Temperaturas extremas respondem por 6% das mortes em cidades da América Latina
Pesquisa com participação da Faculdade de Medicina analisou mais de 15 milhões de óbitos
As mudanças climáticas e a urbanização estão aumentando rapidamente a exposição humana a temperaturas ambientais extremas, com importantes impactos na mortalidade.
Estudo do Salud Urbana en América Latina (Salurbal), com participação da professora Waleska Teixeira Caiaffa, do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, analisou a relação entre as temperaturas altas ou baixas demais e a mortalidade em 326 cidades de nove países da América Latina. A pesquisa constatou que quase 6% de todas as mortes podem ser atribuídas às temperaturas extremas. Os dados foram publicados na revista Nature Medicine.
A pesquisa considerou dados sobre mortalidade nas cidades entre 2002 e 2015. Foram incluídos mais de 15 milhões de óbitos. Constatou-se que as temperaturas extremas assolam, especialmente, as populações mais vulneráveis e podem ser associadas com mortes por doenças cardiovasculares e respiratórias.
Segundo os pesquisadores, idosos e crianças são vítimas preferenciais. Em dias muito quentes, cada grau a mais na temperatura esteve relacionado ao aumento de 5,7% nas mortes. Além disso, mais de 10% das mortes por infecções respiratórias têm como causa o frio extremo.
“Nossas descobertas ressaltam a necessidade premente de as cidades se prepararem para as temperaturas extremas, cada vez mais frequentes e graves, previstas para as próximas décadas. Devemos agir para identificar as populações vulneráveis, adaptar a infraestrutura e melhorar nossa capacidade de responder prontamente às emergências que salvarão vidas”, alerta o epidemiologista Josiah Kephart, da Drexel Urban Health Collaborative, principal autor do estudo.
Efeito estufa e urbanização
As descobertas estão alinhadas com as evidências que apoiam a necessidade de uma mitigação drástica das emissões de gases de efeito estufa para evitar os efeitos mais graves das mudanças climáticas.
“A população da América Latina convive com enorme risco de exposição ao calor. No entanto, até agora poucos estudos documentaram as ligações entre temperaturas extremas e saúde na região. A maior exposição ao calor é apenas um dos muitos impactos adversos das mudanças climáticas na saúde”, acrescenta a professora Ana Diez Roux, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Drexel (EUA) e pesquisadora do Salurbal.
De acordo com Daniel Rodríguez, professor e pesquisador da equipe da UC Berkeley (EUA), que participou do projeto, as tendências demográficas na América Latina — incluindo o envelhecimento da população e a incessante procura pelas áreas urbanas — tornam ainda mais crítico o entendimento dos riscos à saúde pública representados pelas mudanças climáticas. “Precisamos buscar estratégias de adaptação próprias, conformadas ao contexto latino-americano”, aconselha.
Também são autores do estudo os pesquisadores Nelson Gouveia (USP), Brisa Sánchez, Jeffrey Moore e Leah Schinasi (Drexel); Maryia Bakhtsiyarava, Iryna Dronova e Yang Ju (Berkeley), e Saravanan Arunachalam (Universidade da Carolina do Norte, EUA).
O Salurbal é um projeto de investigação que se propõe a estudar como as políticas urbanas e o ambiente afetam a saúde dos habitantes das cidades do continente. Seus resultados servirão de referência para informar futuras políticas e intervenções capazes de tornar as cidades mais saudáveis, equitativas e sustentáveis em todo o mundo. A iniciativa é financiada pela instituição filantrópica Wellcome Trust, de apoio à pesquisa.