Processo que resultou na criação da Procult é relembrado na abertura do Festival de Inverno
Evento que começou nesta segunda-feira discute a trajetória e os rumos da cultura na UFMG
Na noite desta segunda-feira (17), teve início a 54ª edição do Festival de Inverno da UFMG. Da mesa de abertura, sobre o tema Cultura em movimento: da Diretoria de Ação Cultural (DAC) à criação da Pró-reitoria de Cultura (Procult), participaram gestores e profissionais que fizeram parte da trajetória da instância que, desde 2002, gerencia os rumos da cultura no âmbito da universidade. A transformação da DAC em Procult foi oficializada em junho deste ano, conforme resoluções aprovadas pelo Conselho Universitário.
Em seu pronunciamento, uma das ex-diretoras da DAC, a professora Leda Maria Martins, lembrou das “restrições e obstáculos” sentidos por aqueles que, durante mais de 30 anos, lutaram pela consolidação da gestão da cultura na UFMG. “O caminho foi difícil, árduo e espinhoso. Apesar das retóricas, não há respeito nem apreço à cultura e a seus agentes no Brasil”, desabafou Leda Martins.
A professora enfatizou a importância do reconhecimento e do fortalecimento das práticas e da gestão de cultura para a formação da cidadania. “Não existe democracia sem que a cultura, em todos os seus amplos e transversais aspectos, integre, de fato, todos os projetos acadêmicos e todos os projetos de ideia e construção de nação. A atividade cultural é, pela sua própria natureza, o exercício da diversidade. É um sonho utópico, mas que deve merecer toda a nossa luta”, reforçou.
Enlaçados pela cultura
“Quando a gente pensou que abraçava a cultura, já havíamos sido enlaçados por ela muito antes. É um caso de amor, com certeza”, expressou a servidora aposentada da DAC Márcia Fonseca, que foi coordenadora do Festival de Inverno e participou de muitos dos movimentos que resultaram na institucionalização da área na UFMG. “Não foi um passe de mágica: a trajetória foi longa, e as memórias são muitas”, evocou.
Diretor da DAC de 2002 a 2006, o professor Fabrício Fernandino lembrou que, inicialmente, a Coordenadoria de Cultura da UFMG era vinculada à Pró-reitoria de Extensão (Proex). “Em 2002, a pasta foi separada da Extensão, justamente para potencializar o apoio à cultura”. Esse marco também foi destacado pelo último diretor da DAC (agora pró-reitor), o professor Fernando Mencarelli. “A vinculação à Reitoria foi um gesto importante. Começou-se, ali, uma história”, completou.
O professor Maurício Campomori, que foi diretor de Ação Cultural e coordenou o Festival de Inverno de 2007 a 2011, trouxe à tona parte do legado do evento. “Vários grupos artísticos de relevância em Minas Gerais nasceram ou se consolidaram no Festival, como o Grupo Corpo, o Uakti, o Giramundo e outros. Da mesma forma, pessoas de destaque no cenário regional da cultura, em algum momento, trabalharam em oficinas ou outras atividades do evento”, frisou.
A trajetória afetuosa que desencadeou a criação da Procult foi sublinhada pelo produtor cultural Sérgio Diniz. “Tivemos o privilégio de estar num ambiente onde trabalhamos muito, mas também semeamos ótimas relações”. Ex-diretora da DAC (2012 – 2014), a professora Sônia Queiroz reiterou que “somente com a ação de todos os agentes de cultura envolvidos historicamente nesse processo a Procult tornou-se possível".
Juntos novamente
Em seu pronunciamento, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida ressaltou que a cerimônia era especialmente importante porque marcava o retorno das atividades presenciais do Festival. “Aprendemos algo durante a pandemia: a importância de estarmos juntos”.
A pró-reitora adjunta de Cultura, Mônica Ribeiro, destacou que a realização de mais uma edição do evento, “mesmo com todas as restrições impostas às universidades brasileiras nos últimos anos”, é um ato de bravura e resistência. O reitor da Universidade de Valparaíso (Chile), Osvaldo Corrales, afirmou que, ao juntar-se ao restrito conjunto de universidades que têm uma pró-reitora de cultura, “a UFMG marca um caminho que todas as demais instituições deveriam seguir”. Corrales é vice-presidente da Associação de Universidades do Grupo de Montevidéu (AUGM), da qual a reitora da UFMG é a presidente.
Mapeamento cultural
Dados do mapeamento cultural da UFMG também foram apresentados durante a sessão de abertura do Festival de Inverno. Do total de agentes culturais da UFMG, 70% se identificaram como agentes culturais individuais, 21% como agentes coletivos, inseridos em grupos de pesquisa e grupos artístico-culturais, e 10% se identificaram como espaços culturais da Universidade. Em relação aos agentes culturais coletivos, 44,37% são professores e 43,05%, estudantes. Entre as pessoas que se identificaram como agentes individuais, 67,39% são estudantes e 16,4%, docentes. Os agentes que responderam por espaços culturais estão distribuídos entre servidores técnico-administrativos (34%), estudantes (30%) e docentes (26%).
O mapeamento, iniciado no ano passado, teve como objetivo identificar as pessoas que produzem cultura na Universidade, com o intuito de descrever seus campos de atuação, ações e projetos. As ações podem estar relacionadas a diversos campos do conhecimento – das ciências humanas às exatas – e associadas a áreas como acervo, arte de rua, artesanato, cinema, comunicação, cultura digital, cultura LGBTIQ+, pesquisa e ensino, produção cultural, jogos, patrimônio, entre outras.
Os espaços de cultura existentes na Universidade também foram cadastrados no levantamento, como livrarias, museus, centros de comunicação e editoras.
O primeiro dia de atividades do 54º Festival de Inverno foi encerrado com sarau do Grupo Sonante 21, que reuniu diversos professores da área de artes em um espetáculo com música, dança e vídeo concebido com base em obras musicais contemporâneas e improvisações livres.
A programação do Festival de Inverno segue até a noite de sábado, 23 de julho.