Patricia Kauark é a nova diretora do Ieat
A professora do Departamento de Filosofia da Fafich assume para um mandato de dois anos, no lugar de Estevam Las Casas, da Escola de Engenharia
A professora Patricia Kauark Leite, do Departamento de Filosofia da Fafich, assumiu hoje a diretoria do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) da UFMG. Primeira mulher a dirigir o Instituto, ela sucede ao professor Estevam Las Casas, da Escola de Engenharia, que ocupou o cargo a partir de 2014.
Criado em 1999 e institucionalizado em 2005, o Ieat promove ambiente propício à realização de estudos transdisciplinares na UFMG, tendo sempre em vista o estado da arte do conhecimento. Isso se dá por meio de cátedras conduzidas por pesquisadores de renome internacional, residências de professores da UFMG e de eventos diversos. O Instituto troca informações e experiências em fóruns de âmbito nacional e internacional.
A solenidade de posse ocorreu na manhã desta sexta-feira, 11, na Sala de Sessões da Reitoria, conduzida pela reitora Sandra Goulart Almeida. “O Ieat tem papel cada mais importante na UFMG, na medida em que a transdisciplinaridade está no cerne da nossa instituição”, disse a reitora. “O Instituto aumenta e aprimora nossa capacidade de reflexão e contribui para modernizar a atuação da UFMG.” Sandra celebrou a escolha da primeira mulher para estar à frente do Ieat.
Depois de agradecer a “todos aqueles que idealizaram, projetaram e pavimentaram o caminho que trouxe ao que é hoje o Ieat”, Patricia Kauark destacou que o Instituto “propicia atmosfera inspiradora e estimulante de experimentação conceitual, visando ao aprimoramento da excelência acadêmica, na confluência e articulação das diferentes áreas de pesquisa e ‘culturas acadêmicas’ da Universidade”.
Ao enumerar seus planos de gestão – ampliar programas, encontrar formas alternativas de financiamento e aumentar a capilaridade do Instituto na UFMG, entre outros –, a professora destacou o que chamou de “desafio da transepistemicidade”. “A UFMG deve ser exemplo de transdisciplinaridade, mas também de abertura para novas epistemologias, novos saberes que só enriquecem a pesquisa científica. Como uma espécie de laboratório experimental, o Ieat é, por natureza, o lugar de onde a UFMG pode vislumbrar aquilo em que deseja se transformar e seu impacto no desenvolvimento social”, disse Patricia.
Estevam Las Casas fez um breve balanço de seus mais de oito anos de gestão, mencionando as parcerias com as diversas instâncias e unidades da UFMG. “Com a contribuição fundamental da equipe de servidores e dos conselhos Diretor e Científico, buscamos aprofundar a inserção do Ieat nas discussões das questões relativas às barreiras disciplinares e a criação de espaços alternativos de ensino, pesquisa e extensão”, afirmou.
Carreira marcada pela transversalidade
Patricia Maria Kauark Leite é professora associada da UFMG e pesquisadora do CNPq. É graduada em Física (licenciatura e bacharelado) pela UFMG, mestre em Filosofia pela mesma universidade e doutora em Epistemologia pela Ecole Polytechnique, de Paris. Foi pesquisadora visitante na Stanford University (EUA), na Martin-Luther-Universitat (Alemanha), na Universidade de Lisboa (Portugal) e na Universitá di Catania (Itália).
Patricia atua sobretudo nos campos da filosofia da ciência, filosofia transcendental e filosofia da mecânica quântica. Recebeu o prêmio Louis Liard 2012, concedido pela Academia de Ciências Morais e Políticas da França, pelo seu livro Théorie quantique et philosophie transcendantale: dialogues possibles (Hermann, 2012). É coordenadora regional do Projeto Internacional Kant in South America (Kantinsa).
Com atuação acadêmica marcada pela transversalidade, Patricia Kauark explica que a mecânica quântica rompe paradigmas clássicos quanto ao que se espera da teoria científica, e seus estudos são dedicados a entender “o impacto dessa mudança na nossa própria compreensão filosófica do que é ciência”.
“Porque a transversalidade é crucial em minha pesquisa, dirigir o Ieat pode ser considerado o coroamento de minha carreira, e estou muito empolgada”, ela diz. “É uma missão muito importante, na medida em que implica a busca constante por inovação e excelência que integram diferentes campos do conhecimento. E a universidade deve caminhar com convicção para o futuro que é, indiscutivelmente, transdisciplinar. A imbricação das áreas do saber é a saída para os impasses e problemas enfrentados pela sociedade.”
