Extensão

Saúde mental é democracia

Semana terá programação marcada pela discussão de direitos e processos participativos; ponto alto é o tradicional desfile do Dia Nacional da Luta Antimanicomial

O desfile do dia da luta antimanicomial é uma das atividades em direitos humanos com a participação da UFMG.
O tradicional desfile ocorre no dia 18, com a participação de usuários dos serviços de saúde mental, familiares, profissionais e estudantesFoto: Arquivo Semana de Saúde Mental e Inclusão Social | UFMG

De 16 a 19 de maio, será realizada a 11ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG, com diversificadas atividades em diferentes espaços dos campi Pampulha e Saúde, em Belo Horizonte. O evento é um convite à reflexão sobre “a transversalidade do tema”, como se explica no seu site, bem como sobre “a importância de promovermos a agenda de luta e defesa da saúde mental em uma perspectiva de fortalecimento dos direitos humanos”. Neste ano, o enfoque recai sobre as relações entre saúde mental e democracia, tema que atravessa toda a programação, composta de atividades propostas pela própria comunidade da UFMG.

“Essa é uma relação que diz de muitas coisas. Antes de mais nada, diz que a saúde mental está no âmbito dos direitos; que, para pensar políticas de saúde mental, é importante haver processos participativos e democráticos; que, para que a saúde mental possa acontecer, é importante que seus processos se deem dentro de um marco de liberdade e de autonomia dos sujeitos”, explica a professora Claudia Mayorga, pró-reitora de Extensão da UFMG. “Diz, sobretudo, que a saúde mental, em termos de política pública, precisa do SUS (Sistema Único de Saúde) e de um SUS que seja forte; diz que ela precisa se articular com outras políticas públicas da democracia, como as dos Direitos Humanos.”

Claudia Mayorga:
Claudia Mayorga: mais democracia, mais saúde mentalFoto: Foca Lisboa | UFMG

Claudia Mayorga situa a temática no contexto dos últimos quatro anos de retrocessos vividos pelo país no campo da garantia de direitos. “Voltou a ideia manicomial, voltou a ideia de patologização dos sujeitos de sofrimento, voltou a ideia de atendimento em saúde mental que segue a lógica privada. Houve a desqualificação de experiências sociais que estavam, nos últimos tempos, conferindo o status de sujeitos de direitos a essas pessoas, o status de sujeitos reconhecidos como cidadãos. Nós sofremos muito com tantas violações de direitos”, demarca.

Professora do Departamento de Psicologia, Claudia Mayorga lembra que a democracia é um processo em construção contínua, que busca promover o cumprimento dos direitos, sempre em diálogo com a população. “De modo geral, esse é o pano de fundo de toda a reflexão da Semana”, demarca.

Liberdade, festa e alegria
Como de praxe, a programação vai culminar, no dia 18, no tradicional desfile em que se comemora – sempre em clima de liberdade, festa e alegria, para fazer frente aos retrocessos – o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. A concentração terá início às 13h30, na Praça da Liberdade, e a saída será às 15h. O cortejo vai descer a Avenida João Pinheiro e seguir pela Avenida Afonso Pena em direção à Praça da Estação, onde se dará a dispersão em torno das 17h. Toda a comunidade universitária está convidada a participar.

Na terça-feira, 16, a partir das 16h, será realizada oficina de produção de fantasias para o desfile na arena da Fafich. A atividade é aberta a qualquer interessado, como de resto ocorre com toda a programação. Nela, destacam-se também duas atividades culturais na Praça de Serviços: as apresentações da Banda Boa, da Apae de Itabirito, no dia 17, às 12h30, e da APAEtucada, da Apae de Belo Horizonte, no dia 18, às 17h30. As Apaes – associações de pais e amigos dos excepcionais – são organizações sociais sem fins econômicos formadas por pais e amigos de pessoas com deficiência. Elas são mantidas por meio da colaboração de pessoas, empresas e entidades da sociedade civil.

Programação
Haverá oficinas, aulas de ioga, debate sobre capacitismo, sessões de cinema seguidas de debates, uma vivência musicoterapêutica com foco em pessoas que têm ansiedade e um depoimento sobre as demandas dos autistas por inclusão no ambiente universitário. As datas, horas e locais das atividades podem ser consultadas no site do evento.

Destaque, ainda, para as rodas de conversa e mesas-redondas, que vão tratar, entre outros temas, dos casos de sofrimento mental no âmbito trabalhista docente, do caráter multidisciplinar do cuidado à saúde mental, das diferenças entre as experiências de cuidado nos contextos urbano e rural e das especificidades das questões psicossociais na população negra, na população indígena e na população feminina.

No dia 16, às 10h, também haverá, na Escola de Enfermagem, uma exposição de mantos confeccionados pelos usuários do Centro de Convivência Arthur Bispo do Rosário, que integra a Rede de Atenção Psicossocial de Belo Horizonte. Produzidos à moda das obras do artista, os mantos poderão ser vistos no desfile do dia 18. Durante a mostra, o visitante também poderá confeccionar, de forma colaborativa, um estandarte para ser levado para o desfile. O material será disponibilizado pela coordenação da atividade, que terá alunos da Universidade como facilitadores e monitores.

Por uma sociedade sem manicômios
Promovida desde 2013, a Semana de Saúde Mental e Inclusão Social é um evento organizado pela Rede de Saúde Mental da UFMG, ligada à Universidade dos Direitos Humanos (UDH) da Pró-reitoria de Extensão. A Semana é realizada em parceria com a Comissão Permanente de Saúde Mental da UFMG e conta com a participação e colaboração de movimentos sociais e usuários dos serviços públicos de saúde mental de Belo Horizonte e do estado.

De forma interdisciplinar, o evento aborda a temática da saúde mental com foco na reforma psiquiátrica e no Sistema Único de Saúde (SUS). Seu objetivo é promover troca de informações entre as estruturas envolvidas na oferta de serviços e na execução da política de saúde mental, incentivando o diálogo sobre o tema entre as comunidades interna e externa à UFMG.

Estudantes grafitam o muro da Face, no campus Pampulha, em edição anterior da Semana de Saúde Mental
Estudantes grafitam o muro da Face, no campus Pampulha, em edição anterior da Semana de Saúde Mental Foto: Júlia Duarte | UFMG

Ewerton Martins Ribeiro