Aristóteles disse que “a grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las”. A palavra “emérito” remete a merecimento, em sua etimologia latina: emérito é aquele que merece e efetivamente recebe o que é merecido. “Merecimento” foi, de fato, a tônica da cerimônia realizada na noite desta quarta-feira, 17 de maio, na Faculdade de Odontologia, em que o docente José Eustáquio da Costa, baluarte da periodontia nacional, recebeu da congregação da Casa o título de professor emérito da UFMG, a mais alta honraria docente.

A referência a Aristóteles e à etimologia latina da palavra foi feita pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida em seu pronunciamento de saudação ao novo emérito da UFMG, ocasião em que destacou os vários feitos de sua trajetória. Particularmente, Sandra ressaltou a constante disponibilidade do homenageado para assumir, quando convocado, funções de gestão, em paralelo à sua atuação no magistério – para o qual era, ao mesmo tempo, particularmente vocacionado.

“A mensagem, portanto, é de reconhecimento por toda uma carreira vivida na instituição. No caso do professor Eustáquio, trata-se de uma carreira pontuada por dedicação incondicional à Faculdade de Odontologia e à UFMG, seja como professor, seja como gestor”, demarcou. “Ao longo de sua carreira, José Eustáquio impactou de maneira significativa a área de periodontia, abordando com pioneirismo alguns dos seus problemas centrais”, acresceu. “Uma vez que é aceito por você este título”, disse a reitora, “ele passa a representar para a Odonto e para a UFMG um novo padrão de referência, uma baliza para as novas gerações”.

Referência para a pós-graduação
José Eustáquio da Costa nasceu no dia 15 de outubro de 1947 — uma feliz coincidência, já que na data se comemora, no Brasil, o Dia do Professor. Ao fazer a homenagem ao amigo e mentor, a professora Isabela Almeida Pordeus, colega de Faculdade de Odontologia e atual pró-reitora de Pós-Graduação, brincou que Eustáquio “nasceu duas vezes”, já que comemora o aniversário também no dia 23, Dia do Aviador. “Essas duas datas se entrelaçam: seja como professor, seja como pessoa de ‘pensamentos altos’, uma pessoa de projetos e desejos voltados para o bem comum. Não são duas vidas, mas momentos que se entrelaçam”, disse.

Mais tarde, em seu discurso, o homenageado explicaria a anedota: nasceu no dia 15, de fato, mas, por razões conjunturais, foi registrado como nascido no dia 23. “Por tudo isso, eu diria que o Eustáquio é acima de tudo uma ‘pessoa singular’, isto é, que não tem igual”, disse Pordeus, relembrando ainda a forte relação do homenageado com o saudoso professor Badeia Marcos, referência para a Faculdade de Odontologia e para a periodontia nacional. A ele, José Eustáquio também se referiu com extrema deferência por mais de uma vez em seu discurso. Ao longo de suas carreiras, José Eustáquio e Badeia fizeram algumas dobradinhas em funções de gestão.

“A minha admiração pelo professor Badeia Marcos começou a crescer ainda no início da minha carreira acadêmica. Admiração pela sua postura, pela sua humildade e pelo seu gosto pela filosofia, um gosto em comum que sempre tivemos. Eu o acompanhava sempre que podia, absorvendo um pouco do seu grande conhecimento em diversas áreas”, contou o homenageado. Particularmente, Eustáquio lembrou que, certa vez, durante um intervalo de um congresso, sugeriu a Badeia que assumisse o colegiado de pós-graduação da Odontologia e fizesse uma reforma. “Para minha alegria, ele me disse que, se eu me dispusesse ser o seu subcoordenador, ele tentaria”, lembrou.

A dupla foi eleita em outubro de 1990 e iniciou os trabalhos de reforma do curso. “Enfrentamos inúmeras dificuldades, críticas e incompreensões, pois apresentamos uma proposta inovadora. Mas seguimos em frente, também com o apoio de várias pessoas que, aos poucos, foram acreditando cada vez mais na proposta", relatou. No evento, todos os que discursaram lembraram esse momento como um verdadeiro ponto de virada para a pós-graduação em Odontologia da UFMG, em direção ao seu sucesso atual. Atualmente, o programa tem nota 7 – a mais alta – na avaliação quadrienal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Mentor, conselheiro, parceiro
Além da reitora, do vice-reitor Alessandro Moreira, de Isabela Pordeus e do próprio homenageado, a mesa da cerimônia foi composta pelo diretor da Faculdade de Odontologia, Allyson Nogueira Moreira, pela vice-diretora Denise Vieira Travassos e por Ana Lúcia Gazzola, reitora da UFMG na gestão 2002-2006. Antes de assumir a Reitoria da UFMG, Gazzola fora pró-reitora de Pós-graduação de 1987 a 1992, época em que José Eustáquio coordenava a pós-graduação da Odonto junto com Badeia Marcos. Ao ser referida com carinho no discurso do homenageado, Ana Lúcia quebrou o protocolo e tomou a palavra ainda da mesa para lembrar à plateia da importância da parceria que tiveram. “Na época, gente, ele era o meu braço direito e também o esquerdo”, brincou.

Em sua fala, Allyson Moreira afirmou que Eustáquio “dedicou sua vida à missão de ensinar e compartilhar conhecimento”. Segundo o diretor, o compromisso de Eustáquio com a educação e com a Universidade foi uma inspiração para inúmeras gerações de estudantes e colegas de trabalho – grupo em que ele se vê incluso. “Pessoalmente, o professor Eustáquio foi um conselheiro para decisões importantes na minha trajetória acadêmica, incluindo a motivação para me candidatar e assumir a Diretoria desta faculdade”, lembrou. “Sua generosidade em compartilhar seu conhecimento e sua disposição em oferecer conselhos valiosos foram cruciais para o desenvolvimento de muitas carreiras promissoras”, disse.

José Eustáquio é o sexto emérito da Faculdade de Odontologia. Antes dele, foram agraciados com a honraria os professores Luiz Soares Viana, Edgard Carvalho Silva, que morreu em outubro 2018, Arnaldo de Almeida Garrocho, Francisco César de Sá Barreto e Ronaldo Tadêu Pena.

O homenageado
Sempre pela UFMG, José Eustáquio da Costa graduou-se em Odontologia em 1974, especializou-se em 1983, tornou-se mestre em 1985 e doutor em 2006.

Ao longo da carreira, orientou 20 dissertações de mestrado e mais de 20 monografias de especialização. De bancas de comissões julgadoras e de trabalhos de conclusão, participou de quase duas centenas. Como docente, ensinou por toda a vida a periodontia.

José Eustáquio tornou-se professor adjunto da UFMG em 1978, associado em 1996 e titular em 2011. Um capítulo importante de sua trajetória, mencionado por ele e pelos demais oradores, foi sua atuação como servidor técnico, antes de sua transição para a docência. Seu primeiro emprego formal, em 1968, foi no Hospital São Geraldo, uma das instalações precursoras do Hospital das Clínicas. “Lá, aprendi uma profissão e tomei contato com a pesquisa. Esse período teve muita influência em minhas decisões futuras, inclusive na carreira acadêmica”, contou.

Ao longo de sua carreira, Eustáquio desenvolveu pesquisas nas áreas de epidemiologia, microbiologia e biologia celular e molecular, que destacaram particularmente a influência da saúde bucal na saúde do corpo.