Recuperação da Casa da Glória, em Diamantina, terá recursos do governo dos EUA
Projeto da UFMG prevê substituição de estruturas de madeira e da rede elétrica e instalação de sistema contra incêndio
A Casa da Glória, edifício do século 18 em Diamantina (MG) gerido pelo Instituto de Geociências da UFMG, receberá recursos do Departamento de Estado dos Estados Unidos para obras de recuperação e revitalização. O anúncio foi feito nesta terça-feira, 12, pela Universidade e pelo Escritório da Embaixada dos EUA em Belo Horizonte.
O governo americano fará aporte de US$ 235.690,00 – provenientes do Fundo de Embaixadores para Preservação do Patrimônio Cultural –, e a contrapartida da UFMG será de U$189.441,00, na forma, sobretudo, de alocação de mão de obra. O projeto apresentado pela UFMG e selecionado pelo Departamento de Estado prevê substituição de estruturas de madeira que suportam a construção, parcialmente destruídas por infestação de cupins, troca de toda a rede elétrica e instalação de sistema de prevenção e combate a incêndios.
O projeto de revitalização da Casa da Glória é o único no Brasil financiado pela chamada aberta neste ano pelo Departamento de Estado dos EUA. “Diamantina é uma das joias do patrimônio histórico-cultural brasileiro, e a Casa da Glória, com seu charmoso passadiço, é um dos seus ícones. Quem vê uma foto da Casa logo associa a edificação à cidade”, afirma a reitora Sandra Goulart Almeida. Segundo ela, a acolhida da proposta da UFMG é “uma prova do reconhecimento do governo norte-americano ao valor cultural e acadêmico da Casa da Glória e ao papel que a UFMG, por meio do IGC, desempenha na consolidação desse importante patrimônio”.
O encarregado de Negócios da Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil, Douglas Koneff, destaca que comemorar os 246 anos da Independência dos Estados Unidos com a recuperação de uma edificação tão importante, que começou a ser construída também no final do século 18, “não poderia ser melhor”. “Essa parceria consolida ainda mais nosso relacionamento com Minas Gerais e oferece novas oportunidades de intercâmbio acadêmico e cultural entre nossas duas nações”, diz.
Sob gestão do Instituto de Geociências (IGC) da UFMG, a Casa da Glória dá suporte às atividades de campo de ensino, pesquisa e extensão do próprio IGC e de outras unidades da UFMG, e ainda recebe pesquisadores de outras instituições do país, informa a professora Maria Giovana Parisi, que era vice-diretora na época da elaboração do projeto e coordenou esse trabalho. Ações de resgate da memória do patrimônio histórico e arquitetônico são desenvolvidas em parcerias com órgãos públicos e empresas. A Casa tem 11 alojamentos, com capacidade para receber 110 estudantes e pesquisadores a um só tempo.
Angelim-pedra e paraju
A expectativa é que as obras, que contam com aval do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), sejam concluídas até o fim de 2023, informa o diretor do IGC, professor Carlos Lobo. O trabalho vai começar pela descupinização. Segundo o diretor do Instituto Casa da Glória, Bernardo Gontijo, também professor do IGC, especialistas das universidades federais de Viçosa (UFV) e de São Paulo (Unifesp) farão visitas à Casa para avaliar a adequação de métodos desenvolvidos nessas instituições para o combate à infestação.
As edificações que compõem a Casa da Glória foram feitas em paredes de pau-a-pique. O suporte fica a cargo de um reticulado de madeira, mesmo material do forro e dos assoalhos. Muitas das peças do suporte serão trocadas integral ou parcialmente. “As madeiras utilizadas na construção e nos trabalhos de reparação ao longo de mais de 200 anos são de alta qualidade, e os assoalhos de ipê estão em ótimas condições”, atesta o engenheiro Luis Felipe Calvo, da UFMG. Ele informa que serão usados o angelim-pedra para os forros e a maçaranduba (conhecida também como paraju) para a estrutura de suporte.
A Casa da Glória
O edifício da Casa da Glória, que integra o Instituto Casa da Glória (ICG), é formado por um conjunto de dois casarões históricos, situados em lados opostos da rua da Glória e interligados por um passadiço suspenso, ícone da cidade de Diamantina, construído no final do século 19, com a função de unir as duas casas que funcionavam como educandário e orfanato. A obra foi símbolo da campanha pela declaração de Diamantina como Patrimônio Cultural da Humanidade, da Unesco.
As construções são de épocas e estilos diferentes. O edifício principal foi construído entre 1775 e 1800. No início do século 19, a Casa passou a ser administrada pelo estado de Minas Gerais e recebeu visitas de estudiosos como Saint Hilaire, John Mawe, Barão Eschwege, Spix & Martius. Em 1864, passou a pertencer à Igreja e foi transformada em residência oficial dos bispos de Diamantina. Na década de 1860, o edifício sofreu nova modificação para abrigar religiosas da ordem de São Vicente de Paula, que instalaram um educandário feminino. O edifício vizinho havia sido construído também no século 19 e acabou igualmente adquirido pela irmandade para se tornar um orfanato.
Em 1978, o conjunto dos dois edifícios da Casa da Glória foi adquirido pelo Ministério da Educação e Cultura para sediar o Centro de Geologia Eschwege (CGE), destinado a receber pesquisadores e estudantes de geologia de todo o Brasil. Desde sua incorporação como Órgão Complementar do Instituto de Geociências da UFMG, o CGE promoveu diversos cursos na área de geologia de campo e mapeamento geológico. Nos anos 2000, o uso do espaço se diversificou, e foram incorporadas ações nas áreas de turismo, geografia, cartografia histórica e cultura. O centro foi então rebatizado como Instituto Casa da Glória.
O Instituto é hoje um importante espaço para difusão da história de Minas Gerais e interpretação da paisagem urbana e cultural da cidade de Diamantina. A Casa da Glória recebe em torno de 20 mil pessoas a cada ano. Os espaços foram reorganizados (ambientes expográficos foram readequados, sem prejuízo das atividades de apoio à pesquisa e trabalhos de campo), a visitação turística é monitorada, e vários eventos são sediados ali.
Preservação do patrimônio
O Fundo dos Embaixadores é administrado pelo Escritório de Assuntos Educacionais e Culturais do Departamento de Estado dos EUA. Os recursos são destinados a projetos de preservação do patrimônio cultural, incluindo edifícios históricos, sítios arqueológicos, objetos etnográficos, pinturas, manuscritos, línguas indígenas e outras formas de expressão cultural tradicional.