Relação entre futebol e cultura é abordada em livro de pesquisadores da Fale
Artigos perpassam a música, o cinema e a política e resgatam o legado de cronistas como Nelson Rodrigues e Armando Nogueira
À medida que o futebol se popularizou no Brasil, a partir da década de 1930, tornando-se um dos vértices de sustentação da identidade nacional, a modalidade também se consolidou como fenômeno linguístico.
“O trabalho pioneiro de jornalistas como Mário Filho fez nascer a crônica esportiva, e a transmissão de partidas pelo rádio ampliou o alcance da ‘falação’ sobre o esporte, gerando um jargão próprio que substituía, gradativamente, os termos ingleses”, observa o professor Elcio Cornelsen, da Faculdade de Letras (Fale). Muitas das expressões do universo do futebol foram, aos poucos, incorporadas ao léxico do brasileiro em forma de metáforas, como “pisar na bola”, “dar cartão vermelho”, “jogar para escanteio” e “estar de marcação”.
A influência do futebol na cultura nacional e no seu vernáculo é retratada em uma coletânea de 12 artigos escritos por pesquisadores da UFMG e reunidos no livro Futebol, linguagem e cultura. Os textos tratam da interface do esporte com outros campos, como o da literatura, da música, da imprensa, do cinema e da política.
Elcio Cornelsen e o sociólogo Marcus Vinicius Costa, doutor em História pela UFMG, são os organizadores do volume, e a maioria dos textos é assinada por estudantes que cursaram a disciplina Futebol e linguagem, ofertada no primeiro semestre de 2021 na Fale, e pesquisadores do Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes (Fulia).
Publicado pela editora Viva Voz, o livro está disponível para download.
De Tostão a Vander Lee
No artigo O futebol e a linguagem da crônica: uma análise sobre Tostão, Beatriz Kalil apresenta um estudo sobre a linguagem tendo como base a produção de Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão, que, além de colunista esportivo, é médico e ex-jogador. Elcio Cornelsen assina o trabalho O Maracanã e o lirismo de Armando Nogueira, em que trata da contribuição do jornalista que se tornou referência da crônica esportiva.
Parte do legado de Nelson Rodrigues é explorado no artigo A linguagem da crônica esportiva de Nelson Rodrigues: 'O Eichmann do apito' e 'Bicampeões do mundo', em que Fernanda Malbar demonstra como o cronista imortalizou, por meio do uso da linguagem, os feitos dos jogadores brasileiros durante a copa de 1962. Em Futebol como alegoria: os clássicos no jogo e no amor, Erika Valentim discorre sobre a relação íntima estabelecida entre o futebol e a música no Brasil, trazendo à tona canções consagradas por artistas como Gilberto Gil, Milton Nascimento e Vander Lee.
Os demais artigos do livro são de autoria dos pesquisadores Francisco Brinati, Julia Avelino, Lucas de Souza, Luciana Cirino, Thiago Costa, Vinicius Tonet e Wallace Graciano.