A nova diretora destaca que pretende dar continuidade ao “projeto bem-sucedido” do Ieat, que já passou, ela lembra, pelas fases de experimentação, institucionalização, consolidação e internacionalização. Patricia anuncia que seus esforços serão no sentido de identificar as pesquisas transdisciplinares que são feitas na UFMG e ainda desconhecidas da comunidade, dar visibilidade aos estudos dessa natureza para que pesquisadores e grupos se aproximem, incentivar projetos de colaboração interinstitucional e buscar recursos para mais cátedras internacionais. “É importante que os pesquisadores estrangeiros fiquem mais tempo na Universidade”, diz a diretora, que também quer investir na formação do corpo técnico do Ieat – por exemplo, por meio de estágios em institutos estrangeiros – e na ampliação de seu espaço físico.
Papel de aglutinador
Ao lembrar conquistas importantes de sua gestão, Estevam Las Casas destaca o crescimento do número de professores residentes – viabilizado pela substituição em sala de aula por alunos de pós-graduação –, a intensificação do papel do Ieat de aglutinador de grupos de pesquisa e a vinda, até a pandemia, de muitos pesquisadores pelos programas Cátedra Fundep/Ieat e Cátedra Calas/Ieat.
Las Casas ressalta também a participação do Ieat em rede de discussões sobre as formas de contribuição das universidades para a educação básica, a promoção na UFMG do Intercontinental Academia, evento da rede University Based Institutes on Advanced Studies (Ubias) – com participação de ganhadores do Prêmio Nobel e palestras abertas à comunidade acadêmica a custo acessível – e a promoção de debates sobre temas como liberdade de expressão, fake news, pré-sal e manipulação de genoma.
“O Ieat conquistou presença mais forte na comunidade acadêmica, mas ainda precisa se fazer mais conhecido nas áreas de exatas e tecnologia”, diz o professor da Escola de Engenharia, que cita também a iniciativa de formação transversal na pós-graduação, em que os alunos são orientados em disciplinas de dois programas, como forma de quebrar barreiras departamentais.
Articulação e internacionalização
Criado em 1999 e institucionalizado em 2005, o Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares da UFMG é um órgão que visa promover um ambiente propício à realização de estudos transdisciplinares nas fronteiras do conhecimento. Para cumprir sua missão, o Ieat fomenta a articulação entre pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. As Cátedras favorecem a internacionalização do conhecimento transdisciplinar ao estimular parcerias de pesquisadores de renome internacional com grupos de pesquisa da UFMG. O programa de Professores Residentes proporciona a professores da Universidade condições de desenvolver projetos avançados de pesquisa, com destacado caráter transdisciplinar.
O programa Grupos de Pesquisa oferece apoio a grupos de pesquisa que atuem em pelo menos duas grandes áreas do conhecimento diferentes. O Ieat também é responsável pela Revista da UFMG, que aborda temáticas específicas em perspectiva interdisciplinar e divulga resultados de pesquisas e de produções teóricas e artísticas diversas. Em parceria com a Editora UFMG, o Instituto produz a Coleção Ieat, de livros de professores residentes, catedráticos e outros pesquisadores.
O Ieat participa da rede Ubias (University-Based Institutes for Advanced Study), que congrega atualmente mais de 50 institutos de estudos avançados ao redor do mundo e promove ambiente adequado para a troca de experiências entre pesquisadores de diversas áreas, culturas e formações, criando espaço para pesquisa inovadora. É parceiro do Centro Maria Sibylla Merian de Estudos Latino-americanos Avançados (Calas), fundado por consórcio de universidades latino-americanas e alemãs para fomentar pesquisas nas ciências sociais e humanas na América Latina, aplicando abordagens históricas, científicas e sistemáticas e empregando o diálogo transdisciplinar e transregional. Fruto de parceria entre o Calas e a UFMG, sob a responsabilidade do Ieat, o programa de Cátedras Calas-Ieat apoia pesquisadores que atuam no desenvolvimento de estudos relacionados à América Latina. No âmbito nacional, o Instituto é filiado ao Fórum Brasileiro de Estudos Avançados (Fobreav), que congrega institutos e centros de estudos avançados de diversas universidades brasileiras.
Antes de Estevam Las Casas, o Ieat foi dirigido por Paulo Sérgio Beirão, do Instituto de Ciências Biológicas (1999-2000), Ivan Domingues, da Fafich (2000-2003), Alfredo Gontijo de Oliveira, do Instituto de Ciências Exatas (2003-2005), Carlos Antônio Leite Brandão, da Escola de Arquitetura (2005-2009), e Maurício Alves Loureiro, da Escola de Música (2009-2014).