo discente das universidades federais nos últimos 12 anos. O professor explicou que as políticas públicas implementadas no período, como a Lei de Cotas, as reservas de vagas para pessoas com deficiência (PCDs), o Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), mudaram o perfil da Universidade.
“A UFMG da tradicional família mineira não existe mais. Os novos sujeitos que ingressaram na universidade, como negros, indígenas e quilombolas, por exemplo, demandaram novas políticas, e isso fez com que a universidade procurasse novas maneiras de atender essas pessoas”, contou.
O pró-reitor acrescentou que o Observatório de Políticas Estudantis surgiu como espaço de escuta e reflexão da Prae, ou seja, um ambiente criado para que os próprios estudantes pudessem expor e debater os assuntos de seus interesses. “O observatório é um lugar para ouvir os sujeitos. Então, um Observatório de Cultura será de extrema importância para que a Procult consiga dialogar com os sujeitos nesse campo que é tão importante. A cultura é essencial para o desenvolvimento de uma sociedade”, concluiu Tarcísio Mauro Vago.