A professora Taniele Rui, do Departamento de Antropologia da Unicamp, é a convidada do 32º episódio do podcast Crisp entrevista, iniciativa do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da UFMG (Crisp). Na conversa com os pesquisadores Ludmila Ribeiro, Valéria Oliveira e Rafael Rocha, anfitriões do podcast, Taniele discorre sobre as vidas precárias em contexto de rua e aborda a Cracolândia de São Paulo – como ela integra as narrativas e prioridades da segurança e saúde pública, criando uma “movimentação pingue-pongue” entre a rua e a prisão, mediada pelo consumo de drogas em espaços urbanos.

Ao final, Taniele conta o que mudou na cena de uso de crack em espaços de rua de grandes metrópoles como São Paulo durante a pandemia e por que esses espaços mobilizam tanta atenção da mídia, especialmente quando o problema é tratado numa lógica mais humanizadora como a do padre Júlio Lancelot.

Integrante da Comissão de Direitos Humanos da Associação Brasileira de Antropologia, Taniele Rui é autora de livros como Nas tramas do crack: etnografia da abjeção e uma das organizadoras de Novas faces da vida nas ruas, finalista do prêmio Jabuti em 2017. A antropóloga investiga há vários anos as pessoas que têm vidas precárias, com ênfase especial naquelas que residem por alguns momentos nas ruas das grandes cidades. Quando a Cracolândia não era uma categoria que permeava as notícias de jornais com tanta regularidade, em tentativa de criminalizar quem reside nesses espaços de rua, ela produzia investigações transversais sobre pobreza, vulnerabilidade e marginalidade urbanas, lançando mão de especialidades empíricas como as interfaces políticas da associação entre rua, drogas, periferias e dispositivos de assistência social, saúde pública e punição, como prisões e comunidades terapêuticas.

Debate informado
Lançado durante a pandemia de Covid-19, em 2020, o Crisp entrevista promove debate embasado em evidências sobre políticas públicas relacionadas à criminalidade, segurança pública, justiça criminal e ao sistema prisional. Como explicam os pesquisadores, existem muitos mitos sobre as causas da criminalidade e os efeitos das intervenções governamentais, devido à falta de discussão informada por pesquisas com rigor metodológico, de maneira acessível. As entrevistas com especialistas da área duram cerca de uma hora, e as perguntas abordam a trajetória profissional e a obra dos entrevistados. Outro objetivo é criar um acervo de entrevistas que represente diversidade de pesquisadores no que se refere a sexo, idade, raça e nacionalidade. O podcast pode ser ouvido no Spotify.